Brasília parece uma cidade-fantasma

Foto: Reprodução/Twitter/@RitaMell
Foto: Reprodução/Twitter/@RitaMell

O fechamento da Esplanada dos Ministérios, desde a rodoviária, junto ao chamado Eixão, que corta o Plano Piloto de ponta a ponta, em longos 16 quilômetros, até depois do Congresso, do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e da Praça dos Três Poderes, transformou a paisagem mais conhecida da capital federal. Em vez do trânsito intenso de veículos e pessoas indo de um lado para outro, buscando os ministérios, a cidade se transformou em um imenso vazio, aguardando as multidões esperadas para sábado e, principalmente no domingo, dia da votação do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados.

 E quando se fala em fechamento da Esplanada, não se está a referir apenas à polêmica cerca metálica que pretende separar os manifestantes contra e a favor do impedimento. Para começar, nenhum carro ou veículo de transporte coletivo pode circular, desde a madrugada de hoje, nas pistas com seis faixas de cada lado que compõem o Eixo Monumental, conhecidas como vias S-1 e N-1. O acesso aos ministérios, pela Esplanada, somente pode ser feito à pé, com os carros circulando pela vias paralelas, chamdas de N-2 e S-2, e que correm por trás dos prédios tão conhecidos visualmente dos brasileiros. No Congresso, o acesso é ainda mais restrito. Na Câmara, palco principal dos debates e discursos a partir de hoje, somente entram os funcionários e os jornalistas com credenciamento especial.

O acesso a pé é feito apenas pela entrada lateral na Via S-2, que leva aos anexos do Legislativo. O Senado, sem sessões, limitou o acesso a sua instalações aos senadores e funcionários, com algumas exceções para a imprensa. Mas, mesmo para os  jornalistas credenciados no Senado, o acesso à Camara pelo Salão Verde só foi permitido a quem tivesse uma credencial especial.

 O Supremo, envolvido nesse cenário, também ficou com o acesso limitado à Via S-2, pelos fundos do prédio principal e de seus anexos. Mas, sem sessões, encerradas na noite de quinta-feira e começo da madrugada de hoje com um tour de force que decidiu sobre uma série de de pedidos de liminar e mandatos de segurança contra detalhes da votação prevista para domingo e o próprio andamento da tramitação da discussão do impeachment, o bloqueio teve pouco efeito prático.

 Já o Palácio do Planalto teve seu isolamento ainda mais evidente porque a pista fronteira, em mão dupla, foi fechada de ponta a ponta. Como nos ministérios, somente é possível o acesso pela via N-2, o que significa que, quem pretender ir ao Planalto para reuniões, terá de usar a entrada da garagem. A pé, a dificuldade é descobrir como cruzar a Praça dos Três Poderes ou as avenidas vazias porque, com os bloqueios, ninguém pode circular pelos caminhos mais curtos entre os prédios-monumentos de Oscar Niemeyer.

Na verdade, se nesta sexta-feira o centro nervoso de Brasília já se assemelha a uma cidade fantasma castigada pelo Sol e pelo começo da seca, amanhã qualquer impressão de vida será dada pelos manifestantes e pela pletora de policiais, bombeiros e seguranças convocados para manter a ordem e, espera-se, evitar conflitos. Quem perdeu mesmo com tudo isso foram os turistas que frequentam Brasília e tem como ponto alto visitar o Itamaraty, o Congresso e, last but not least, o Palácio do Planalto: todas as visitas a prédios, palácios e monumentos estão suspensas até segunda-feira. Para evitar qualquer problema tudo, na prática, está proibido na parte central de Brasília. Domingo nem os shoppings próximos ficarão abertos, por medida de segurança, diante da expectativa de dezenas de milhares de manifestantes na cidade e na Esplanada. Mais ainda, todo o esquema de bloqueio do trânsito deverá ser mantido até a madrugada de segunda-feira. Como ninguém pode prever como ficarão os ânimos após o resultado da votação, seguro morreu de velho e todo mundo terá de deixar a Esplanada a pé.


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