Entrevista com Manoel Carlos

Brasileiros - Quem foi Maysa?
Manoel Carlos -
Uma artista talentosa e revolucionária que peitou muitas situações. Teve momentos felizes e infelizes, de certezas e incertezas. Foi muito combatida, mas bastante adulada também. Perdeu tudo (dinheiro), mas chegou a ser a mulher mais bem paga do Brasil. Tem uma entrevista dela gravada pela Pink Weiner, filha da Danuza Leão, em que dizia: “Não canto por dinheiro, canto porque gosto de cantar”. E cantava até de graça se fosse preciso.

Brasileiros - Como era seu relacionamento com a artista?
M.C. -
Conheci Maysa na TV Record, quando ela era apresentadora. Mas não chegamos a ser amigos. Conversávamos e tomávamos café, no meio do restante das pessoas na emissora.

Brasileiros - O que mais te impressiona nela?
M.C. -
Evidentemente, a personalidade fortíssima e sua determinação. Quando queria, queria mesmo: Maysa era indomável. Isso é maravilhoso e um traço muito atraente, as mulheres se ligam muito nela, principalmente as que têm mais de 50 anos e a conheceram.

Brasileiros - Cite algumas “loucuras” de Maysa.
M.C. -
Certa vez, cantando em uma churrascaria (quando entrou em decadência), havia uma mesa onde as pessoas não paravam de falar. Ela se irritou, tirou o sapato e atirou nelas. Não era agressiva normalmente, era uma doce figura, mas não era de levar desaforos pra casa. Outra vez, quando foi com uns amigos pra Três Rios (cidade do interior do Rio), tomou um porre e desfilou pelas ruas da cidade – foi um escândalo. À noite para completar o episódio, tomou banho nua em uma cachoeira, e foi parar na delegacia. Estou escrevendo essa cena.

Brasileiros - Quais foram os amores de Maysa?
M.C. -
Maysa era charmosa, sexy e interessantíssima. Uma mulher apaixonante que dobrou muitos homens. Teve grandes amores: Ronaldo Bôscoli, Carlos Alberto (ator) e Miguel Azanza, um espanhol com quem viveu por 10 anos.

Brasileiros - Quem foi a grande paixão dela?
M.C. -
Maysa foi uma mulher muito apaixonada pelo marido e existem algumas pistas em toda a pesquisa que fiz que sua grande paixão, até morrer, foi o marido Matarazzo. Mas ela se separou dele dois anos e meio depois de casada e ele morreu muito cedo, de infarto, com quarenta e poucos anos. Ela sobreviveu muito tempo ao marido.

Brasileiros - Por que o casamento dela teria acabado, então?
M.C. -
O marido e a família dele queriam que ela fosse uma cantora diletante (cantar para amigos em festas de aniversário) e ela almejava ser uma artista de verdade. Por isso, deixou o marido e o filho.

Brasileiros - Ela usava drogas?
M.C. -
Não, só bebia uísque, mas nos últimos anos de sua vida, nem bebia. A coisa que mais a envenenava era remédio para emagrecer – ela tinha um problema com a balança muito sério. Era uma sanfona: engordava e emagrecia.

Brasileiros - Como ela lidava com o ganho de peso?
M.C. -
Ela sofria muito com isso. Temos um vídeo dela cantando no Japão em que está imensa, com uns 80 quilos. Maysa vivia tomando remédios sem nenhum critério. Para piorar, ela os misturava com uísque e com remédios para dormir (sofria de insônia) e remédio para acordar – reativante (pra não ficar sonada). Imagine o que isso não faz no organismo de uma pessoa.

Brasileiros - E quanto às tentativas de suicídio?
M.C. -
Houve três ou quatro. Pelo menos duas delas não sabemos se foram forjadas. Às vezes ficava deprimida - o álcool faz isso, estimula e depois deprime.

Brasileiros - A melancolia das canções fazia parte da personalidade dela?
M.C. -
Não é que fosse melancólica, mas, como compositora, era autora de músicas de reflexão melancólica a respeito das coisas. Foi feliz, mas muito sofrida e com uma personalidade rica e complexa, alternando grandes momentos de alegria, felicidade e vários de depressão e tristeza.

