Ciência com fronteiras

DE VOLTA AO BRASIL Sóstenes Oliveira (primeiro à esquerda), do Instituto Federal de Goiás, com outros intercambistas que estavam na University of Western Ontario - Foto: Instituto Federal de Goiás (IFG)
DE VOLTA AO BRASIL: Sóstenes Oliveira (primeiro à esquerda), do Instituto Federal de Goiás, com outros intercambistas que estavam na University of Western Ontario – Foto: Instituto Federal de Goiás (IFG)
O PROGRAMA DUROU CINCO ANOS. No dia 25 de julho o governo Temer anunciou o fim do Ciências sem Fronteiras para os alunos de graduação. Segundo o Ministério da Educação, não havia mais dinheiro em caixa para bancar as bolsas. O governo federal alega que agora vai dar prioridade às bolsas para pesquisadores da pós-graduação, mas na realidade nem mesmo esses financiamentos estão assegurados: tudo dependerá dos recursos em caixa em 2017.

O programa começou em 26 de julho de 2011 e, até o final de 2014, concedeu 101.446 bolsas, das quais 78% se destinaram a graduações sanduíche (parte no Brasil, parte no exterior). Os cursos de Engenharia e as demais áreas tecnológicas foram contemplados com a maioria dos financiamentos (45,1 mil bolsistas). Os principais destinos dos alunos eram instituições dos Estados Unidos e do Reino Unido. Ao todo, o Ciência sem Fronteiras enviou alunos a 2.912 universidades de 54 países.

De 2012 até o final de 2015, o custo total do programa atingiu R$ 10,5 bilhões. Devido à falta de recursos, em 2016 só restaram 11.810 bolsistas, que já tinham sido selecionados em anos anteriores. “Do ponto de vista do País, a gente tem que considerar a questão do custo/benefício porque há outras carências, como o ensino básico”, disse Geraldo Nunes, presidente substituto do Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Segundo o MEC, somente em 2015 o governo gastou R$ 3,2 bilhões para manter 35 mil bolsistas no exterior. Com esse mesmo valor o setor público forneceu merenda escolar para 39 milhões de alunos.

A presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes), Carina Vitral, diz que essa comparação não tem cabimento: “O Ciência sem Fronteiras significou muito para muitas pessoas que não tinham condição de fazer intercâmbio. A justificativa do MEC ao comparar os gastos do Ciência sem Fronteiras com alimentação escolar não leva em conta o quão estratégico ele é para o País”.

Apesar disso, o programa era criticado dentro da universidade. Segundo Antônio Freitas, da Academia Brasileira de Educação, não era razoável gastar quase R$ 3 bilhões por ano para mandar alunos para “universidades medianas” da Europa e dos Estados Unidos, “enquanto excelentes laboratórios, como o da UFRJ, estão sem recursos”.

O presidente da Capes vai na mesma linha: além de dispendioso, o programa não exigia nenhuma contrapartida científica dos beneficiados. A vantagem de manter os financiamentos para os bolsistas de pós-graduação, diz, é que eles em geral publicam artigos em revistas estrangeiras, o que beneficia as universidades brasileiras.

Mesmo ex-bolsistas reconhecem essa falha. Segundo Guilherme Rosso, fundador da Rede CsF (ONG voltada para a troca de experiências entre os participantes do Ciência sem Fronteiras), a “falta de avaliação” era de fato a maior deficiência.

Os idealizadores do programa negam, contudo, que o programa só beneficiava famílias de classe média. Eles alegam que, dos alunos que participaram do programa, 26,4% eram negros, 25% jovens de famílias com renda até três salários mínimos e mais da metade vinha de famílias com renda de até seis salários mínimos.


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