Eleitores zumbis

Foto: EBC
O candidato Donald Trump ameaça vitória dos Republicanos. Foto: EBC

Esta coluna foi escrita no domingo (6), dois dias antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos. No sábado o colunista foi acordado pelos gritos e lamentos de sua esposa que parecia estar com os cabelos em chamas. A razão do escândalo foi logo revelada: “Trump vai ganhar! Meu fundo de pensão vai evaporar. As ações vão valer menos do que aquilo que o gato enterra! Como nós vamos nos aposentar?”. Aquela mulher refletia boa parte do eleitorado democrata no momento.

Para acalmar a boa senhora o colunista apelou para o chavão surrado: “As ações vão cair, mas depois de algum tempo subirão novamente. É sempre assim na Bolsa de Valores.”. Isto, em si, não foi suficiente para uma volta ao travesseiro e ao sono. Medidas mais drásticas tiveram de ser tomadas.

Desde a última coluna Coffee Party, em 27 de outubro, quando se anotou que “nem mesmo Trump acredita na vitória”, certos acontecimentos derrubaram a confortável vantagem de Hillary Clinton nas pesquisas. Resumindo: na sexta-feira, 28 de outubro, o diretor do FBI, James Comey, enviou carta a congressistas americanos relatando que foram encontrados cerca de 3600 e-mails que poderiam (ou não) ser pertinentes às investigações sobre o uso inapropriado do servidor de Internet estabelecido por Hillary durante o seu período como Secretária de Estado. Este arquivo estava no computador usado pelo ex-congressista Anthony Weiner, ex-marido de Huma Abedin, assessora da candidata democrata. O homem é pornógrafo compulsivo e suspeito de ter enviando sextings para uma garota de 15 anos, o que é crime de sedução de menores.

Na carta ao Congresso, Comey não afirma que os e-mails encontrados são novos ou fazem parte daqueles já investigados pelo Bureau. Também não afirma que tenham a classificação confidencial – o que comprovaria ilegalidade no trato dos documentos que deveriam ser secretos e estavam no computador de um cidadão não autorizado a recebe-los (e um pedófilo, ainda por cima). A missiva é, na verdade, bastante vaga.

Mas foi o que bastou para provocar a fúria bipartidária. Os democratas acusando Comey de tentar interferir no rumo das eleições, quebrando um protocolo do Bureau e do Departamento de Justiça, que não fazem revelações sobre investigações de candidatos no prazo de 60 dias antes das eleições. Já o republicanos, querendo ver sangue, exigiam que mais informações sobre o achado fossem imediatamente divulgadas.

Nada foi acrescentado pelo FBI, mas a carta famosa serviu para arrancar pontos preciosos de Hillary. Trump encostou e a corrida ficou focinho-a-focinho. Mas, a bem da verdade, a democrata já vinha sofrendo hemorragia de pontos nas pesquisas antes mesmo da interferência do FBI. Como se insistiu aqui nessa coluna: as eleições seriam muito mais parelhas do que propunham os institutos de pesquisas.

Para acalmar sua esposa desesperada o colunista disparou uma análise pouco científica, mas baseada em observações colhidas nos últimos dias. Primeiro: cerca de 30 milhões de americanos já votaram antecipadamente em vários Estados. As pesquisas parecem conter más notícias paras o republicano. Coffee Party não é escrita por profeta, mas arrisca uma adivinhação: Donald Trump já perdeu as eleições em Nevada, Colorado, Pensilvânia, Virginia e, pasmem: Flórida. Sem a Flórida, Trump está frito: não conseguirá os necessários 270 delegados no Colégio Eleitoral. As avalanches de votos latinos e o repúdio de mulheres (mesmo as republicanas), garantirão não apenas a vitória de Clinton, como possibilitam a conquista da Casa Branca com uma larga margem.

Quem sobreviver a esta bizarra corrida verá se a bola de cristal do colunista está certa. E se a esposa apavorada poderá se aposentar antes de quatro anos.


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