No início do século XX, Paris fervilhava culturalmente. Jovens vindos de várias partes do mundo chegavam em busca de liberdade artística e intelectual. Entre eles, estava o judeu Michel Kikoïne, nascido em Gomel, atual Bielorrússia, em 1892, que depois de passar um tempo estudando na Escola de Belas Artes de Vilna, na Lituânia, decidiu expandir seus horizontes em Paris. Isso foi em 1912, quando, ao lado do amigo de infância e também artista Chaim Soutine, desembarcou em solo parisiense e foi morar no La Ruche, famosa casa para jovens artistas. Foi lá que Kikoïne conheceu o artista italiano Amedeo Modigliani, tornando-se, os três, inseparáveis. Eles faziam parte da chamada Escola de Paris, mas ao contrário de Modigliani, Soutine e Chagall – outro importante nome do movimento artístico -, Kikoïne nunca teve sua obra muito valorizada. Em boa parte, acredita-se, seja pelo fato de ter vivido afastado da boemia parisiense. Ele casou-se cedo, em 1915, e tempos depois mudou-se com a família para uma região afastada da efervescência da Cidade Luz. O maior reconhecimento de sua obra aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, em meados de 1950, e entre suas referências artísticas destacam-se Rembrandt – de quem admirava o trabalho de luz para compor naturezas-mortas e retratos – e, principalmente, Cézanne, cuja obra sempre lhe serviu de inspiração.

Ainda restrito a alguns museus na Europa, Israel e Japão, suas obras finalmente chegam em terras brasileiras como parte das comemorações do Ano da França no Brasil. São Paulo recebe, entre os dias 4 de junho e 9 de agosto, uma exposição inédita no Centro da Cultura Judaica com 27 trabalhos de Kikoïne, entre óleos, aquarelas, guaches, desenhos e gravuras, que retratam as suas várias fases, com retratos, paisagens e natureza-morta. O objetivo é apresentar aos brasileiros um artista desconhecido do grande público mas com grande relevância no movimento modernista nas artes de todo o mundo. Movimento esse que influenciou grandes mestres nacionais, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Flávio de Carvalho. Os visitantes também poderão apreciar uma obra de Soutine e outra do pintor lituano Pinchus Kremegne, amigo dos tempos de Vilna. Ambas possuem grande afinidade artística com Kikoïne. “A obra de Kikoïne é sólida e de uma qualidade impressionante. Sua redescoberta parece uma questão de tempo. Não apenas por estar no cerne da produção artística da Escola de Paris, mas pela riqueza e expressividade de cada uma de suas pinturas. O Brasil merece conhecer seu trabalho”, afirma João Grinspum Ferraz, curador da exposição.
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Desde 2006 ele está debruçado em pesquisas sobre o artista e, em 2007, foi a Paris conhecer a família do artista e obter mais material para a exposição. “Foi um trabalho árduo, pois não havia muito registro histórico sobre ele”, diz. As obras expostas vieram da família e de colecionadores particulares. Além dos quadros, a exposição traz alguns livros, textos e uma linha do tempo sobre a vida de Kikoïne. Está em fase de produção, também, um livro com imagens de 80 obras que cobrem todos os períodos de sua vida. Algumas foram cedidas pelo Museu de Arte e História do Judaísmo em Paris e outras de colecionadores particulares.

Exposição Michel Kikoïne
De 4 de junho a 9 de agosto de 2009 –
Centro da Cultura Judaica
Rua Oscar Freire, 2.500, São Paulo, SP
Tel.: (11) 3065-4333


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