Só um centro esportivo do Brasil tem nível internacional, diz pesquisa

Velódromo da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Velódromo da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Apesar dos R$ 37,5 bilhões investidos na realização da Olimpíada de 2016, só um centro de treinamento esportivo (CT) de alto rendimento do país se enquadra nos padrões de excelência internacional. A avaliação consta da dissertação de mestrado da educadora física Mariana Antonelli (Diagnóstico dos centros de treinamento de alto rendimento do Brasil cujas modalidades atendidas têm expectativa de conquista de medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016), defendida em 22 de março deste ano na Unicamp.

Segundo Antonelli, apenas o Centro de Desenvolvimento do Voleibol Brasileiro em Saquarema (RJ) está de acordo com os padrões internacionais de excelência. O  Centro de Treinamento de Canoagem Slalom, em Foz do Iguaçu (PR), também é bastante completo. Os demais sete centros avaliados (judô, boxe, natação, atletismo, handebol, vôlei de praia e ginástica artística), contudo, situam-se num patamar inferior.

Às vezes faltam equipamentos de qualidade, acarretando condições precárias de treino, ou manutenção adequada das instalações. Ela constatou a carência de importantes serviços de apoio, a inexistência de planejamento a longo prazo e a falta de interlocução entre o esporte de alto rendimento, o esporte de base e a iniciação esportiva.

A educadora ressalta que o objetivo de sua dissertação não é condenar a infraestutura hoje oferecida aos atletas no País, mas propor medidas para seu aprimoramento. Em países como os Estados Unidos, a França e a Espanha existem “requisitos mínimos bem definidos para considerar ou criar centros de alto rendimento de excelência”. O grande problema do Brasil, segundo Antonelli, é que “não existe hoje no País uma norma que padronize os centros de treinamento. Não há uma política pública no Brasil que regule a construção e o funcionamento desses centros”. Sem essas normas, não há como orientar a construção e depois fiscalizar a eficiência dos investimentos realizados nesses centros.

Em alguns casos, os equipamentos esportivos oferecidos são bons, mas faltam serviços de apoio essenciais (médico, fisioterápico, nutricional, psicológico, educacional, científico). Por exemplo, o CDV (Centro de Desenvolvimento do Voleibol) é o único a ter um Centro Educacional do Sesi. Como os atletas das seleções passam muitos meses treinando no CDV, eles teriam seus estudos prejudicados se o centro não oferecesse uma estrutura capaz de compensar o tempo perdido em suas instituições educacionais. 

A boa estrutura oferecida pelo centro de Saquarema constitui provavelmente um dos fatores que explicam o bom rendimento dos atletas do vôlei: “No caso do vôlei”, diz Antonelli, “há professores regulares que dão aulas lá em Saquarema”. Ela ressalta que “em Foz de Iguaçu existe uma parceria com escolas próximas”. Não é o ideal, mas ajuda.

A falta de normas claras para orientar a construção e o funcionamento desses centros prejudica muito o desempenho do Brasil nas competições internacionais. Sem esta política, “o esporte de alto rendimento infelizmente se mantém de um modo voluntarista, com esforço de atletas, técnicos e familiares”, diz a pesquisadora. 

O que um centro de excelência deveria oferecer? Ele deveria ter infraestrutura física e equipamentos condizentes com as necessidades das modalidades; uma equipe multidisciplinar com médicos, psicólogos, nutricionistas, treinadores, fisioterapeutas, administrador e gestor, capaz de oferecer apoio aos atletas em período integral, e recursos para que os atletas se mantenham estudando mesmo em períodos de treinamento. Os centros também deveriam permitir que atletas da base e de alto rendimento convivam em ambientes de treinamento, para que os primeiros sejam motivados a seguir na modalidade por estarem próximos de seus ídolos.

As normas espanholas, por exemplo, destacam que os centros também precisam oferecer alojamentos localizados em áreas silenciosas, próximas dos espaços esportivos, possuir áreas de estudo e de convivência e departamentos científicos e de investigação que ajudem tanto os treinadores como os esportistas nos seus objetivos de rendimento.

Esse “diálogo” entre o esporte de base e o de alto rendimento é essencial para motivar as futuras gerações de atletas. No caso do Brasil, contudo, não existem normas sobre a ocupação desses centros: “Não se sabe quem pode treinar lá. O uso desses espaços é feito de uma forma assistemática. Alguns são aceitos para treinar, outros não”.

Mariana pretende ampliar a sua pesquisa no doutorado: “Existem outros centros que ainda estão ficando prontos e que eu gostaria de visitar”. O objetivo é conhecer esses centros e, após os resultados do Brasil nos Jogos Olímpicos, avaliar em que medida o local de treinamento e a infraestrutura contribuíram ou não para as conquistas obtidas.


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