Aumento de casos graves de tuberculose preocupa, diz estudo

O agente causador da tuberculose, o... que se mostra cada vez mais resistente a antibióticos. Foto: CCO / Public Domain
O bacilo de Koch, causador da tuberculose, pode se tornar mulirresistente a diversos antibióticos, o que dificulta o tratamento.  Foto: CCO / Public Domain

Ainda que o número de novos casos de tuberculose tenha diminuído um pouco na última década em alguns países, esse ganho está ameaçado pelo crescimento dos casos da forma multirresistentes da doença. O alerta foi feito por um relatório publicado online esta semana pela revista The Lancet Respiratory Medicine. Na sexta-feira, 24 de março, comemora-se o Dia Mundial da Tuberculose. 

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e transmissível, provocada pelo microorganismo Mycobacterium tuberculosis, também chamado de bacilo de Koch. Atinge prioritariamente os pulmões, mas pode ocorrer em quase todos os tecidos do corpo. Profundamente ligada à desigualdade social, a enfermidade permanece fora de controle em várias partes do mundo, como Ásia e África e em áreas do Brasil. O surgimento da Aids, que diminui a imunidade e facilita a infecção, e de focos de tuberculose resistente aos medicamentos agravam ainda mais esse cenário. 

Segundo o novo estudo, um em cinco pacientes possui uma cepa da bactéria que adquiriu resistência aos efeitos dos medicamentos de primeira linha (os primeiros a serem receitados de acordo com os protocolos para tratamento) indicados para combater a infecção. O relatório informa ainda que cerca de 5% dos casos são resistentes a dois medicamentos essenciais de primeira linha para tratar a tuberculose, como a isoniazida, rifampicina e a fluoroquinolonas, e também à segunda linha drogas injetáveis. 

As duas circunstâncias estão associadas a maiores taxas de mortalidade e implicam em custos mais elevados para o tratamento. Configuram, portanto, um sério problema de saúde pública.

“A resistência aos medicamentos contra a tuberculose é um problema global que ameaça inviabilizar os esforços para erradicar a doença”, afirma o principal autor do estudo, o professor Keertan Dheda, Universidade de Cape Town, na África do Sul. “Mesmo quando os remédios funcionam, a tuberculose é difícil de curar e requer meses de tratamento com um coquetel de drogas”, observa o pesquisador.  Se houver resistência ao tratamento, a regressão da doença pode demorar anos para ser alcançada.

Para intensificar o combate, o novo estudo sugere alguns caminhos. Um deles é a melhora do acesso a testes diagnósticos para oferecer os remédios que efetivamente poderão funcionar para cada indivíduo. Recomenda também a disseminação de prescrições claras sobre o uso adequado dos remédios e, por fim, a prevenção da transmissão. Evidentemente, essas medidas estão associadas a um bom funcionamento dos sistemas de saúde.

 Campeã em vidas perdidas 

Por ano, a tuberculose ainda mata mais pessoas do que qualquer outra doença infecciosa, incluindo HIV/AIDS

Em 2015, estima-se que a doença possa ter roubado a vida de 1,8 milhões de pessoas

Seis países são responsáveis ​​por 60% do número total de casos de tuberculose – Índia, Indonésia, China, Nigéria, Paquistão e África do Sul.

 

Como surgem as bactérias multirresistentes?

As bactérias causadoras da tuberculose e outras doenças infecciosas se tornam resistentes aos medicamentos ao sofrerem mutações genéticas.  Como isso ocorre? Os microorganismos podem adquirir características de resistência a drogas ao longo do tempo. A mudança pode ser resultado de um tratamento inadequado ou transmitida de uma bactéria para outra. Em relação aos remédios, já se sabe que abusos e erros no uso dos antibióticos levaram ao aumento dos microorganismos resistentes aos medicamentos. 

“No Brasil e no mundo, temos um número crescente de casos resistentes. A principal causa é a interrupção precoce do uso do remédio”, diz o pneumologista Daniel Deheinzelin, professor livre-docente da Universidade de São Paulo e da pós-graduação do Hospital Sírio-Libanês.

Os especialistas também estão descobrindo que há mais formas de disseminação dos microorganismos do que se imaginava. Até pouco tempo, por exemplo, pensava-se que as cepas resistentes de tuberculose fossem adquiridas, principalmente, por pessoas com baixa adesão ao tratamento. Mas o que os estudos moleculares das bactérias e epidemiológicos mais recentes têm desafiado essa crença. Agora, na maioria das regiões onde avança, a tuberculose resistente a medicamentos é, predominantemente, decorrente da transmissão entre pessoas, informa o relatório publicado pela The Lancet Respiratory Medicine. Segundo o artigo, por volta de 95,9% dos novos casos do tipo multirresistente da doença estão relacionados a essa forma de contágio.

As taxas de cura das formas resistentes ainda são baixas e os medicamentos disponíveis ainda possuem efeitos colaterais desagradáveis ​​que, por vezes, são graves. A permanência da infecção no organismo implica no risco de propagação da infecção.

Testes melhores para fazer o diagnóstico são esperados. “No entanto, precisamos de grandes esforços para aumentar a sua exatidão, usando-os na busca ativa de casos nas comunidades, e torná-los disponíveis em países de baixa renda, de modo a informar as decisões de tratamento e preservar a eficácia de novas drogas antibióticas para tuberculose”, alerta Dedha, da Universidade de Cape Town.


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