Em Goiânia, o grande comício dos tucanos

GOIÂNIA – Vim à bela e arborizada capital de Goiás a passeio, como informei aos leitores na sexta-feira, e só pretendia atualizar o Balaio no domingo. Nem trouxe meu laptop. Mas um grande acontecimento, que agitou Goiânia durante todo o dia de ontem, me faz interromper a breve folga.

Ao ler os jornais da cidade hoje de manhã, achei que os leitores tinham o direito de saber que aqui se promoveu o maior comício da atual campanha eleitoral.

“O aniversário de 47 anos do senador Marconi Perillo transformou-se em ato pró-candidatura ao governo. Estima-se que 40 mil pessoas passaram pelo Atlanta Music Hall ao longo do dia, dentre eles, 142 prefeitos. A organização disponibilizou 220 ônibus para o transporte de convidados”, informa o Diário da Manhã em sua primeira página.

A farta cobertura do evento espalha-se por três páginas internas. Sob a manchete “40 mil pedem a volta de Marconi”, o jornal relata detalhes desta super-produção. Os organizadores serviram 3,5 toneladas de carne, uma tonelada de arroz, 150 quilos de farofa, 30 mil latas de cerveja e seis mil litros de refrigerante.

Em pequena nota lateral, o jornal esclarece: “Marconi lembrou aos presentes que a festa foi apenas comemorativa. Decisão sobre candidatura apenas em asbril. Os organizadores também lembraram que não tiveram gastos com nada”.

Claro, tudo deve ter caído do céu, como diria o ex-ministro Magri. O noticiário, porém, desmente a versão de que “a festa foi apenas coemorativa”. A começar por Geraldo Alckmin, pré-candidato tucano em São Paulo, anunciado como principal autoridade presente ao evento, todos os oradores só falaram da volta de Perillo ao governo de Goiás nas próximas eleições.

“Vim trazer o meu abraço e de José Serra a Marconi, que foi um grande governador e trabalhou pelos pobres. Goiás tem pressa. Goiás quer sua eleição no primeiro turno. Volta, Marconi”, proclamou Geraldo Alckmin. Anunciado pelos jornais na véspera como a grande atração da festa, o governador José Serra não apareceu.

Com o título “Sucessão dá o tom dos discursos na festa de aniversário de Marconi”, outro jornal da cidade, O Popular, foi direto ao assunto do grande comício. “O senador Marconi Perillo (PSDB) tentou afastar o caráter político da sua festa de aniversário de 47 anos, mas o fato é que o evento transformou-se em ato de apoio à candidatura ao governo do Estado”.

Nada seria mais mais natural do que, em ano de eleição, uma festinha de aniversário de candidato se transforme num grande acontecimento político – não fosse pelo fato de que Marconi Perillo pertence ao PSDB, o partido que, junto com seu aliado DEM, já entrou com várias representações na Justiça denunciando o presidente Lula e a candidata Dilma Roussef por campanha eleitoral antecipada.

Tema constante de editoriais, colunas e blogs cada vez mais indignados, esta jaboticaba da nossa legislação eleitoral, em que os candidatos naturais não podem se dizer candidatos, e muito menos reunir pessoas para falar o que pensam, antes de determinadas datas pré-estabelecidas, a monumental comemoração do aniversário de Perillo em Goiânia é apenas mais um episódio da grande hipocrisia que reina na política brasileira.


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