O chefão do Linkedin

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O Linkedin chegou dos Estados Unidos ao Brasil há cinco anos. Foi instalado em um pequeno escritório em São Paulo. Tinha seis milhões de usuários e amargava fama incômoda: ser um site específico para quem buscava uma colocação no mercado de trabalho. “Pessoas no topo das organizações ficavam com receio de anunciar seus perfis. Afinal, quem os encontrasse poderia pensar que estivessem à procura de um novo emprego”, afirma Milton Beck, atual diretor-geral da empresa na América Latina.

No entanto, essa mentalidade mudou. Hoje, o Brasil é o terceiro maior mercado da rede, com 27 milhões de usuários e um crescimento de cem mil pessoas por semana, em média, atrás apenas dos Estados Unidos, com 133 milhões, e Índia, com 39 milhões. No mundo todo, reúne 467 milhões de pessoas – uma base de dados que não deve ser desconsiderada. O Facebook divulgou recentemente 1,59 bilhão de usuários ativos por mês – os dados não incluem o uso de Instagram e WhatsApp, que também são do Facebook.

Beck explica que os usuários do Linkedin até podem sonhar com novo emprego. Mas “definitivamente” esse não é o primeiro interesse de quem navega pelo site. “Nós fizemos um trabalho importante para explicar que o Linkedin não é apenas uma ferramenta de buscas de emprego. As pessoas querem, basicamente, se expor, fazer networking, aprender, procurar por novas oportunidades, que até pode ser uma mudança de emprego, mas essa não é a prioridade. Normalmente, eles querem fazer negócios, encontrar conhecidos, saber mais sobre determinada empresa ou área específica, ler publicações e seguir pessoas de sua área profissional.”

Mas a rede agrega tudo, inclusive quem está desempregado. De acordo com Beck, os usuários “ativos” que querem um novo emprego representam 25% (pouco mais de seis milhões de pessoas). O restante está pelos outros interesses.

Para o diretor, Linkedin e Facebook são diferentes, não são concorrentes, mas, sim, complementares. “Aqui o usuário precisa se comportar como se estivesse em uma sala de reunião de trabalho. Os contatos do Linkedin não são necessariamente os mesmos de outras redes sociais, que prezam pelo entretenimento, e a gente sabe que as pessoas gostam de separar a vida pessoal da profissional.”

Ele recomenda perfis acompanhados de foto (condizente com um ambiente de trabalho), que são 21 vezes mais vistos do que um sem foto, e uma descrição detalhada das trajetórias acadêmica e profissional. Se a ideia é  disputar uma vaga internacional, será preciso criar o mesmo perfil nos dois idiomas: português e inglês. Anexar trabalhos realizados também é uma boa medida. Ainda que o usuário seja jovem demais e sem experiência, ele recomenda incluir trabalhos de conclusão de curso. “Todas as informações agregam valor.”

Mais: Beck recomenda não aceitar “qualquer um” no rol de amizades. Apenas os que são ou poderão ser importantes na carreira – os recrutadores e as empresas, que também querem se exibir como boas empregadoras vão encontrar os profissionais na rede. Importante saber que a rede reúne mais de 700 empresas.

Só o aumento no número de usuários explicaria a recente compra do Linkedin pela Microsoft por US$ 26,6 bilhões, uma das mais caras da história da empresa de softwares – antes, a maior aquisição havia sido a compra do Skype, por US$ 8,5 bilhões. Mas Beck conta que, a partir da aquisição, tudo será integrado, os dados pessoais com os dados profissionais e as conexões entre pessoas, empresas, universidades e outras instituições que estão no Linkedin.

Além disso, essa união também poderá servir como vitrine dos produtos da Microsoft – muitos deles voltados para o mercado corporativo. Em carta aos funcionários, Satya Nadella, presidente da Microsoft, afirmou: “Em essência, podemos reinventar a maneira de fazer profissionais serem mais produtivos, ao mesmo tempo que reinventamos o processo de vendas, marketing e gerenciamento de talentos”.

Para Beck, nada mudará com a chegada da Microsoft. Ele próprio está tranquilo e “feliz” com a notícia. Até porque conhece bem o esquema de trabalho da empresa de softwares. Antes de integrar a equipe do Linkedin, teve uma longa e bem-sucedida passagem pela Microsoft, tendo sido responsável pelo lançamento do videogame Xbox no Brasil. O desafio agora, afirma Beck, é expandir a rede por toda a América Latina e incrementar a área de Soluções e Talentos, que oferece ferramentas para as empresas encontrarem profissionais e se mantém como o maior setor da rede, correspondendo a dois terços da receita da empresa. A área Soluções de Marketing (publicidade) corresponde a 18% e Soluções de Vendas (solução corporativa baseada no conceito de social selling) e assinaturas Premium (em que candidatos a vagas aparecem com destaque para o empregador) significam 17% de todo o Linkedin.

Engenheiro mecânico da Escola Politécnica, USP, e pós-graduado em Business and Marketing Administration pela FGV, Milton Beck assumiu a direção geral do Linkedin na América Latina há três meses, mas está na empresa desde 2012. Naquela época, liderava justamente a área de Soluções e Talentos. “O diretor, Osvaldo Barbosa, e eu dividíamos uma mesa, batíamos o joelho. Havia apenas uma recrutadora.” Beck não largou a função inicial, preferindo acumular os dois cargos. “Gosto de vender.”

Nesses quatro anos de atividade no Brasil, muita coisa mudou no Linkedin, além do crescimento expressivo no número de usuários. O escritório também foi ampliado e hoje ocupa dois andares inteiros de um prédio inteligente às margens do rio Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Além das estações de trabalho, a empresa tem espaço reservado para o lazer dos funcionários, ocupado por balanços, mesas de pingue-pongue e pebolim, e cozinha com geladeira livre para quem tem fome ou sede – “uma tradição americana”. São 150 funcionários, todos contratados em regime de CLT


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