Corpos que se cruzam pelas vias, os trabalhadores, os hedonistas e, porque não, os exibicionistas. Pessoas, transeuntes, que fervilham por uma cidade que há muito se acostumou a ser adjetivada: ora com palavras belas, ora com palavras destruídoras. Palco político, economico e social do Brasil, o Rio de Janeiro, falido, se prepara para as os Jogos Olímpicos. Nos dois meses que antecedem o evento esportivo, o Museu de Arte do Rio, o MAR, (sob a gestão do Instituto Odeon) apresenta a mostra Linguagens do Corpo Carioca (a vertigem do Rio), que vai até 9 de outubro e integra a programação do festival FotoRio 2016.
A exposição é resultado de uma profunda pesquisa realizada pelo curador Paulo Herkenhoff e pelo fotógrafo e também curador Milton Guran e que coloca em cena 800 obras entre fotografias, vídeos, desenhos e gravuras.
As expressões visuais são tão múltiplas quanto os personagens nela representados: celebridades, pessoas célebres, anônimos, todos os que ajudam a dar consistência à alma carioca. “O escopo das imagens apresentadas vai da iconografia clássica do século XVI à imagens mais atuais, ilustrando, principalmente, a história da construção das concepções contemporâneas do ‘corpo carioca ‘ dos anos 1950 em diante”, escrevem os curadores. Trata-se de uma tentativa de construir uma identidade social, uma linguagem própria, um gesto que pudesse identificar quem é esse carioca que é, muitas vezes, confundido pela imprensa estrangeira como o representante do Brasil. “Os cariocas se verão espelhados e os visitantes de fora terão uma ideia dessa dimensão mágica e cosmopolita que é viver no Rio de Janeiro”, comenta Guran. Artistas como Walter Carvalho, Ana Stewart, Evandro Teixeira, Pierre Verger, Fabio Teixeira estão entre os artistas selecionados pelos curadores.
Mas se engana quem pensa que a exposição é um elogio ingênio à cidade maravilhosa. Como toda cidade, o Rio também tem seu lado mais escuro e melancólico. Se por um lado tem a bossa nova e a camaradagem, a cor e a alegria, também tem o crime, o tráfico, a bala perdida, a violência tão ou mais forte que o prazer disseminado. Neste sentido, as fotos de Ana Khan, que mostram vítimas de balas perdidas, são desoladoradas. Um espaço vazio, onde a presença é sugerida através da ausência, assim como no trabalho de Walter Carvalho que mostra lugares onde a violência é presente na cidade.
“Deste modo a mostra oferece uma experiência de vertigem com, a partir e através, do corpo situado e contaminado pela dinâmica urbana do Rio de Janeiro, com uma agenda ligada à resistência cultural e às práticas de cidadania, à alegria coletiva, à negociação e ao trabalho, mas também aos guetos da prisão e às drogas. Enfim, tudo aquilo que faz do Rio, uma cidade especial no mundo pela forma de vida de seus moradores”, concluem os curadores no texto de apresentação da mostra.
Serviço – Linguagens do corpo carioca (a vertigem do Rio)
Até 9 de outubro
Museu de Arte do Rio
Praça Mauá, 5, Centro, Rio de Janeiro
21 3031 2741
Deixe um comentário