De perto ninguém é normal

A cada eleição os brasileiros se espantam com os nomes e maluquices dos candidatos. É o Enéias Jr., o Zé do Pau, a Maria Chupetinha, e por aí vai. Em termos de plataforma, então, é bom nem comentar. Imagina-se que estes sejam os frutos de uma República de Bananas. Não é bem assim. Lembre-se de que esta gente está concorrendo a cargos legislativos, ou seja: devem representar fatias da população de modo geral. Teve doido que concorreu ao Executivo, mas foi pouco, e não se elegeu (a exceção, que confirma a regra, foi Jânio Quadros).

Pegue-se agora a situação nos Estados Unidos, supostamente mais sofisticado. A concorrente à vice-presidência, Sarah Palin, é louca de amarrar e provavelmente vai ganhar. Apostei US$ 10 com meu sogro que os republicanos vão ficar na Casa Branca – rezo para perder. E assim, o hambúrguer de alce – para o qual Palin diz ter receita especial – passará a integrar o cardápio do
establishment de Washington.

Mas não é bem na cozinha que a governadora do Alasca e parceira de John McCain revela seus maiores distúrbios mentais. Diz, orgulhosa, que já saiu caçando lobos – com fuzil e mira telescópica – a bordo de um avião Cessna. Para mim, este é o equivalente a matar cachorro enjaulado a paulada. Conta que sabe limpar as entranhas de uma rena, em meio ao campo, usando facão e as próprias mãos. Apareceu de biquíni, com estampa do pendão nacional, à beira de uma piscina, em meio a amigos, tomando cerveja e empunhando um trabuco (ela, diga-se, não é de se jogar aos lobos: ao contrário!). Acha que a guerra no Iraque foi um plano concebido pelo Criador. Criou uma categoria de eleitoras, supostamente sob sua liderança, intitulada “Hockey Moms” (“Mamães do Hóquei”). Isso, a despeito de o Estado que ela governou não ter um único jogador na liga profissional de hóquei ou um time que o represente. Que diabos faz essa turma e quais seriam suas reivindicações?

Essa é parte da biografia, ainda mal conhecida, da possível futura vice-presidente de um homem que está com um pé na cova e outro na casca de banana. Quer pior que isso? Vá lá: o pastor Leroy Pletton poderia ser o líder nessa corrida. Ele é o cabeça da chapa do Prohibition Party (o Partido da Lei Seca). Quem acha que os bloqueios contra motoristas embriagados no Brasil são duros, não conhece o pastor Pletton. Ele promete eliminar totalmente a venda de álcool num dos países mais biriteiros do mundo. Seus partidários já tentaram durante anos impor a secura, com resultados melhor exemplificados pela carreira de Al Capone e o fato de os americanos terem passado a enxugar a marvada com sede redobrada naquela época.

Tem também o Alan Keyes, que foi candidato em várias outras eleições – ao Congresso, à Presidência e a síndico de seu prédio. Perdeu todas. Como seu antigo partido – o Republicano – não lhe dá mais vez, Keyes – um afro-americano que foi embaixador de Ronald Reagan – resolveu vestir nova camisa: a preta, dos fascistas. Admirador de Benito Mussolini, o candidato parece ignorar que o ditador italiano e seus correligionários só admitiam a cor negra nas indumentárias e não na epiderme das pessoas.

Essa gente está na direita da balança política, mas que ninguém imagine que a esquerda manteve trancado o seu Pinel. O candidato à presidência Roger Calero, pelo Socialist Workers Party – o Partido dos Trabalhadores Socialistas – é nicaragüense. Pode concorrer ao cargo, mas jamais será empossado: a lei não admite na Presidência quem não foi parido em território nacional. Deste modo, cabe a pergunta: por que concorrer?

O contraponto ao Prohibition é o Marijuana Party – Partido da Maconha. Sua principal meta é a descriminalização do fumo. Aliás, esta é toda sua plataforma política. Não tem mais nada. Poderia, pelo menos, criar um programa de cesta básica para a larica: um Big Mac, dez pacotinhos de paçoquinhas, barras de chocolate, balas e uma Coca-Cola litro. Acho que se esqueceram: marcaram!

Como se vê, os azoretados do Brasil não são os únicos no mundo em busca de sufrágios.


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