Um dos sinais mais evidentes do estresse é o aumento da concentração do hormônio cortisol circulantes no sangue. Trata-se de uma resposta orgânica. Além das consequências já conhecidas do estresse, como a diminuição da imunidade, pesquisadores da Universidade de Gothenburg, na Suécia, acabam de divulgar os resultados de uma pesquisa mostrando que níveis elevados desse hormônio no sangue podem ter consequências ainda mais sérias para o organismo.
Após estudar um grupo de pessoas com uma doença rara caracterizada pela presença de concentrações muito elevadas de cortisol no sangue, os pesquisadores observaram que isso pode interferir em um processo conhecido como metilação do DNA e ampliar os riscos de apresentar alterações psicológicas no futuro.
Como? Primeiro é necessário compreender o que é a metilação. Trata-se de uma modificação química do DNA motivada pela agregação de algumas moléculas. O processo pode ser hereditário ou desencadeado por outros fatores, a exemplo do estresse, como mostra o estudo sueco. Dependendo do seu perfil, a metilação pode silenciar ou alterar a expressão de um ou mais genes.
Um caminho para futuros tratamentos
Para observar os efeitos do cortisol em pacientes com Síndrome de Cushing, o grupo de cientistas ligado à Academia Sahlgrenska observou 48 pacientes com Síndrome de Cushing. Também chamada de hipercortisolismo, ela surge a partir de uma desordem endócrina que determina a produção excessiva desse hormônio. Uma das causas é a presença de um tumor benigno na glândula pituitária ou adrenal. Entre os sintomas, pode haver obesidade abdominal, depósitos de gordura no rosto e pescoço, pressão alta e diabetes. Os indivíduos afetados têm ainda maiores riscos de manifestar depressão, ansiedade e déficit cognitivo.
Nos casos em que a origem do problema é o tumor nas glândulas, os sintomas físicos melhoram depois de uma operação. “No entanto, estudos anteriores mostram que os problemas psiquiátricos persistem em grande parte dos pacientes. Alguns deles não conseguirão retornar às vida ativa profissional e socialmente. Constituem um grupo de pacientes para quem estamos muito ansiosos em encontrar novas formas de ajudar “, diz Camilla.
Mas o diferencial deste estudo de Gotemburgo é que os efeitos da metilação do DNA foram estudados pela primeira vez em todo o genoma dos 48 pacientes. E o que os especialistas viram é que, no grupo com a doença, houve uma quantidade significativamente menor de metilações do DNA em comparação com o grupo controle formado por pessoas sem a doença.
“Se houver uma sensibilidade programada ao cortisol em que a resposta é depressão e ansiedade em niveis muito baixos, isso não é bom para o futuro da pessoa. Estamos falando de mudanças no DNA que tem potencial para persistir pelo resto da vida do paciente, e que podem ser hereditárias ” diz Camilla Glad.
A informação de que uma alta carga de estresse pode provocar mudanças no DNA não é uma novidade. Estudos anteriores feitos com genes específicos mostraram que o estresse extremo, com altos níveis de cortisol mantidos por algum tempo, interferem na metilação do DNA, o que pode levar a mudanças na expressão e características dos genes. Além disso, estudos específicos pacientes com alterações psiquiátricas persistentes mostraram que, em algumas delas, há alterações em genes ligados à sensibilidade ao cortisol e ao desenvolvimento e plasticidade do cérebro.
“Se pudermos mostrar que a metilação do DNA afeta os níveis de certas proteínas, isso pode abrir a porta para novas possibilidades de tratamento. No longo prazo, acho que se pode traçar novos caminhos para neutralizar os efeitos do estresse sobre o DNA”, afirmou a pesquisadora.
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