Ainda de madrugada, o deputado Rubens Paiva, do PTB de São Paulo, ocupou o microfone da Rádio Nacional, que integrava a Cadeia da Legalidade, formada por emissoras favoráveis ao governo João Goulart. No estúdio da rádio, no Rio de Janeiro, o deputado falou por mais de quatro minutos. “O presidente João Goulart, em suas reformas, visa a tão somente dar ao povo brasileiro uma participação na riqueza deste País”.
Com o golpe em andamento, Rubens Paiva conclamou a população a resistir: “É indispensável que o presidente e o governo contem com toda a mobilização da opinião pública, todos os trabalhadores, todos os estudantes, os intelectuais e o povo em geral para que, pacífica e ordeiramente, digam um ‘não’ e um ‘basta’ a esses golpista que pretendem, cada vez mais, prestigiar uma pequena minoria privilegiada”.
Assim que o dia amanheceu, missas começaram a ser celebradas em todo o Brasil, pedindo que “a ameaça comunista” fosse afastada para sempre. No Rio de Janeiro, a Rádio Nacional continuou suas transmissões até as 14 horas, quando foi invadida por militares e tirada do ar.
Naquele momento, o golpe civil-militar fazia as suas duas primeiras vítimas, no centro de Recife. Foi quando um grupo com cerca de 150 estudantes, antes reunidos na Escola de Engenharia, caminhava em passeata em direção ao Palácio do Campo das Princesas, onde o governador Miguel Arraes tinha sido preso.
Na avenida Dantas Barreto, tropas do Exército fizeram uma barreira e dispararam contra os estudantes. Ivan da Rocha Aguiar, 23 anos, estudante de Engenharia, e Jonas José de Albuquerque Barros, 17 anos, secundarista, foram atingidos. Ivan morreu com um tiro nas costas. Jonas recebeu um tiro fatal no rosto.
Na região do rio Paraíba do Sul, entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro, o coronel legalista Rui Moreira Lima, sobrevoou com um pequeno avião as tropas do general Mourão Filho, ainda na estrada. Os soldados se assustaram, correndo para todos os lados. Piloto de caça e herói da II Guerra Mundial, o coronel pediu autorização “para bombardear as posições”. Não conseguiu.
No Palácio Laranjeiras, a ordem deixada por João Goulart, antes de embarcar para Brasília, era para não resistir. Ele acreditava que ainda poderia negociar. Quando o presidente deixou o Rio de Janeiro, por volta das 13 horas, o Forte de Copacabana tinha sido tomado pelos golpistas. Horas mais tarde, o prédio da UNE, a União Nacional dos Estudantes, na Praia do Flamengo, começou a arder em chamas.
Vestindo um casaco de couro e com arma na mão, o governador Carlos Lacerda passou o dia entrincheirado no Palácio Guanabara, de onde disparava bravatas contra o almirante Cândido Aragão, que planejara prendê-lo, mas foi impedido pela ordem do presidente. “Aragão, covarde, incestuoso, venha decidir comigo essa parada! Quero matá-lo com o meu revólver”, provocava Carlos Lacerda.
Às 16 horas, os tanques que protegiam o Palácio Laranjeiras foram deslocados para o Palácio Guanabara. O golpe civil-militar estava consolidado. Era 1º de abril, dia da mentira. Nas horas seguintes, líderes políticos ligados a João Goulart começaram a ser presos no Rio de Janeiro. Em Brasília, às 23h30, o presidente voou para Porto Alegre, onde ainda contava com o apoio das tropas do III Exército.
Ouça o discurso do deputado Rubens Paiva na Rádio Nacional, no Rio de Janeiro, na madrugada do dia 1º de abril:
Deixe um comentário