Liberdade para todos

De terça-feira a sábado, Rosângela Maria de Almeida, 45 anos, desembarca na estação de metrô São Joaquim, vinda da zona norte, por volta das 9 horas da manhã. Desce dois quarteirões até chegar ao salão Studio I, onde trabalha como manicure. Há 18 anos o bairro da Liberdade faz parte da vida de Rosângela, uma negra extrovertida de grandes olhos amendoados. “É um bairro bom para passear”, diz. Assim como Rô, muitos paulistanos passam diariamente pelas ruas da Liberdade. Uns apenas as cruzam de carro, outros definitivamente têm o bairro como destino final: vão ao trabalho, à escola ou para casa. Há nos arredores muitos hospitais e hotéis, escolas e faculdades, o que infla ainda mais o vaivém de pedestres e automóveis. É o caso de Luis Francisco Vieira Vasconcelos, que hoje estuda no campus Liberdade das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), mas desde criança freqüenta a feira do bairro nos fins de semana. Para completar a sua paixão pela cultura japonesa, ele ainda faz estágio na Fundação Japão. O que chama a atenção de quem desce pela primeira vez nas estações de metrô Liberdade e São Joaquim é a mistura de várias cores e vários olhos em um espaço antes marcado como reduto da colônia japonesa no Brasil.

Há quem equivocadamente diga que a Liberdade só atrai “turistas” e “brasileiros” na famosa feira da Praça da Liberdade, aos domingos. Há quem aponte os descendentes de japoneses como “japas”, como se fossem menos “brasileiros”. Mas, afinal, quem pode afirmar quem é o quê?

Marielle Yukie Udo, uma das freqüentadoras do salão da Rô, admira bastante a cultura japonesa. Estudante de relações internacionais na Pontifícia Universidade Católica (PUC), ela faz estágio na secretaria da ACCIJB. “Considero-me mestiça. Mais do que isso, me orgulho muito de ser uma mistura tanto de características biológicas quanto culturais. E não acredito em uma cultura japonesa pura, pois mesmo no Japão encontra-se uma mistura da cultura japonesa e de elementos estrangeiros”, diz. Intercalando palavras da língua portuguesa com sotaque oriental, com seu bigode grisalho e seus olhos miúdos escondidos atrás de grandes óculos, o professor Koichi Mori – um japonês radicado no Brasil desde 1995 – concorda. “A fusão, definitivamente, é positiva”. Mori, Rô, Luis e Marielle são figuras que ilustram bem essa miscelânea de povos da Liberdade. Atores de histórias e olhares diferentes sobre a imigração japonesa. Eles escapam do espetáculo folclórico da imprensa, mas simbolizam o encontro de culturas de várias cores em uma. A dos brasileiros.


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