Mesmo depois de uma semana desde o último jogo da Copa do Mundo em São Paulo – entre Argentina e Holanda, pelas semifinais, na quarta-feira (9) – e no dia seguinte ao título da Alemanha, no domingo (13) no Rio de Janeiro, as ruas da Vila Madalena ainda não tiraram a roupa da festa usada durante o torneio de futebol. Nos postes, faixas instaladas pela prefeitura alertam para a lavagem diária das ladeiras e pede, em português e inglês, que não se jogue lixo na rua, os bloqueios usados pela CET para fechar caminhos e orientar o trânsito ainda estão esquecidos nas calçadas e são apropriados pelos moradores para pequenos usos e os comerciantes continuam limpando os salões dos bares, restaurantes e baladas do bairro que ficaram lotados durante os 31 dias da Copa. “Hoje é como se fosse aquela manhã seguinte a uma noitada, em uma completa ressaca”, brinca o gerente de um dos estabelecimentos visitados por Brasileiros nesta segunda (14). A dor de cabeça, no entanto, vai além do que os dias de boêmia proporcionaram: segundo a maioria dos gerentes de bares ouvidos pela reportagem, o Mundial que terminou deixa prejuízos, danos estruturais e uma imagem ruim da Vila.
Não há um balanço oficial, mas os responsáveis por alguns estabelecimentos da região estimam perdas de 30% de faturamento no período da Copa. O número é o mesmo que diz, extraoficialmente, a Associação de Gastronomia, Arte e Cultura da Vila Madalena (AGEAC), que organiza a relação entre os bares do bairro, mas é contestado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, que acredita em um ganho de quase 100% destes locais no último mês. Há, no entanto, certo desequilíbrio no mapa do lucro: o Bar do Juarez, por exemplo, distante do miolo da Vila Madalena e mais próximo de Pinheiros, nunca ganhou tanto como no Mundial. “Nosso salão tem capacidade para 230 pessoas, mas nos dias de maior movimento recebemos, no máximo, 180 clientes. Durante a Copa a gente precisou fechar as portas porque atingimos a lotação total nos jogos do Brasil. Acredito que faturamos 60% a mais do que nos outros meses, comparável aos períodos de Natal e Ano Novo”, revela o gerente, que não quis se identificar.
Proprietário do Bar do Betinho, na Rua Wisard, Ricardo Pagano diz o contrário. “Ainda não calculei, mas por cima dá pra falar em cerca de 60% a 70% de diminuição no fluxo e queda de uns 30% de faturamento. A grande parte das pessoas vinham para cá ‘almoçadas’ e só queriam saber de beber. E para comprar bebida aqui não precisava entrar em nenhum bar, pelo tanto de ambulante que tinha na rua”, conta. Outros oito bares visitados pela reportagem indicaram prejuízos financeiros e acrescentaram outras reclamações, como excesso de gente, falta de segurança, pessoas urinando na rua, brigas e vendedores de drogas.
A Vila Madalena recebeu cerca de 50 mil pessoas por dia, com pico de 70 mil no jogo entre Brasil e Colômbia, pelas quartas de final, na sexta-feira (4), de acordo com as estatísticas do Portal da Copa. A Polícia Militar, a CET e a prefeitura não esperavam tanta gente no bairro e tiveram que fazer um planejamento em meio ao evento, assim como os próprios estabelecimentos, que tentaram aproveitar a presença de estrangeiros para aumentar preços e cobrar até pelas entradas nos bares. Segundo a SPTuris, foi a maior concentração de pessoas da história do bairro, considerado um dos mais boêmios de São Paulo. Apesar disso, o presidente da Associação de Gastronomia, Arte e Cultura da Vila Madalena (AGEAC), Flávio Pires, disse que, para ele, foi um dos piores eventos que já aconteceram na vila. “Teve cambista vendendo ingresso, carro de som alto a noite toda, pancadão, rapazes agredindo meninas, sexo explícito na rua, vendedores de drogas, briguentos se batendo, enfim, só coisa ruim. Tivemos que fechar os bares mais cedo, do tradicional horário da 1h da manhã para às 20h, porque senão tentavam roubar, invadir para ir ao banheiro, ocasionando prejuízos. Estamos dando graças a Deus que a Copa acabou”, critica.
Para o presidente da Abrasel-SP, Percival Maricato, os bares não têm do que reclamar. “Para eles [bares] a Copa foi ótima. Tiveram lucros de 100% e os menos badalados tiveram cerca de 20% de faturamento”, calcula. Ele também defende quem cobrou taxas até para entrar nos estabelecimentos, atitude que gerou autuações da Fundação Procon no início de julho. “Não achamos correto, mas num lugar como a Vila Madalena essa é a única forma de selecionar os clientes e separá-los dos bagunceiros. Nós não apoiamos, mas essa é a única forma de conter o fluxo de pessoas”, finaliza.
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