O fato que mais chama a atenção na última pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha sobre a campanha eleitoral para a prefeitura paulistana é o elevado percentual de votos brancos e nulos: No cenário sem Celso Russomanno (PRB), que pode ser impedido pela Justiça de concorrer, os brancos e nulos lideram com 25%, seguidos de Marta Suplicy (PMDB), com 21%, Luiza Erundina (PSOL), com 13%, e Fernando Haddad (PT), com 11%. No cenário com Russomanno, os brancos e nulos aparecem em segundo lugar, com 19%, logo atrás de Russomanno (25%) e à frente de Marta (16%), Erundina (10%) e Haddad (8%).
Para Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas do Datafolha, esse é um sintoma claro de uma crise na representação política, que pode ser atribuído à recessão econômica e aos escândalos políticos: “Desde a redemocratização, nunca se viu nas eleições municipais da capital taxas tão elevadas de paulistanos declarando intenção de voto branco e nulo no período correspondente, a cerca de três meses da eleição”. Outro sinal da crise de representação está no grande percentual de eleitores que rejeitam todos os candidatos: ele soma agora 8%, superior ao registrado nos pleitos de 2012 (6%), 2008 (3%) e 2004 (3%).
Um outro fenômeno desta eleição é o descolamento dos candidatos de esquerda de suas bases tradicionais. O prefeito Fernando Haddad tem hoje apenas 7% dos votos entre os eleitores com renda familiar de até 2 salários mínimos, que constituía o principal reduto eleitoral do partido na capital paulista. Ao mesmo tempo, ele alcança 16% dos votos entre os eleitores com renda superior a 10 salários, um índice só obtido pelo candidato do PSDB, João Doria. Mas não é apenas Haddad que destoa do perfil tradicional da esquerda: as intenções de voto na ex-prefeita Erundina também aumentam de acordo com a renda do eleitorado: ela tem 9% entre os eleitores mais pobres, e chega a 15% no mais elevado.
O bom desempenho de Haddad entre os estratos mais ricos e escolarizados, contudo, não é suficiente para compensar a perda dos eleitores tradicionais do PT: ao todo, o prefeito só atrai 34% dos votos dos simpatizantes do PT (11%) na cidade. Nesta eleição, paradoxalmente, Haddad tem muito mais votos na região central (19%) do que na periferia (apenas 5% dos votos na zona leste, 9% na zona sul). Embora suas iniciativas mais conhecidas (como as ciclovias e o fechamento da av. Paulista) sejam em geral bem aprovadas, elas só têm carreado votos no eleitorado mais escolarizado.
Esse descompasso entre a aprovação dos programas da prefeitura e a intenção de voto poderia ser desfeito com a propaganda na TV, que é o momento em que essas informações chegam com força às camadas menos informadas. O problema é que a campanha deste ano será muito curta: a propaganda dos candidatos no rádio e na TV terá início em 26 de agosto, 37 dias antes da eleição. É pouco tempo.
Russomanno corre um sério risco de ter sua candidatura barrada, já que a Procuradoria-Geral da República deu parecer favorável à sua condenação por peculato. Os candidatos do PT e do PSDB, por sua vez, terão o maior tempo na TV, mas enfrentam grandes dificuldades: o primeiro precisa divulgar seus programas e diminuir a sua rejeição (45%), enquanto o segundo precisa se tornar conhecido. As eleições paulistanas, porém, são sempre decididas na reta final. Basta lembrar que, em pelo menos quatro eleições, todos os vencedores tinham índices muito baixos no início das campanhas: Erundina em 1988, Celso Pitta em 1996, Gilberto Kassab em 2008 e o próprio Haddad em 2012.
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