Desde 9 de outubro, o arquiteto Edvaldo Mendes de Araújo, o Zulu, é o novo presidente da Funarte – Fundação Nacional das Artes. Ele acumula interinamente o novo trabalho com a presidência da Fundação Palmares, dedicada à preservação e incentivo da cultura afro-brasileira. Zulu prometeu uma administração participativa, ouvindo os funcionários dentro de uma estrutura de colegiado. Sua nomeação é o término de uma crise iniciada com a administração do ator e diretor teatral Celso Frateschi, que dirigiu a instituição desde abril do ano passado. Ele demitiu-se no dia 6 de outubro.

Seu afastamento ocorreu após a revelação, em reportagem do jornal O Globo, que teria privilegiado o grupo teatral Ágora, coordenado por sua mulher, a coreógrafa Sylvia Moreira, e que ele próprio fundou. O parecer positivo da Funarte para o Ágora, necessário para a captação de recursos pela Lei Rouanet, foi conseguido em recordes seis dias, enquanto artistas como Fernanda Montenegro e Sérgio Britto aguardam a aprovação de seus projetos há quase um ano.
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Quatro dias antes de sua saída, a Associação de Funcionários da Funarte (Asserte) enviou ao ministro da Cultura, Juca Ferreira, uma carta na qual se queixava que “a Funarte vive o pior momento de sua história. A atual gestão tem-se mostrado extremamente autoritária, criando um clima de intimidação e desrespeito para com os servidores, que nunca foram tão aviltados e desconsiderados em suas competências”.

O ministro defendeu Frateschi das acusações de favorecimento à companhia teatral à qual está ligado. Segundo o ministro, a aprovação dos projetos com patrocínios garantidos, o que era o caso do grupo Ágora, sempre é agilizada. Mas também lamentou que o diretor teatral tenha criado um “conflito radical” com os funcionários da Funarte.

Em seu pedido de demissão, intitulado “O transatlântico encalhado”, Frateschi acusou a Funarte de “cariocacentrismo” radical” e de ser “alimento aos ratos da burocracia e do corporativismo”. Os petardos sobraram para o próprio ministro. O ex-presidente estranhou o que classificou como ataques coincidentes à sua administração: “Na dinâmica política, não há coincidências. Há oportunidades”. E ironizou: “Será que, com a saída do ministro Gilberto Gil, o Ministério da Cultura ‘desmontou’ a vitoriosa arquitetura de seleções públicas? Será que o maior programa de bolsas na história do Ministério da Cultura não está de acordo com a política do atual ministro?”

Segundo a designer Paula Nogueira, presidente da Associação de Servidores da Funarte, o referido programa de bolsas teria resultado em fiasco na administração de Frateschi, com um baixíssimo número de inscrições. “Numa das categorias de artes plásticas, só houve seis”, conta, o que levou à prorrogação até 20 de outubro para o envio de propostas. “Você não imagina a festa que foi a saída dele da Funarte”, acrescenta.

O artista plástico Xico Chaves, que já ocupou os cargos de assessor especial da presidência e coordenador de artes visuais da Funarte, lamenta o recente e tumultuado período: “Nem no período Collor foi tão ruim. Frateschi jamais chamou um artista ou funcionário para conversar e agia como inspetor de colégio do interior. Mas o que aconteceu foi bom porque rompeu grilhões. Todo esse processo aponta para novas relações de trabalho e uma modificação da própria estrutura da fundação, hoje dividida em setores como artes visuais, música e dança. Vivemos um período com o fim das fronteiras artísticas e, de alguma maneira, isso vai se refletir aqui”, comentou.


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