Pesquisadores brasileiros descrevem áreas do cérebro afetadas pelo Zika

Um estudo recente feito por pesquisadores brasileiros em parceria com a Universidade de Tel Aviv, em Israel, e o Children’s Hospital, de Boston, nos Estados Unidos, indica que a microcefalia, característica em casos de infecção gestacional pelo vírus Zika, é apenas uma entre as diversas alterações cerebrais observadas. Os resultados são extremamente importantes porque descrevem quais as áreas do cérebro são mais impactadas e a gravidade dos danos. Entre os brasileiros, participaram do trabalho o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Pesquisa Professor Amorim Neto (IPESQ),

OMS divulga relatório sobre o Zika e mostra o desafio do controle da epidemia. Foto: OMS/EPA/A.Lacerda
Cientistas constataram diversas alterações neurológicas em bebês afetados pelo Zika. A microcewfalia é apenas uma delas.  Foto: OMS/EPA/A.Lacerda

A pesquisa a ser publicada na revista científica norte-americana Radiology avaliou gestantes, fetos e recém-nascidos infectados pelo vírus zika por meio de ressonância magnética, tomografia computadorizada e ultrassom. De acordo com a médica Fernanda Tovar-Moll, uma das autoras do estudo e  pesquisadora do IDOR e UFRJ, a pesquisa foi essencial para identificar a severidade das alterações neurológicas induzidas pela infecção viral no sistema nervoso central em formação. Deborah Levine, coautora do trabalho, reforçou a importância de descrever as diferentes malformações nos cérebros de fetos e bebês, causadas pelo vírus zika.

Diferente do observado em outras infecções como toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes, fetos e bebês infectados pelo vírus zika apresentaram malformações no córtex, a camada mais superficial do cérebro, e alterações localizadas na junção das substâncias branca e cinzenta do cérebro. Os pesquisadores também identificaram redução do volume cerebral, anormalidades no desenvolvimento cortical e ventriculomegalia, uma condição em que os ventrículos cerebrais (espaços preenchidos por fluidos) são maiores que o normal. Apesar de quase todos os bebês terem apresentado anormalidades na circunferência da cabeça, casos de circunferência normal em bebês com ventriculomegalia grave foram também encontrados.

Os resultados ainda apontaram anormalidades no corpo caloso, um feixe de fibras nervosas que permite a comunicação entre os lados esquerdo e direito do cérebro, e na migração neuronal, ou seja, os neurônios não se moveram para sua correta destinação no cérebro.

A equipe de pesquisadores irá aprofundar as investigações, correlacionando as alterações morfológicas observadas nesse trabalho com dados clínicos e imunológicos, além de informações do ambiente onde as mães e bebês foram infectados. “Estamos desenvolvendo um estudo de acompanhamento dos casos para investigar como a infecção congênita pelo vírus zika pode interferir, não apenas no período pré-natal, mas também na maturação cerebral pós-natal. A microcefalia é somente a ponta do iceberg”, afirma Dra. Fernanda Tovar-Moll.


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