“Uruguai troca retórica por conciliação ao empossar Venezuela no Mercosul”, diz professora da USP

Após encontro com Serra, Uruguai decidiu que vai entregar o cargo à Maduro - Foto: Reprodução
Após encontro com Serra, Uruguai decidiu que vai entregar o cargo à Maduro – Foto: Reprodução

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o chanceler José Serra bem que tentaram convencer o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, a não transferir a presidência do Mercosul para a Venezuela. A Argentina chegou a se oferecer para ocupar o cargo, mas dois dias depois do pedido o Uruguai tomou a decisão de dar posse aos venezuelanos. Para Maria Antonieta Del Tedesco Lins, professora de relações internacionais da USP, a decisão “conciliadora” de Vázquez tira as negociações do campo da retórica e a reconduz para a “institucionalidade”.

A deliberação uruguaia contrariou as expectativas brasileira e argentina, especialmente porque foi divulgada antes do prazo pedido pelo chanceler, que solicitou uma reunião com outros ministros de relações exteriores para a próxima segunda-feira (11). Segundo a professora, a ação do brasileiro foi “midiática”, tentou atrair a atenção para a crise venezuelana talvez para encobrir a forma polêmica com que Michel Temer assumiu o poder no Brasil.

Embora discreto, o atual governo uruguaio não é simpático à gestão interina no País. Para a especialista, a decisão do país vizinho buscou por fim à retórica de brasileiros e argentinos em favor de uma postura diplomática, de respeito às instituições. “O Uruguai, com uma posição neutra, conciliadora, volta para esse lado da institucionalidade, que eu acho bom”, disse.

Embora discorde, Lins entende a sanha de brasileiros e argentinos conservadores de avançarem sobre a esquerda latino-americana, em baixa depois de uma década em ascensão. “É estranho que os governos [conservadores] se contraponham à esquerda dos outros países. Ficam batendo o pé dizendo que são diferentes. É retórico, não tem sentido porque ninguém está fazendo nada de tão diferente, com exceção do Macri”, disse. “Esse assunto não é uma brincadeira do tipo ‘ganhei a partida, vou pegar a bola e você não joga mais’.”

A professora chama atenção para a grave situação vivida pela Venezuela. “Aquele é o pior dos mundos. Não acho que o Uruguai queira defender a Venezuela, mas garantir que a legalidade do Mercosul.”


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