É crime – e muitos adoram

Meus caros, ninguém mais pode falar em lisura e ética na imprensa britânica, sem mencionar o recente escândalo Murdoch, que bisbilhotou até celular de adolescente sequestrada e morta. A obsessão dos britânicos pela vida alheia não é maior ou menor do que a dos brasileiros, ou dos norte-americanos, talvez os asiáticos sejam mais comedidos nesse quesito. É bem verdade que eu esperava mais da velha Albion, terra de Willian Shakespeare e de grande jornais, como os concorrentes, e excelentes,  The Times e The Guardian, mas a raça humana é assim. Aguardo para ver como vai funcionar o também historicamente eficiente sistema judiciário de Vossa Majestade.

O que meu estômago não aceitou, e já não é dessa data, pois eles sempre se aprimoram na infâmia, foi a invasão dos funerais de Amy Winehouse, reservado à família e a pessoas próximas, por dois membros do Pânico na TV, programa escatológico da brasileira Rede TV. Até mesmo quipás negros, símbolo necessário aos ritos fúnebres da religião judaica, eles usaram, simulando choro e tristeza, em um escárnio inadmissível em qualquer funeral, fosse o de cujus celebre ou não.  O Código Penal Brasileiro, ao tratar do respeito aos mortos, em seu artigo 209, tipifica como crime a perturbação de um funeral. Eu acho que a invasão do velório, e sua exposição a uma audiência costumeiramente ansiosa por escatologias, foi criminosa. Tudo se deu em Londres, longe da ação de nosso Poder Judiciário, mas acho que as severas cortes de justiça de Lilibeth não deixariam barato. O problema é que há anos vemos esses caras invadirem a vida alheia, desrespeitando a tudo e a todos, e ninguém faz nada. Sei que já aconteceu de apanharem em certa ocasião, mas, se verdade, foi pouco.

Quando da visita de Amy ao Brasil, já me enojou a ânsia de todos por vê-la caindo de bêbada no palco, por testemunhar sua degradação, tudo isso atraía mais do que o show propriamente dito. Sou, pelo visto, dos poucos que não gostavam muito da música dela, mas, talvez como ex-junkie, quis muito ver mais um belo caso de reabilitação para termos como exemplo. Os mesmos que jogaram pedras, hoje a descrevem como “diva”, “a voz do século”, etc.  São provas de que não progredimos tanto assim desde o tempo do Grande Circo Romano – o povo gosta mesmo é de sangue, morte, e de saber da vida alheia, a qualquer custo. A humanidade ainda vai me matar de vergonha. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

2 respostas para “É crime – e muitos adoram”

  1. Lou,

    Postei no facebook este vídeo e expus a minha total indignação para com estes atores (!!) e esta invasão de péssimo gosto.

    Ao ver isso, me pus no lugar dos parentes e senti-me envergonhado e perceber que nós, brasileiros, presenciemos cenas desnecessárias como estas.

    Logicamente, o apresentador oficial Emilio fará um “mea culpa”, associará o episódio as outros tão descabidos como estes e a RedeTV compactuará com tudo isso.

    Na condição de telespectador, registrei no site da emissora minha indignação e repúdio a uma atitude tão desumana como esta. Até o terrorista Bin Laden teve seu funeral através de rituais da sua religião.

    Confesso e assumo que assistia a alguns quadros do programa por gostar de humor, rir um pouco mas a partir deste episódio me deu uma preguiça tão grande que qualquer atitude ou justificativa deste programa não me espantará.

    Como diz a minha querida prima Ju, somente a educação e berço dignos salvam o mundo!

    Grande abraço.

    Gus

    1. Queridão, ‘berço’ é expressão de minha mãe! Mas adorei, o comentário sobre Bin Laden foi perfeito. Não se pode aceitar em silêncio aquilo que nos indigna. Uma piadinha aqui, outra ali, isso é uma coisa, mas perder completamente as estribeiras, e ignorar qualquer limite alheio, isso não se pode admitir. Nunca. Obrigado por seu comentário! Bjs do Lourenço Guilherme Cavalcanti Lacombe.

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