Copa do Mundo congela Brasileirão e eleições

A partir desta semana, com o início da Copa da África do Sul, cessa tudo o que a antiga musa canta, e vamos ficar mais de um mês falando de seleção brasileira. Saem de cena Dilma e Serra, assumem o protagonismo Dunga e seus guerreiros. Quem está bem ou quem está mal no Brasileirão vai ter tempo de descansar, arrumar o time e começar tudo de novo.

Todo ano de Copa é assim e, desta vez, as surpresas estão mais no futebol do que na política. Se todos já esperavam um Fla-Flu acirrado entre os candidatos do PT e do PSDB, como tem acontecido desde 1994, o fato novo de 2010 é a luta pela liderança do Brasileirão. Quem poderia imaginar o Ceará disputando pau a pau o primeiro lugar com o Coríntians, os dois com 17 pontos ganhos, com o mesmo número de vitórias e ainda invictos?

Na campanha eleitoral, vai ser mais difícil acontecer alguma surpresa. A menos de quatro meses de irmos às urnas, as últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha indicam outro empate (37 a 37) entre os dois principais candidatos, mas as curvas mostram a subida de Dilma e a queda de Serra na estimulada, e a vantagem da petista na espontânea (19 a 15).

O dado que mais me chamou a atenção no Ibope divulgado neste fim de semana é que Lula ainda tem 12% na pesquisa espontânea, fato que a matéria da Folha ignorou, um claro indicador de que a sua candidata ainda tem uma estrada para crescer á medida em que o eleitorado se convencer de que o presidente não pode disputar a reeleição.

A única vez, depois da redemocratização, em que houve uma inversão de posições dos candidatos durante a Copa do Mundo, foi em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso, a bordo do Plano Real, ultrapassou Lula e a partir daí caminhou para uma tranquila vitória no primeiro turno.

Desta vez, sem Plano Real, a única chance do candidato do PSDB virar o jogo é provar ao distinto eleitorado que é ele o verdadeiro candidato de Lula, e não Dilma, para dar continuidade aos programas do atual governo. Não será fácil, convenhamos.

Bem que no início da campanha, na fase “Serrinha Paz e Amor”, ele tentou esta estratégia, elogiando Lula sempre que podia e garantindo que manteria todos os programas do atual governo. Mas as últimas pesquisas, mostrando a crescente transferência de votos de Lula para Dilma, o fizeram mudar de rumo e de conduta, assumindo de vez a cara e o discurso de candidato de oposição.

O problema é que, nesta campanha, quem faz o papel de Plano Real, o fator capaz de desequilibrar a disputa, é o próprio Lula, com os sempre crescentes índices de aprovação e de popularidade do seu governo – e a oposição não tem como colocar novos planos em prática, apenas prometê-los para o futuro. Entre um pássaro na mão e dois voando, o histórico das eleições mostra que o público prefere ficar com a primeira opção.

A seu favor, José Serra tem neste mês de junho três programas na televisão e, Dilma, nennhum. O desafio é o que dizer e propor nestes programas, disputando a atenção e a audiência justamente com a Copa do Mundo. Bolívia, Mercosul, patrimonialismo, novos ministérios e guerra de dossiês, os itens até agora empregados, certamente não são temas que emocionem a torcida nesta altura do campeonato.

Resta-lhe o trunfo da indicação do vice, o que neste momento, com a indefinição do nome, em vez de servir para dar um novo gás na campanha, mais atrapalha do que ajuda a sua caminhada, já que Aécio continuava irredutível.

De outro lado, enquanto espera de camarote que prossiga a natural transferência de votos dos que se convencerem de que Lula não é nem pode ser candidato, Dilma Roussef precisa se preocupar mais com a sua retaguarda do que com grandes lances ofensivos. Basta não errar mais, armar bem a defesa e só avançar em contra-ataques, mais ou menos como a seleção de Dunga.

Depois de um início de campanha capenga, como foi constatado aqui no Balaio, a candidata do governo aparentemente conseguiu acertar o prumo, mas as recentes brigas internas no comando político, que desaguaram no até agora mal explicado episódio do “dossiê”, mostram que ela precisa redobrar seus cuidados para não levar bola pelas costas.

Minas, mais uma vez, pode ser o fiel da balança, ao contrário do que acontece no Brasileirão, onde seus times vão mal das pernas (o Cruzeiro, em 11º, e o Atlético, na zona de rebaixamento). É lá que será decidida, provavelmente ainda hoje, a aliança nacional entre PT e PMDB. Se o PT bater o pé e não apoiar Hélio Costa para governador, pode ir para o espaço a aliança com Michel Temer de vice e o latifúndio de tempo do PMDB na eleição, o grande trunfo do governo para, depois da Copa, mostrar que Lula é Dilma e jogar no plebiscito contra o PSDB de Serra e FHC.

Mas as últimas notícias que chegam de lá também não são nada animadoras para o candidato da oposição. “Base de Aécio vacila em apoiar Serra”, mancheteia a Folha desta segunda feira (página A6), informando que “de 264 prefeituras de PSDB-PPS-DEM em MG, 79 se dissderam neutras, indecisas ou mesmo a favor de Dilma”.

Ao se justificar, o prefeito de Nova Belém, Valdeci Dornelas (PPS), resumiu o sentimento tão mineiro que pode mais uma vez predominar nas eleições de 2010, como já aconteceu em 2002 e 2006, quando Lula e Aécio foram candidatos:

“Eu prefiro ficar quieto, deixa o povo ficar à vontade”.

Em tempo: a última pesquisa do Ibope confirma mais uma vez o índice de 5% dos eleitores que consideram o governo Lula “ruim ou péssimo”, tema do Balaio na semana passada, que gerou muita polêmica e mais de 1.300 comentários.

Em tempo 2: o Último Segundo, do iG, informou agora à tarde que Hélio Costa será o candidato a governador da aliança PT-PMDB em Minas Gerais. Assim, está assegurada a chapa Dilma-Temer para a disputa da Presidência da República. Só falta agora definir o vice da chapa de José Serra, do PSDB-DEM-PPS. O empresário Guilherme Leal já havia sido confirmado como vice de Marina Silva, do PV.

Em tempo 3: vale um registro a competente apresentação do país da Copa do Mundo feita pela Fátima Bernardes na abertura do Jornal Nacional desta segunda-feira. Em poucos minutos, a repórter-apresentadora ou apresentadora-repórter nos levou ao coração da África do Sul, falou do dia da seleção brasileira, mostrou as torcidas, os estádios, a divisão entre brancos e negros, que ainda resiste no país da Copa. Lá, já passava da uma hora da madrugada, mas parecia que ela tinha acabado de acordar. Belo trabalho, Fátima.

Em tempo 4: na parte política, reparei que o JN continua sendo uma espécie de “Veja no ar”, reproduzindo e repercutindo as matérias da revista, sem esquecer de abrir espaço para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), uma espécie de porta-voz oficial da oposição na Globo.


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