De tempos em tempos surge um livro que todo mundo lê ou, no mínimo, comenta. Um livro “obrigatório”, motivo de conversa em festas, bares, clubes, escritórios e redações de jornais e revistas. O Homem que Amava os Cachorros (Boitempo Editorial), romance-catatau do cubano Leonardo Padura é, no momento, esse livro. Ao relatar passo a passo a história que levou ao assassinato de Leon Trotski, recriando romanescamente a figura misteriosa de Ramón Mercader – o sujeito que enfiou a picareta no crânio do líder revolucionário –, Padura despertou a curiosidade de milhares de leitores mundo afora. Conhecido pela série de livros policiais com o investigador Mario Conde, o autor, ex-jornalista, levou quatro anos fazendo as pesquisas que deram verossimilhança à narrativa. E surpreendeu os próprios cubanos, que sabiam muito pouco sobre a história de Trotski, eliminada do currículo escolar do país, por conta da aliança com a União Soviética, de onde o ex-líder do Exército Vermelho estava proscrito. O livro foi um sucesso na ilha, no México, na Espanha, e aos poucos vem sendo traduzido nas mais diversas línguas, inclusive o russo, em edição prevista para 2015. Tranquilo e direto, Padura é bastante parecido com o personagem Iván Cárdenas, um possível alterego. Já tem um livro novo na praça, Herejes, sem previsão de lançamento no Brasil. No começo de abril, foi à Bienal do Livro e da Leitura em Brasília, como um dos principais convidados. Muito requisitado e solícito, leu na sua palestra trechos do gigantesco material de notas que recolheu para o livro. Depois, veio a São Paulo para uma conversa no Auditório Ibirapuera. A voz é grave e o espanhol claro. Fala depressa, sem hesitações, com frases bem construídas. A firmeza verbal, no entanto, não é sinônimo de certezas. Como todo grande autor, Padura está em constante questionamento da História, do próprio métier e de tudo o que percebe a sua volta.
Brasileiros – Conte um pouco da pesquisa que fez para escrever O Homem que Amava os Cachorros.
Leonardo Padura – Um romance de investigação histórica requer do escritor um conhecimento muito grande dos assuntos tratados. E numa história como O Homem que Amava os Cachorros, com um personagem como Ramón Mercader, muito mais. Fiz uma pesquisa muito ampla e, evidentemente, nem todos os elementos dela aparecem no romance. Há questões históricas que não cabiam no livro. Por exemplo, eu não podia escrever sobre as relações de Mercader com os cubanos que conheceu no período de seu exílio.
Por que não?
Porque não seria lógico que, se Ramón López (nome utilizado pelo assassino de Trotski) estava contando a história de Ramón Mercader a Iván, eu contasse o que Ramón Mercader estava fazendo naquele momento. Não seria harmônico. Esse é um dos exemplos de histórias que não aparecem no livro. Então, decidi escrever uma espécie de livro com documentos, histórias, anedotas, cartas que ficaram de fora e podem servir como complemento para o leitor de O Homem que Amava os Cachorros. Não sei ainda se vou publicar ou não. Li uma parte outro dia na Bienal de Brasília. É um trabalho que está em processo de criação.
Você estudou Trotski nas aulas de marxismo?
Em Cuba não se falava de Trotski. Eu estudei na universidade de 1975 a 1980. Desde o princípio da revolução e sobretudo nos anos 1970, o sistema de ensino e cultural cubano era uma cópia do soviético. Então, não se mencionava Trotski. Ele era um personagem que havia desaparecido da História.
Como foi a reação dos leitores cubanos ao livro?
Muito calorosa, muito interessada. Recebi uma quantidade enorme de mensagens, de telefonemas. Pessoas também me abordaram falando do livro. E a maioria falava uma coisa muito interessante. Eles me agradeciam por ter escrito esse romance, porque aprenderam não só uma história que não conheciam, mas também uma parte de sua própria história. Em Cuba, o livro teve duas edições, com cerca de quatro mil exemplares, o que é muito pouco. Uma em 2011, outra em 2012. Mas muitas pessoas trouxeram o livro da Espanha, do México, de Buenos Aires. Então, há muitos mais exemplares do que os editados em Cuba.
Quais as sequelas que o stalinismo deixou em Cuba?
O stalinismo deixou sobretudo uma sequela de caráter econômico. A economia cubana ainda hoje é socialista, centralizada, do modelo soviético.
Você acredita que o socialismo cubano pode reinventar-se?
Está tratando de reinventar-se, de buscar uma saída. Mas é difícil. É um país com uma estrutura econômica muito deformada. Houve uma série de produções, de especialidades, de culturas que desapareceram com o passar dos anos. Um exemplo é a indústria açucareira. Chegou a um ponto em que tiveram de chamar técnicos brasileiros a uma central açucareira para que ela se tornasse produtiva. E os cubanos eram os que mais sabiam de produção de açúcar no mundo. Até isso se perdeu.
