Câmara Municipal aprovou no início de agosto Projeto de Lei que cria o Dia do Orgulho Hétero. Na falta de algo melhor a fazer, o vereador Carlos Apolinário, do cansativo DEM, insistiu porque insistiu na proposta e acabou ganhando por cansaço o apoio de seus ilustres e aparentemente desocupados colegas.
Por mim, eu sinceramente dispenso a comovedora homenagem. Não que eu acreditasse, à moda dos paleo-heterossexuais, ou seja, do macho Ricardão, que todos os dias do ano já nos pertencesse. Nesse caso, haveriam de pensar os ditos cujos que besteira designar um único dia, no remoto mês de dezembro (o terceiro domingo, como quer o operoso edil).
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Dispenso a honraria, porque é um atraso de vida, não faz jus às relações contemporâneas e civilizadas entre as pessoas, além, claro, de promover, com falsa sutileza, o ódio entre os gêneros, já não bastassem as frequentes, repetidas manifestações de homofobia que terminam por aí em agressões e orelhas arrancadas a dentada.
Brasileiros, ao dedicar ao Homem esta edição, pretende espelhar a certeza – ainda que multifacetada – de que os gêneros amadureceram, que homens e mulheres caminham para uma ativa convergência de interesses e de repertório, nada a ver com o modelo patriarcal das gerações passadas e que, enfim, a tolerância virou um valor absoluto no convívio social. Guerra de sexo é – a gente acredita – página virada ou mera brincadeira de auditório de TV.
O Homem com “H” maiúsculo, do qual fala Brasileiros nas páginas seguintes, sabe compartilhar, sabe ouvir, tem o que dizer e tem como contribuir para o bem-estar social. O elenco que vem aí não nos deixa mentir.
Infelizmente, o atraso e o preconceito espreitam à distância, graças a figuras como a do notável vereador paulistano Carlos Apolinário. Difícil esquecer dela, quero dizer, da figura dele. O vereador Apolinário deve estar mortalmente incomodado com alguma coisa, tanto que, ao definir a data do Dia do Orgulho Hétero, fez questão de demarcar nítida fronteira entre nós, machos espadas, e os folguedos natalinos que se seguem depois da nossa recém-criada data – com aquela profusão de renas, veadinhos e a presença de Papai Noel, sempre cercado por seus dengosos anõezinhos.
Apolinário deu entrevista dizendo que seu projeto não tem nada de represália ao Dia do Orgulho Gay. “Meu cabeleireiro é gay”, informou o ilustre. Gay e, a julgar pelo resultado daqueles cabelos negros como a asa da graúna, profissional de duvidosa competência.
Quem deu maioria ao projeto de Carlos Apolinário foram os vereadores governistas, do PSDB, do DEM, do PPS e similares.
Quer dizer, são os aliados de Gilberto Kassab que estão criando um problema para ele próprio, já que para entrar no calendário oficial de São Paulo o projeto precisa ser sancionado pelo prefeito. Para Kassab, vai ser a maior saia justa.
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