Brasileiros - E com os amigos?
M.C. -
Alegre, mas tinha momentos depressivos também. Era bacana, legal, boa companhia e boa amiga, mas, ao mesmo tempo, briguenta e ciumenta.

Brasileiros - Como ela lidou com o patrulhamento social?
M.C. -
As pessoas que a hostilizavam por ser livre, uma artista boêmia, que bebia, fumava e fazia barracos nas boates por bebedeiras, ou por ciúmes, eram pessoas que não interessavam muito a ela.

Brasileiros - Quem revelou Maysa?
M.C. -
Monjardim, o pai de Maysa, era um homem boêmio e muito amigo dos artistas. Sua casa era freqüentada por Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e outros que gostavam demais das coisas que Maysa fazia. A primeira vez que um produtor de discos a ouviu, Roberto Corte Real – na época um dos mais importantes do Brasil -, viu nela uma grande revelação e imediatamente a convidou pra gravar.

Brasileiros - Você acredita que ela foi uma pessoa realizada?
M.C. -
Ela queria ser uma cantora profissional, trabalhar e cantar todo dia. Quando estourou com a música “Meu Mundo Caiu” ganhava o que ninguém ganhava no País e gastava pra burro. Viajou e cantou no mundo inteiro – fez sucesso até no Japão. Ela apostou na carreira e deu certo, fez sucesso e gravou discos que foram campeões de vendagens. Acho que valeu a pena.

Brasileiros - Qual foi o ápice da carreira dela?
M.C. -
Ela teve uma carreira vitoriosíssima. Quando lançou “Meu Mundo Caiu” foi um acontecimento – vendia discos que nem arroz. Foi uma loucura e foi a música que a levou para todo o mundo. Ela fez sucesso aos 20 anos e desfrutou dele durante dez ou 15 anos, antes de entrar em decadência. Apresentou-se no Japão e até em Paris, no Olimpya – reduto de Edith Piaf. Aliás, ela tem um repertório só com músicas de Piaf.

Brasileiros - Como ela perdeu tudo?
M.C. -
Além de gastar pra burro, era muito desapegada ao dinheiro. Mas piorou sua situação quando produziu, em 1973, Woyzeck, de Georg Büchner, uma peça alemã dificílima, espetáculo caríssimo. Enfiou um monte de dinheiro e não teve retorno. Isso lhe custou um prejuízo de milhões – levando todo o seu patrimônio na época. Ela tinha um senso artístico e estético à frente do seu tempo.

UM AUTOR E SUAS HELENAS


Manoel Carlos Gonçalves de Almeida nasceu em 14 de março de 1933 em São Paulo. Iniciou a carreira na década de 1950 como ator e diretor das extintas TV Excelsiore TV Tupi. Em 1978 escreveu Maria, Maria, uma adaptação literária de Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, e não parou mais. Em 1980 foi colaborador de Gilberto Braga na novela Água Vivae em 1981 escreveu Baila Comigo, sua primeira em horário nobre. Desde então, o autor batiza com o nome de Helena todas as personagens principais. Aos 75 anos, continua a todo vapor. “Penso em escrever um romance, uma peça de teatro e tocar o meu trabalho enquanto der. Tenho mais uma novela para escrever para a Globoem 2010 e um contrato até 2013 – quando completarei 80 anos”, diz. Entre seus prazeres, além de escrever, está curtir a família. “Gosto muito de trabalhar, mas, hoje em dia, gosto de ir a Búzios e ficar com meus filhos e netos na praia, ou na beira da piscina, tomando um bom vinho. Também gosto de ouvir música, ir a concertos, ver balé e viajar”, diz. Além de acompanhar o trabalho de seus colegas na telinha, ele é apaixonado por jornal – lê quatro ou cinco por dia, inclusive os de São Paulo. “Para quem escreve, estar bem informado é fundamental. Para escrever é preciso ler.”

Principais trabalhos
Páginas da Vida– 2006 e 2007 (Rede Globo)
Mulheres Apaixonadas– 2003 (Rede Globo)
Presença de Anita– 2001 minissérie (Rede Globo)
Laços de Família– 2000 e 2001 (Rede Globo)
Por Amor– 1997 e 1998 (Rede Globo)
História de Amor– 1995 e 1996 (Rede Globo)
Felicidade– 1991 e 1992 (Rede Globo)


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