Sobrou para todo mundo. Primeiro senador da República a ser preso acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato, Delcídio do Amaral abriu a boca. Sua delação premiada cita nada menos do que 74 pessoas, dos quais 37 são políticos. O problema será provar.
Com o acolhimento da denúncia por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira (15), a Procuradoria-Geral da República já pode avaliar se vai pedir investigações da presidenta Dilma Rousseff, do vice-presidente Michel Temer, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do senador Aécio Neves (PSDB-MG), todos citados na delação.
Embora o conteúdo seja bombástico e tenha estampado todas as manchetes, a maior parte das declarações do senador, que ontem pediu a desfiliação do PT, não pode ser provada por se tratarem de relatos de conversas pessoais, como o seu suposto encontro com a presidenta no jardim do Palácio da Alvorada, residência oficial de Dilma.
Embora seja difícil provar qualquer uma das acusações, o estrago está feito. Como a imprensa não vem se preocupando em publicar provas, mas se contenta apenas em divulgar os vazamentos de delações de corruptos e corruptores confessos, o clamor por justiça ganha as ruas e os plenários no Congresso.
Pode ser verdade que Dilma tenha mandando seu então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (hoje Advogado-Geral da União) tirar da cadeia os réus da Lava Jato, ou pode ser apenas a ilação de um político que se sentiu abandonado pelo partido quando preso pela Polícia Federal.
Também não se sabe se há o dedo do vice-presidente Michel Temer na atuação fraudulenta de João Augusto Henriques e Jorge Zelada – ambos presos pela Lava Jato – na Petrobras. Nem mesmo as acusações que atingem Aécio, que receberia propina em Furnas, podem ser provadas.
Mas para boa parte da imprensa, para o mercado financeiro – que oscila a cada nova delação – e para a oposição nada disso importa: que as possíveis ilações sejam simplesmente tratadas como prova.
Deixe um comentário