Os novos sons do Sul

Nos últimos meses, Curitiba tem sido citada como lugar efervescente da nova cena de música independente do País. O surgimento de uma série de bandas de rock na capital do Paraná tem recebido efusivos elogios da crítica especializada. Longe de formar um movimento uniforme, o agrupamento de bandas de rock em Curitiba, pelo contrário, vem se destacando devido ao ecletismo dos grupos, que vão do rock para dançar do Copacabana Club ao peculiar folk com sotaque paranaense do Charme Chulo, passando, ainda, pelo som eletrônico do duo Je Rêve de Toi.

No começo do ano, um minifestival reuniu as bandas Sabonetes, Copacabana Club, Ruído/mm e Heitor e Banda Gentileza na casa de shows Inferno, um dos redutos da cena indie de São Paulo. Curitiba também tem marcado presença no Poploaded Session, programa dedicado às novas bandas do cenário independente, transmitido pelo portal iG. Desde a criação do programa, apresentado pelos jornalistas Fabio Massari e Lúcio Ribeiro, somente São Paulo e Recife tiveram mais representantes no Poploaded Session do que Curitiba.
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Para Massari, autor de livros como Detritos Cósmicos, Conrad Editora (sobre Frank Zappa), e Emissões Noturnas (Grinta Cultural), a cena curitibana tem se destacado pela diversidade e pelo som bem urbano, de diferentes matizes. “Acho que tem um lance urbano que marca o som das bandas: dos ‘Billys’ doidos aos funks estranhos, passando pelos indefectíveis mods, punks, oitentistas e afins. Para explicar a cena de Curitiba vale um pouco aquele clichê da vibe londrina.

E o rock feito na capital mais fria do Brasil tem tudo para ganhar mais impulso. Com a boa repercussão no cenário nacional, algumas bandas já se preparam para lançar o tão sonhado disco de estreia. É o caso de Heitor e Banda Gentileza, que depois de dois EPs (Extended Play, gravação em vinil ou CD que tem entre quatro e oito faixas) já trabalha no primeiro disco, com previsão de lançamento para outubro deste ano. Com uma mistura interessante de ritmos, a banda terá, na gravação do primeiro álbum, o apoio de Plinio Profeta, produtor que levou o Grammy Latino por seu trabalho em Falange Canibal, álbum de 2001 do pernambucano Lenine.

Bem acompanhados andam, também, os grupos Sabonetes e Charme Chulo, que terão a experiência de Tomás Magno a serviço de seus álbuns. Grande revelação do rock curitibano de 2007, quando debutou em disco e assombrou a crítica com uma fusão originalíssima de música caipira com rock oitentista, o Charme Chulo já está finalizando o segundo álbum, que se chamará Nova Onda Caipira. “O álbum deve ser lançado depois da metade do ano. Neste novo trabalho buscamos consolidar mais o estilo rock caipira sugerido no disco de estreia. Então ele vai ficar mais caipira e mais pop ao mesmo tempo”, diz Igor Filus, vocalista do grupo.

A banda Sabonetes, com um som pop cheio de boas influências, também pretende lançar o primeiro álbum no segundo semestre. Na ativa desde 2004, a banda nasceu despretensiosa e ganhou fôlego a partir de 2008, quando lançou o EP Descontrolada, que traz música de mesmo nome que virou hit nos bares onde a banda toca. O sucesso inicial rendeu ao quarteto convites para abrir shows de Mallu Magalhães e Little Joy em Curitiba.

Organização
Entre as razões do bom momento da música pop em Curitiba, a organização das bandas figura como explicação mais provável. Pelo menos é isso o que pensa Artur Roman, vocalista e guitarrista do Sabonetes. “Hoje temos uma cena muito rica e variada em Curitiba porque as bandas conseguem conversar entre si. Não há picuinha ou atrito entre os grupos. E isso passa pelo público também. É possível reunir várias bandas, de diferentes sons, em torno de um mesmo público”, explica.

Opinião corroborada por Heitor Humberto, da Banda Gentileza. “Não adianta ficar só na demo ou no EP, é preciso correr atrás de algo maior, se organizar. Dificilmente, hoje, uma banda deslancha só com disco demo. É preciso ter um álbum, ir atrás de gente interessante que possa ajudar no trabalho.” E nesse quesito, os curitibanos têm feito a lição de casa. “O pessoal de Curitiba tem sabido se agilizar. A cidade fica perto de Sampa, o que possibilita o bate-e-volta. Assim é fácil. Além disso, nós temos uma simpatia muito grande pela cidade, diz Massari sobre a constante participação de bandas da cidade em seu programa na internet.

Ainda assim, as bandas curitibanas sofrem com as dificuldades do esquema independente. Gravar um disco e se dedicar apenas à música ainda é tarefa árdua. “Ainda estamos longe de poder nos dedicar exclusivamente à banda. Todos os integrantes trabalham em outras áreas. Nosso disco, que será gravado em Curitiba, será pago do próprio bolso”, explica Heitor Humberto. “Não conseguimos viver só da banda, temos que tocar outros projetos. O dinheiro que ganhamos, investimos no grupo”, engrossa o coro Artur, da banda Sabonetes. É o preço da independência, que, segundo Massari, vale a pena ser pago. A essa altura do campeonato já se sabe que existe vida inteligente (e mais viável) fora das grandes gravadoras. Hoje rolam opções, os custos estão mais razoáveis e a situação está melhor para quem quer ficar por conta própria e não ter patrão. Então a independência vale a pena.


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