“O que me interessa é o sonho de representar um País melhor”

Rodrigo Santoro é dirigido por Luiz Fernando Carvalho em cena de Velho Chico (Foto: Caiuá Franco)
Rodrigo Santoro é dirigido por Luiz Fernando Carvalho em cena de Velho Chico (Foto: Caiuá Franco)

Velho Chico, a nova telenovela das 21h da Rede Globo, estreia hoje na grade da emissora carioca. Com dramaturgia de Benedito Ruy Barbosa e direção de Luiz Fernando Carvalho, em meio a uma saga familiar que atravessa três gerações, dos anos 1960 até os dias atuais, a produção promete apresentar aos telespectadores de todas as regiões do País a exuberância natural do rio São Francisco e a riqueza ancestral do sertão e da caatinga.

O retorno do Nordeste como cenário de uma trama global em horário nobre encerra um longo ciclo de hegemonia das produções ambientadas no eixo Rio/SP. Afinal, lá se vão quase dez anos desde que Paraíso Tropical – novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com direção de Dennis Carvalho, exibida em 2007 – teve parte inicial de sua trama desenvolvida em locações nos litorais de Pernambuco, em Porto de Galinhas, e da Bahia, em Itacaré, Porto Seguro, Trancoso, Arraial D’Ajuda e Ilhéus. 

Ambientada na fictícia cidade de Grotas de São Francisco, Velho Chico teve mais de 500 cenas filmadas em locações do semiárido e da caatinga nordestina, sobretudo às margens do rio São Francisco, no distrito Povoado Caboclo e nas cidades Olho D’Água dos Cajados, em Alagoas, Baraúna, no Rio Grande do Norte, São Francisco do Conte, Cachoeira e Raso da Catarina, na Bahia.

No final de fevereiro último, a reportagem de Brasileiros foi ao Projac, o núcleo de produção da Rede Globo sediado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, para ter conversas com parte do elenco de Velho Chico e traçar um perfil de Luiz Fernando Carvalho. Diretor de TV e de cinema, Luiz Fernando é autor de adaptações literárias celebradas pela crítica, como Os Maias (Eça de Queiroz), Capitu (uma releitura de Dom Casmurro, de Machado de Assis), A Pedra do Reino (Ariano Suassuna) e Alexandre e Outros Heróis, baseada em dois contos de Graciliano Ramos, O Olho Torto de Alexandre e A Morte de Alexandre. No cinema, seu único longa-metragem, a adaptação de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, conquistou 25 prêmios, no Brasil e ao redor do mundo. Intitulada O Sertão Volta ao Horário Nobre, a reportagem é um dos destaques da edição de março de Brasileiros, que chega às bancas na próxima quarta-feira (16). 

A seguir, divididos por temas, alguns trechos da conversa com Luiz Fernando Carvalho. Leia a íntegra na edição de março de Brasileiros

Audiência
Nunca me preocupei com audiência. Se o ator entrar em cena e alguém disser pra ele “atenção, gravando, pense na audiência” ou “atenção, costureira, vá dar um ponto nesse vestido, passe já a linha na agulha, mas pense na audiência”, nada disso vai funcionar. A audiência é o imponderável. Van Gogh fez coisas maravilhosas, não teve “audiência” alguma e, hoje, é considerado um dos maiores pintores da história da arte. O que me interessa é o sonho de fazer um trabalho melhor, o sonho de representar um País melhor. Muitas das pessoas com as quais a TV dialoga tem um imaginário riquíssimo e, de repente, a gente dá um corte abrupto nessa realidade para abrir uma janela, mas nem sempre essa janela corresponde com a potência ficcional e fabular que aquela pessoa tem em sua memória.

Sertão místico
O imaginário do povo brasileiro é muito rico. A partir dos anos 1960, a televisão passou a ocupar o lugar dos oradores e das grandes narrativas populares. É evidente que, Brasil adentro, encontramos e assimilamos parte dessas fábulas. Algumas delas vão contracenar com a história principal de Velho Chico. Caso do Negro D’Água, uma figura mítica, que supostamente vive no rio São Francisco. O gênero narrativo da novela é o drama, mas ela também vai lidar com a dimensão mágica do sertão.

Ética e estética
Não trabalho com fórmulas, mas com necessidades. Precisamos retomar a nossa libido intelectual, o nosso desejo de um País mais belo e justo para todos. Meus passos seguem um conjunto de procedimentos que não provam ou garantem nada, mas que asseguram um entendimento de que a estética só é possível se percorrida de mãos dadas com a ética.

MAIS 
Veja galeria de fotos de bastidores de Velho Chico 


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