Francisco Alves, o rei do livro

img_140

A história da Francisco Alves Livraria e Editora remonta a 1854, na rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves Dias), nº 48, no coração do Rio de Janeiro. Um negociante de origem portuguesa ali fundou a Livraria Clássica de Nicolau Alves. Dez anos mais tarde, chegaria à capital fluminense um sobrinho seu. O jovem Francisco Alves d’Oliveira instalou um sebo no centro da cidade e, ao cabo de alguns anos, tendo realizado bons negócios, retornou ao Porto. Em 1883 regressou ao Brasil e, ao que tudo indica, com a intenção de ficar. Tornou-se sócio do tio e se naturalizou.

Daí em diante, a estrela de Francisco Alves, esse português de bom coração e gênio forte, como relatam seus memorialistas, não parou de brilhar. A partir de 1897 ele já respondia por todo o ativo e passivo da empresa. Em 1894 ele inaugurou na rua da Quitanda, em São Paulo, uma filial de sua livraria. Foi um grande evento que contou com a presença de figuras de proa da política e da literatura nacional, além de muito champanhe e a cobertura inflamada da imprensa. Não era, na verdade, apenas uma livraria. Tratava-se, no fundo, de uma grande promessa, pois Francisco Alves vinha se associar ao projeto republicano de expansão das escolas e das bibliotecas em todo o estado. A filial de Belo Horizonte, novíssima capital de Minas Gerais, foi inaugurada em 1907. Estava lançada, nessa época, a primeira rede livreira do Brasil. A partir de 1910, fato inédito na história de livreiros e editores brasileiros do seu tempo, a empresa se expandiu para o mercado europeu, adquirindo participações em Portugal e na França.

Surge, portanto, em boa hora a edição dirigida por Aníbal Bragança, Francisco Alves, Rei do Livro (Edusp). O livro sai justamente na proximidade do natalício de nosso homenageado, que nasceu em 2 de agosto de 1848, e apresenta um caleidoscópio de informações, reflexões e análises dessa grande figura. A lembrança ao rei do livro já seria bem justa se apenas rememorasse seus feitos ou os livros que escreveu e editou. Mas a edição traz muito mais do que homenagens, sob a forma, por exemplo, do belo caderno de fotografias que ilustra sua história. A reunião dos estudos de pesquisadores brasileiros diz muito sobre a abrangência das edições da Francisco Alves no território nacional, na sua primeira fase republicana. O que não é pouco, considerando que se trata de um período de forte descentralização das questões do ensino e, por outro lado, da concentração de recursos no eixo Rio-Minas-São Paulo. Este volume levanta, além disso, algumas reflexões sobre os silêncios em torno desse livreiro-editor, que enfrentou as propagandas antilusitanas no último quartel do século XIX e que, ao falecer, em 1917, doou praticamente toda a sua notável e surpreendente fortuna para a Academia Brasileira de Letras.

A notícia, certamente, sensibilizou os brasileiros mais bem-nascidos. Monteiro Lobato, ele mesmo, se mirou no exemplo de Francisco Alves, ao assumir que para ficar rico era necessário editar livros escolares. Estava certo o autor do Sítio! Porém, após décadas de justas homenagens ao “furacão da Botocúndia”, já era tempo de se abrirem as cortinas ao rei do livro Francisco Alves.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.