Justiça, PF e Abin: uma guerra civil?

Lula em Roma, Obama discutindo com Bush uma saída para a crise mundial em Washington, e eu aqui, olhando para o belo mar na praia de Iracema, em Fortaleza, me dou conta, contra a minha vontade, que tem confusão no ar para todo gosto. Daqui a pouco embarco para São Paulo e as notícias que me esperam de volta à realidade não são nada animadoras.

Vários leitores já vinham me cobrando para escrever sobre o “que estão fazendo com o delegado Protógenes”, o enfrentamento entre diferentes facções da PF e com agentes da Abin, e a decisão do Supremo Tribunal Federal de referendar por 9 votos a 1 a ordem de Gilmar Mendes para mandar soltar Daniel Dantas duas vezes em 24 horas. Dizer o que a esta altura deste imbróglio que abala cada vez mais nossa confiança nas instituições?

Enquanto os militares resistem à idéia de uma revisão da Lei da Anistia, deflagra-se agora uma verdadeira guerra civil no aparelho policial e de segurança do Estado entre Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin), tendo como pano de fundo a porta giratória da Justiça que manda prender e soltar, alegando as mesmas leis e razões, a depender da instância da decisão e do poder do réu.

Fecha-se o cerco da imprensa em cima de Protógenes Queiroz, o delegado que passou em pouco tempo de herói da Operação Satiagraha, responsável pela prisão de alguns bacanas das finanças nacionais, a vilão, acusado de variadas irregularidades nas investigações.

Daniel Dantas sai do noticiário e dá lugar ao delegado que o prendeu, acusado agora de violar senhas da Polícia Federal para fazer grampos sem autorização da Justiça, segundo denúncia de Jerônimo Jorge da Silva Araújo, um dos 82 agentes da Abin que teriam sido recrutados por Protógenes para prestar serviços á Operação Satiagraha.

Protógenes dá de ombros à ameaça de pegar até 4 anos de prisão pela violação da chamada Lei do Grampo _ “não nasci delegado” _ e continua suas andanças pelo país para fazer palestras numa cruzada contra a impunidade dos poderosos. Já virou uma lenda, qualquer que seja o desfecho da Operação Satiagraha.

No clima de festa do caqui em que assunto de tal gravidade é tratado, agora é a vez da Abin contra-atacar, acusando agentes da PF de terem apreendido, no inquérito que apura vazamentos na Operação Satiagraha, dados utilizados em relatórios confidenciais produzidos para a Presidência da República.

Entre estes documentos, haveria informações sobre controle de fronteiras e manifestações de movimentos sociais, além de nomes de agentes secretos, que agora correm o risco de se tornar públicos. Os advogados de Daniel Dantas devem estar achando muita graça de tudo isso.


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