Extra! Extra! Alguém está ganhando dinheiro…

Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração da MRV. Foto: Leo Drumond/Nitro/Divulgação
Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração da MRV. Foto: Leo Drumond/Nitro/Divulgação

Nem toda empresa brasileira pode comemorar a “maior receita líquida de sua história” em pleno ano de 2015. Esse é o caso da MRV Engenharia, a maior construtora e incorporadora do Brasil. A empresa anunciou a cifra de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre, resultado do aumento de 3,9% em seus lançamentos. Em 2014, suas 383 obras levantaram 8,7 milhões de metros quadrados, dois milhões a mais que a segunda colocada, a Direcional, e quase o dobro da Cyrela, a terceira colocada. Mas e a crise? “Quando o Brasil voltar a crescer, será possível avançar até 20% ao ano”, projeta Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração da MRV, em entrevista à Brasileiros.

O segredo da companhia é investir, desde sua fundação (1979), em imóveis populares. Agora, enquanto as construtoras de alto padrão veem seus lançamentos minguarem, a MRV constrói para as famílias que tentam comprar seu primeiro apartamento pelo programa federal Minha Casa Minha Vida. “O nosso maior foco é renda de três a seis salários mínimos. Nessa faixa salarial, o financiamento é muito bom porque usa os recursos do Fundo de Garantia.”

Outra vantagem é a demanda, muito maior do que a oferta. De acordo com seus cálculos, o déficit habitacional no Brasil exige a construção de um milhão de moradias por ano, mas apenas 500 mil são entregues. O mercado é tão promissor que a MRV descarta qualquer empreendimento no exterior pelos próximos anos. “Temos de absorver primeiro este mercado.”

Apesar dos bons resultados, Menin lamenta as consequências do ajuste fiscal, “recessivo”, que encareceu a produção do setor em até 2% e só deve tirar o Brasil da estagnação em 2017. “A crise política agrava a econômica, sem dúvida. O tempo agora é para que todos olhem o bem coletivo e não o próprio umbigo.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Brasileiros – A MRV aumentou os lançamentos em 3,9% no segundo trimestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2014. Como alcançar esse desempenho em tempos de crise econômica?
Rubens Menin – O Brasil e sua indústria estão vivendo um período difícil. A vantagem da MRV é que ela tem um foco nítido em imóveis populares, de financiamento mais barato e taxas de juros mais baixas. Como no Brasil há um déficit muito grande no setor imobiliário, a demanda ainda é muito maior do que a oferta. Hoje, constrõem-se no Brasil menos de 500 mil moradias ao ano, quando deveríamos entregar um milhão pelos próximos 20 anos.

Quanto o setor pode expandir com a retomada da estabilidade?
O tempo áureo da indústria imobiliária foi de 2006 a 2011, com uma ligeira crise em 2008. Quando o Brasil voltar a crescer, será possível avançar até 20% ao ano, como chegou a acontecer. 

Essa retomada pode começar em 2016?
Sinceramente, não. Se todos os agentes envolvidos fizerem o dever de casa e tudo der certo, 2016 será um período de adaptação, com um mar ainda revolto. O cenário possível para voltar a crescer é 2017.

O interesse do público por um longo financiamento não diminui com a inflação e o desemprego em alta e a confiança do consumidor em baixa?
Essa realidade existe. Os cortes de vaga e a redução dos salários inibem os negócios porque 99% deles são financiamentos de longo prazo. Isso ocorre porque a prestação do financiamento tem de caber na renda do trabalhador. Mas se a massa salarial diminui, menos pessoas estarão aptas a comprar um imóvel.

O ajuste fiscal afetou o setor? Alguma medida foi mais danosa para o mercado imobiliário?
O ajuste é recessivo. Ele diminuiu muito a atividade econômica. Para o nosso setor, o fim da política de desoneração da folha de pagamento encareceu o custo da produção. Estimamos que o valor final do imóvel ficará entre 1% e 2% mais caro. Nós não estamos demitindo porque a atividade não diminuiu. O momento é de capacitar nossos funcionários para expandirmos.

Por que a MRV leva vantagem em relação aos concorrentes ao focar em empreendimentos populares?
O nosso maior foco é renda de três a seis salários mínimos, que representam 80% dos negócios. Nessa faixa salarial, o financiamento é muito bom porque usa os recursos do Fundo de Garantia (por Tempo de Serviço). São juros de 4% a 6%, bem abaixo da inflação.

Mas a recessão não aumenta os atrasos nas prestações do Minha Casa Minha Vida, por exemplo?
Sim, mas apenas para a faixa salarial 1 (renda de até R$ 1.600). Esses empreendimentos dependem dos recursos do Tesouro Nacional. Agora, a faixa 2, com a qual atuamos, depende dos recursos do FGTS. Nessa faixa o governo apenas regulamenta os empreendimentos.

Depender em parte do FGTS não é um perigo para a MRV, uma vez que o desemprego provoca o aumento dos saques?
Além de retirar o dinheiro do FGTS, o trabalhador desempregado também para de contribuir. O Fundo sempre depende da intensidade dos empregos, mas acreditamos que as reservas são suficientes para os próximos dois anos, tempo suficiente para o Brasil voltar a crescer.

A crise também vem fazendo com que os saques da poupança aumentem. Esse movimento afeta o setor?
A crise é maior para as construtoras que investem em apartamentos de alto padrão. Como o empréstimo é em função da renda e do valor do imóvel, para quem ganha mais de dez mínimos a opção é recorrer à poupança.

O senhor acha que a crise econômica estaria nesse patamar sem a crise política?
Não. A crise política agrava a econômica, sem dúvida. Ela aumenta o grau de desconfiança de todos. É por isso que a crise é um alerta: o tempo agora é para que todos olhem o bem coletivo e não o próprio umbigo.

Quais são os planos da MRV para o exterior?
A gente fez estudo sobre a China, o México, os Estados Unidos e o Brasil. O setor nos Estados Unidos está forte, mas na Espanha não. A China também enfraqueceu. Não há uma regra fixa. Nós vamos continuar no Brasil. Não temos nenhum interesse em investir no exterior enquanto houver demanda por aqui. O Brasil tem 200 milhões de brasileiros, novas famílias em formação. Temos de absorver primeiro este mercado.


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