Bíblia do esporte prevê 20 medalhas para o Brasil na Rio-2016

ARGOLAS arthur Zanetti, campeão olímpico em Londres 2012 e ouro na Copa do Mundo de ginástica Artística deste ano -  Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas
ARGOLAS arthur Zanetti, campeão olímpico em Londres 2012 e ouro na Copa do Mundo de ginástica Artística deste ano –
Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Nos anos olímpicos, a revista americana Sports Illustrated, bíblia mundial do desporto, coloca no mercado uma de suas edições especiais mais benfeitas e aguardadas: a Olympic Preview. A publicação traz um trabalho de apuração, com centenas de jornalistas, técnicos, treinadores, atletas, professores, jornalistas, dirigentes e especialistas de todo o mundo, absolutamente admirável pelo detalhamento, com estimativas de medalhas de ouro, prata e bronze para todos os países com presença confirmada nos Jogos.

Na edição sobre a Rio 2016, a SI aposta que os atletas brasileiros subirão 20 vezes ao pódio em casa. Seis medalhas douradas, quatro prateadas e dez bronzeadas. Seria o melhor desempenho do Brasil na história olímpica, mas insuficiente para cumprir a meta definida no Plano Brasil Medalhas, lançado em setembro de 2012 pela presidenta Dilma Rousseff e o ex-ministro do Esporte Aldo Rebelo e adotado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O plano define como objetivo do Time Brasil encerrar os jogos entre os dez primeiros países na Olimpíada e entre os cinco na Paralimpíada. Será tarefa dura.

“A americana Sports Illustrated aposta que os brasileiros subirão 20 vezes ao pódio para receber seis ouros, quatro pratas e dez bronzes”

Ainda que ganhe essas 20 medalhas, o Brasil terminaria distante da meta. Se compararmos os quadros dos últimos quatro Jogos Olímpicos, com as mesmas 20 medalhas, o País teria encerrado Sydney 2000 e Londres 2012 em 15º lugar, Pequim 2008 em 13º e Atenas 2004 na 16a colocação. Mas, afinal, quais são os brasileiros em quem os brasileiros e o mundo apostam em 2016?

A SI permite-se arriscar qual medalha cada atleta ou grupo vai ganhar. No caso do Brasil, as apostas são as seguintes: ouro para Erlon Souza e Isaquias Queiroz (canoagem velocidade C2 1.000 m), Martine Grael e Kahena Kunze (vela 49erFX), o futebol masculino, o vôlei masculino, Alison e Bruno (vôlei de praia masculino) e Talita e Larissa (vôlei de praia feminino). As prateadas iriam para Arthur Zanetti (ginástica artística – argolas), Mayra Aguiar (judô – 78 kg), Felipe Wu (tiro – pistola de 10 m) e Pedro e Evandro (vôlei de praia, que faria dobradinha na final da modalidade com Alison e Bruno).

Os dez bronzes parariam no peito de Robson Conceição (boxe – 60 kg), Victor Penalber (judô – 81 kg), Sarah Menezes (judô – 48 kg), Érica Miranda (judô – 52 kg), João Gomes Júnior (natação – 100 m peito), do futebol feminino, do vôlei feminino, de Ana Marcela Cunha (maratona aquática), de Ágatha e Bárbara (vôlei de praia) e de Aline Silva (luta – 75 kg).

Na ambição de exibir precisão à altura do respeito editorial conquistado em seus 62 anos de existência, a SI, apesar da seriedade, acaba mais por dar, no caso dos Jogos Olímpicos, palpite baseado em informações do que fazer apostas ousadas. Para ficar apenas no caso brasileiro, nada de concreto e objetivo contribui para afirmar, por exemplo, que o ginasta Arthur Zanetti está menos preparado agora para conquistar o ouro do que há quatro anos, quando surpreendeu o mundo ao subir no alto do pódio. Surgiram, é verdade, adversários fortíssimos nos últimos quatro anos. Mas o brasileiro, perfeccionista, também evoluiu – e em pontos em que teria supostamente atingido o auge. “Todo atleta está sujeito a adversidades, mas Arthur está no ponto alto de seu potencial físico, técnico e psicológico”, avalia Marcos Goto, técnico do ginasta. “Não vejo condições objetivas de colocá-lo atrás de seus concorrentes. Só especulação permitiria isso.”   

Fica igualmente difícil identificar a base analítica concreta que leva à aposta tão peremptória da revista de que a judoca Sarah Menezes (48 kg), ouro em Londres 2012 e ainda uma das atletas mais dedicadas, em forma e bem treinadas do judô brasileiro e mundial na atualidade, não possui condição de chegar novamente à final na mesma categoria – e dessa vez em seu país. Ou crer que o céu para o vôlei feminino, liderado por José Roberto Guimarães, único campeão olímpico da modalidade com homens e mulheres e um dos maiores técnicos papa-títulos desse esporte no mundo, seja a medalha de bronze. E até para que os questionamentos não se prendam a situações negativas para o Brasil, a SI causou alguma surpresa ao cravar, com naturalidade surpreendente, a medalha de ouro para a forte dupla de canoístas de velocidade Erlon Souza e Isaquias Queiroz. E também a de prata para o concentrado e dedicado Felipe Wu no tiro de pistola.

“O Brasil jamais esteve tão próximo da inédita e sonhada medalha de ouro no futebol. A CBF tenta fazer o impossível para essa conquista”

Com uma ou outra aposta, os nomes das listas da SI ou de qualquer outra, desde que feita com pesquisa, conhecimento e bom senso, serão os mesmos. O que pode mudar é a posição ou, na hipótese ruim, a ausência do pódio por algum problema de última hora. Com um pouco mais de otimismo, os iatistas Robert Scheidt e Ricardo Winicki, o Bimba, o atirador com arco Marcus Vinicius D’Almeida, o handebol feminino, os nadadores Thiago Pereira e Bruno Fratus (que desbancou ninguém menos do que Cesar Cielo nas seletivas), o restante da equipe de judô e a dupla Bruno Soares e Marcelo Melo, no tênis de quadra, têm chance de produzir alguma boa notícia. E também a saltadora com vara Fabiana Murer, sobretudo agora que, ao que tudo indica, não terá a concorrência da russa Yelena Isinbayeva, sua amiga e melhor atleta do mundo na modalidade.

O Plano Brasil Medalhas 2016 investiu recursos para formar novas gerações de atletas. Além dos projetos de alto rendimento, garantiu R$ 1 bilhão aos esportes olímpicos e paralímpicos na preparação para a Rio 2016. Uma parte desse total (R$ 328 milhões) seguiu para seleções, projeto Bolsa Pódio, contratação de técnicos, equipes multidisciplinares, compra de equipamentos e materiais e viagens para treinamentos e competições. E R$ 452,2 milhões foram para construção, reforma e montagem de centros de treinamento de várias modalidades e complexos multiesportivos. O investimento foi pesado. Que as contrapartidas – o top ten e depois o top five – venham sem maiores traumas e sofrimentos.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.