Harry Potter e a camisa velha da CBD

O senador e
O senador Randolfe Rodrigues, candidato do PSOL a presidente/ Foto: Luiza Sigulem

Candidato do PSOL a presidente, o senador Randolfe Rodrigues se prepara para assistir aos jogos do Brasil com uma camisa criada em 1962 pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD). “Eu me recuso a usar a camisa da CBF”, diz, referindo-se à Confederação Brasileira de Futebol. Aos 41 anos, o político do Amapá chegou ao Senado em fevereiro de 2011e surpreendeu logo no primeiro dia, ao lançar-se candidato à presidência da Casa, contra o senador José Sarney (PMDB-AP). Não por acaso, ganhou na época o apelido de Harry Potter, o personagem da série criada pela escritora britânica J.K. Rowling.  

Brasileiros – O senhor é apaixonado por futebol e, ao mesmo tempo, um perna de pau confesso. Como vai acompanhar a Copa?
Randolfe Rodrigues Na hora do jogo eu vou estar com a camisa da seleção. Não vou usar a camisa da CBF porque eu me recuso a vestir camisa de uma entidade corrupta, dirigida por uma cara que é um fiapo da ditadura civil-militar. Não sei como é que a presidente da República vai sentar ao lado de um cara que é representante do que teve de pior da ditadura.  O senhor Zé Maria “não sei das quantas” é o algoz de Vladimir Herzog.

Qual camisa vai usar?
Comprei um modelo retrô, da CBD, a Confederação Brasileira de Desportos, para a Copa de 1962. Eu me recuso a usar a camisa da CBF enquanto ela for dirigida por gente com ficha corrida que mais parece o Código Penal. Esses filhotes da ditadura são eleitos pelas federações, por dirigentes que não têm biografia. O presidente da federação do meu Estado (Amapá) é frequentador das celas da Polícia Federal, por corrupção. Ele é um estudo de caso.

Quem é ele?
É o Roberto Góes, ex-prefeito de Macapá. É essa turma que dirige o futebol nacional. Uma vergonha completa.

Durante a Copa, onde o senhor vai estar?
Vou reunir os amigos e assistir da minha televisão. Vou torcer pelo Brasil, embora tenha alguns que legitimamente não queiram nem torcer pelo Brasil. Tem alguns que são fãs daquela música “Desculpe, Neymar”. Mas eu vou vestir a camisa da CBD e vou torcer pela seleção. Espero que até o último jogo da seleção. Não vou frequentar os estádios. Eu preferia a versão mais romântica e bela do Maracanã. O que fizeram com o Maracanã foi uma violência. Acabaram com a geral, palco onde o povo se reunia. Mas, enfim, espero que tenha as duas coisas: os jogos da Copa e as manifestações. E que elas sejam pacíficas.

Pelé com a camisa da CBD
Pelé com o modelo de camisa da época da CBD

E a sua candidatura? Nas últimas eleições presidenciais, o candidato do PSOL obteve apenas 0,87% dos votos. Sua candidatura é para valer?
Com certeza. Na verdade, tenho o grande desafio de ser o terceiro candidato presidencial pelo PSOL. Tivemos antes a Heloísa Helena e o Plínio de Arruda Sampaio. O Brasil teria uma lacuna enorme se o nosso partido não existisse nesses últimos dez anos. Alguns me provocam dizendo que somos o PT do passado.

Como são?
Não temos nenhuma pretensão de ser o PT do passado. Gosto muito de uma música do Lulu Santos que diz: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará”.” O PT teve um momento histórico, nasceu em um período de ascensão das lutas sociais. O PSOL nasceu em outro momento, quando vários companheiros que estavam no PT se desiludiram com o caminho que o partido adotou e buscaram um abrigo para reconstruir uma alternativa de esquerda socialista para o Brasil. Esse caminho tem imperfeições, tem dificuldades, mas tem tido muitos acertos.

Por exemplo?
Se não fosse o PSOL, quem teria representado no Senado contra um senador que se envolveu com os negócios da empreiteira Delta e com Carlinhos Cachoeira? Se não fosse o PSOL, quem é que teria disputado a presidência do Senado contra o senador José Sarney no primeiro dia do mandato? Se não fosse o PSOL, quem é que teria enfrentado o Marco Feliciano, na Comissão de Direitos Humanos, como fez o nosso companheiro Jean Wyllys?

E nas eleições presidenciais, o que sua candidatura pode representar?
Queremos representar esse acúmulo de dez anos e, em especial, do último ano. Houve um amadurecimento da democracia. Cinquenta anos atrás, bastou um comício na Central do Brasil para, dias depois, acontecer um golpe militar. Fiquei muito feliz no ano passado quando, entre os que protestaram nas ruas, estava um garoto de 19 anos chamado Gabriel, meu filho. 


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