Ela é publicitária de formação, já trabalhou com moda, criou estilo, cor, estampa, produziu e organizou eventos. Já morou na França e viajou por várias partes do mundo e do Brasil, sempre procurando fincar raízes. E foi durante as muitas viagens que fez ao rico cenário brasileiro, de Norte a Sul, que a paulistana Vera Souto encontrou inspiração para criar suas obras feitas de caixas de madeira compostas com elementos artesanais tipicamente brasileiros. São bonecas e bichos feitos de barro por artesãos no Vale do Jequitinhonha (MG), artefatos coloridos, como galinhas que trazem o típico azul-anil e bolinhas brancas, feitos pelas Figureiras de Taubaté (SP), peças encontradas no Nordeste e que remetem a temas como maracatu, capoeira, bumba-meu-boi, benzedeiras e baianas.
Tudo começou meio por acaso. Há cerca de 15 anos, Vera dividia um ateliê com uma amiga que criava flores de papel, enquanto se dedicava a sua empresa de organização de eventos. Às vésperas do Natal, decidiram desenvolver presentes criativos para vender. Surgiram as Caixas da Sorte, feitas de madeira, compostas por sementes, amuletos, sal grosso e outros elementos associados aos bons fluidos. Daí para as Caixas do Amor, de Festas, da Magia e a atual Caixa Brasil, com artigos produzidos por artesãos nos quatro cantos do País, foi um pulo. “Minha amiga seguiu com as flores e eu descobri as caixas”, diz a artista.
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Vera decidiu aperfeiçoar suas caixas com temas brasileiros e passou a compor trabalhos com alguns objetos que havia trazido de suas viagens, garimpados durante anos. Deu certo. Passou a vender as caixas em lojas conceituadas de São Paulo e outras capitais e logo seu trabalho tornou-se comercial: desenvolvia uma caixa-piloto e fazia uma série igual. Foi um período de sucesso entre uma clientela especializada e exigente. Como resultado do seu trabalho, em 2001 fez sua primeira exposição individual em uma galeria. “Descobri que essa é a minha praia, não preciso de tradução. É o que eu gosto”, afirma.
Depois de anos comercializando suas caixas – perdeu a conta de quantos modelos desenvolveu -, Vera resolveu dar um “tempo”, como costuma dizer. “Começaram a surgir cópias toscas de minhas obras e fiquei muito desanimada. Parei.” Por quatro anos ela se dedicou a uma nova arte, também descoberta ao acaso: os objetos tatuados. São vasos em cerâmica, luminárias, cadeiras e mesas revestidos de tecidos, de maneira que se tornam parecidos com patchwork. Com olhar atento às tendências e combinações de cores e estampas, Vera encontra verdadeiras jóias escondidas em lojas de tecidos e, muitas vezes, ela própria as desenvolveu. “Eu faço um mix de estampas e texturas”, diz a artista.
Mas foi no início do ano, durante uma arrumação em seu ateliê, localizado em uma fazenda em Itatiba, interior de São Paulo, onde convive com macacos e outros animais, que Vera redescobriu os pilotos de suas famosas caixas. “Vi que ainda havia muito material”, lembra. Decidiu fazer uma releitura. “É como um resumo de todos os meus trabalhos anteriores. Pego peças soltas e monto histórias. Ponho meu olhar sobre o Brasil, que para mim é colorido, com muitas festas e muito humor”, afirma.
Seu método de trabalho é bastante peculiar. Ela não faz croquis, por exemplo, antes de montar cada peça. Espalha todos os objetos no chão e vai imaginando a composição na hora. É como se um filme passasse diante de seus olhos. “Vou olhando, juntando as peças e criando as histórias na minha cabeça”, explica. Essa facilidade em montar as caixas também é resultado de sua intimidade com a moda, que lhe facilita a percepção de cores, tons e objetos. É o que garante o sucesso da mistura de elementos inusitados, como fitas coloridas, imagens, coqueiros, aves, frutas, latas e madeira. O resultado de toda essa miscelânea artística pode ser conferido na mostra Meu Brasil Brasileiro, com 17 caixas expostas na Valu Oria Galeria de Arte até o dia 25 de julho, em São Paulo. Entre elas estão a Tropicália Nordestina, Sombra, Sorvete e Água Fresca, Severina Xique-Xique, além de uma inspirada em Guimarães Rosa e sua obra Grandes Sertões: Veredas.
A novidade dessa exposição, porém, são as seis caixas que vêm com música acoplada. Entre tecidos coloridos, lantejoulas, contas e referências populares, o visitante poderá ouvir as composições do maestro Gabriel Levi, especialmente criadas para essas obras. Quando questionada sobre como classificaria seu trabalho, Vera diz não se encaixar em um único título. “Eu me considero alguém que faz arte. Eu crio, realizo, vou fazendo”, conclui.
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