Você acredita no Brasil?

“Sim, ainda acredito no Brasil. Talvez seja culpa do meu otimismo compulsivo, se pararmos pra pensar em como o modus operandi corporativista vem passando como um trator nas particularidades do nosso povo. Em claro exemplo do lado B da globalização, todo armazém e botequim passa a ser um hipermercado ou McDonald’s em potencial. Por outro lado, tive a chance de passar uma semana na parte baixa de Kingston, capital da Jamaica, e pude perceber o quanto a maioria pobre-muito-pobre da população tem consciência de classe e a resistência cultural é patente. As semelhanças entre a terra de Bob Marley e a do Mano Brown são muitas, apesar das direções opostas que se encontram no momento. Fica a esperança de que nós brasileiros consigamos superar os ecos da escravidão e da ditadura militar, rumo ao nível de organização que permita o alcance de algum equilíbrio social.”
Rodrigo Brandão, rapper do Mamelo Sound System

“Se eu acredito no Brasil? Às vezes dá aquele desânimo, bate um ceticismo. Quando eu penso que o Brasil tem essa imensa riqueza cultural, e que a cultura é a voz de um povo… Então, acredito sim. No talento, na sabedoria e na tenacidade de um povo que consegue produzir, mas, infelizmente, não consegue se manifestar. A indignação que sinto é grande. Os desvios de verba, os roubos, os mensalões são verdadeiros genocídios indiretos. É a desigualdade que não diminui nunca. É um número enorme de crianças e adolescentes sofrendo carências, maus-tratos, indiferença e abusos. Quero um Brasil coerente com o que ele é em essência. A cordialidade e a doçura sendo respeitada, protegida e sendo parte de nosso perfil que admiramos. E não a fraqueza onde se abusa. Se acredito no Brasil? Mais do que acredito. Tenho fé no Brasil.”
Lígia Cortez, atriz e criadora da escola de teatro Casa do Teatro

“A cidade de São Paulo é uma prova de que devemos, sim, acreditar no Brasil. Como diz Adoniran Barbosa no clássico “Saudosa Maloca”, São Paulo é a comprovação permanente de que Deus dá o frio conforme o cobertor. Um exemplo é a poluição visual, que por tantas décadas atormentou a sensibilidade paulistana. Veio a Lei Cidade Limpa e, de um ano para outro, São Paulo mudou: era uma das mais poluídas do mundo e hoje é modelo de combate à poluição visual. Esse êxito mudou o sentimento da cidade e inspira o trabalho para enfrentar as outras poluições – sonora, do ar, das águas. A sensação de que pode dar certo orienta o programa de urbanização de favelas, as medidas para aliviar o trânsito, as ações pela saúde, pela educação. É só trabalhar com foco e não desanimar diante dos problemas.”
Leão Serva, jornalista, assessor de imprensa da Prefeitura de São Paulo. Autor de Cidade Limpa –
O projeto que mudou a cara de São Paulo
(Clio Editora, 2008).


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