Documentário conta a história do maior ultraciclista do País

Cena do filma "Black Blull - de costa a costa". Foto: Gabriel Rodrigues
Cena do filma “Black Blull – de costa a costa”. Foto: Gabriel Rodrigues

Quem se dispõe a participar da mais árdua corrida de ciclismo do mundo? A Race Across America (RAAM) corta os Estados Unidos de oeste a leste, em um percurso de cerca de 4.800 km, passando por montanhas, cidades e desertos, ao longo de dias e noites, praticamente sem dormir.

Ninguém em sã consciência, responde o ultraciclista Claudio Clarindo, o primeiro atleta latino-americano a completar cinco vezes  a prova. O santista foi personagem do documentário Black Blull – de costa a costa, dirigido por Gabriel Rodrigues, fotógrafo e também ciclista, parte da equipe de apoio durante os quase 12 dias de percurso.

O documentário, que tornou-se uma homenagem póstuma ao atleta, estreia um ano após a morte de Clarindo, vítima de um atropelamento na rodovia Rio-Santos enquanto treinava. Na pré-estreia, em São Paulo, o filme terminou sob aplausos de pé de uma plateia emocionada, formada em sua maioria por ciclistas. A mulher e o filho adolescente, que fizeram parte da equipe de apoio na competição, também estavam presentes.

O filme é um registro do esforço descomunal de Clarindo para completar a prova. No momento mais crítico, o atleta sofre o que ele mesmo define como um “eclipse interno”, durante o qual não sabe mais quem é e nem o que está fazendo ali. O atleta se recupera para continuar a corrida, mas vê-se um homem no limite mental e físico, oscilando entre a consciência e o delírio, ataques de choro e lampejos de determinação.

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Carlindo e sua equipe de apoio. Foto: Arquivo Pessoal

A partir de certo momento da prova, a instabilidade do ciclista é tamanha que a equipe de apoio passa a servir de olhos, braços, pernas e mente do competidor, como define a esposa de Clarindo. Quando o atleta parece não ter mais forças para continuar, um membro da equipe surge correndo ao seu lado na pista, vestido apenas de cueca. Uma graça para distraí-lo da exaustão física e principalmente mental. “O mais difícil é se preparar psicologicamente para a possibilidade de não conseguir completar os 5 mil km”, diz Clarindo.

A chegada, após dias de tanto martírio, é discreta e solitária – quase um anti-clímax para quem espera encontrar uma torcida em alvoroço na recepção de um verdadeiro sobrevivente. Praticamente não se percebe o momento em que Carlindo cruza a linha, em um local indefinido de uma estrada. Silenciosamente, ele desmonta da bicicleta. Rodrigues é o primeiro a correr em direção ao ciclista. Os demais membros da equipe então se abraçam e comemoram o feito. Mais tarde, na sede do evento, apenas um pequeno grupo assiste à cerimônia esvaziada de premiação dos finalistas.

Foram 11 dias, 23 horas e 35 minutos pedalando, quase sem parar e com a média de uma hora de sono por dia. Além disso, Carlindo enfrentou condições climáticas extremas, como o calor de 50ºC no deserto do Arizona e chuvas torrenciais durante três dias. “Não existe treino para isso daqui. É uma condição de vida. Eu vivo para conseguir disputar essa corrida”, diz o ciclista.

 

Assista ao trailer do filme abaixo:

BLACKBULL_Trailer from Fulô Filmes on Vimeo.


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