Em algum momento, quando escrevia o livro, você teve medo? Houve uma reação do governo?
A reação foi o silêncio. Entretanto, esse livro ganhou, em Cuba, o Prêmio da Crítica, dado pelo Ministério da Cultura. Eu ganhei, depois, o Prêmio Nacional de Literatura, pelo Conjunto da Obra, mas foi muito importante a publicação de O Homem que Amava os Cachorros. Esse é um prêmio que ganham sobretudo autores de 70, 80 anos. Pela primeira vez em muito tempo, um escritor com menos de 60 anos ganhou o prêmio. Há sempre um certo temor na hora de escrever sobre realidades políticas, que são muito complexas em Cuba. O importante é não ter medo. Pode-se ter medo de escrever coisas que são muito sensíveis, que podem ter consequências de outro tipo, de caráter religioso, social, moral, de gênero. A questão é, em primeiro lugar, saber que está dizendo a verdade. Em segundo lugar, impor-se ao medo. Houve uma época em Cuba que era impossível não somente publicar esse livro. Era impossível imaginá-lo.
Na década de 1970?
Se ocorria a alguém a ideia desse livro nos anos 1970, esse alguém se entregava à prisão. Mesmo se não contasse a ninguém. Se entregava à polícia por algo que pensou. De todo o modo, nos anos 1970 era impossível escrever esse livro, não havia a informação a que eu tive acesso. Um exemplo é que em A Segunda Morte de Ramón Mercader, de Jorge Semprún, escrito em 1969, o Ramón Mercader que aparece no romance só tem o nome do personagem original. Nada mais, porque não se conhecia a história de Ramón Mercader. Quando Joseph Losey lançou seu filme (O Assassinato de Trotsky, 1972) tinha somente a visão da parte de Trotski sobre como havia sido o assassinato. Ainda hoje a informação sobre Ramón continua sendo muito pouca, embora exista um livro escrito por seu irmão, onde há pessoas que falam sobre Ramón Mercader na Espanha, no México e na União Soviética.
Isso significa que o seu Ramón Mercader tem muito de ficção?
Tem muito de ficção, mas pesquisas históricas me permitem pensar que Ramón Mercader era assim. Trotski, por sua vez, está biografado em, praticamente, cada dia de sua vida.
O seu livro está sendo traduzido para o russo. Que reação espera dos leitores?
Sairá no ano que vem. Nunca se sabe qual será a reação dos leitores em um determinado país. Aqui no Brasil haviam publicado quatro romances meus, que venderam normalmente. De repente, publica-se O Homem que Amava os Cachorros e vende-se muito bem, tem muitas críticas, entrevistas, pessoas que falam no romance. Dilma Rousseff o leu e me convidou, inclusive, para almoçar no Palácio do Alvorada, porque é admiradora desse livro e do meu trabalho. São coisas inesperadas.
Dilma Rousseff recomendou seu livro, em uma mensagem pelo Twitter. Como foi o almoço? Que impressões teve dela?
Sou um admirador do trabalho que Lula e Dilma vêm fazendo. Creio que o principal inimigo do Brasil é a pobreza e a distribuição desigual da riqueza. Isso é comum na América Latina. Creio que a luta contra a pobreza é o objetivo político mais importante que os dirigentes latino-americanos têm. E nisso Lula e Dilma vêm sendo muito ativos. Portanto, foi uma honra receber o convite dela para que fôssemos almoçar, minha esposa e eu, no Palácio da Alvorada. Foi uma refeição muito íntima, estávamos os três e Marco Aurélio Garcia (assessor especial para assuntos internacionais da Presidência). Falamos sobre literatura. Falamos um pouquinho sobre o Brasil. Um pouquinho sobre Cuba. E voltamos a falar sobre literatura, porque Dilma é uma pessoa muito interessada nos livros. E tinha muita curiosidade de saber como eu tinha escrito esse romance, por que tinha escrito. Falamos da utopia como uma das formas em que se manifestou o socialismo no século 20 e como se frustrou. Enfim, foi um encontro muito cordial, descontraído. Estivemos ali quase três horas. Não parecia que estávamos com a presidente de um país, mas com uma pessoa que nos convida a comer em sua casa para falar sobre literatura.
E por que você escreveu o livro?
Queria falar sobre Trotski, sobre seu assassino. Queria falar sobretudo de Stálin, do stalinismo, do fracasso da utopia, da perversão da utopia. Creio que todos estão de acordo de que existisse a possibilidade de criar uma sociedade em que todas as pessoas tivessem iguais oportunidades, todas as liberdades possíveis. E quando digo liberdades possíveis são as que condicionam a convivência. Em hipótese, se gosto de caminhar pelado pelas ruas, não praticaria essa liberdade porque estaria ofendendo a liberdade de outras pessoas. Foi isso o que propôs o socialismo. Criar uma sociedade com o máximo de liberdade e com o máximo de democracia. E, muito no princípio, sobretudo quando Stálin chegou ao poder, essa possibilidade se perdeu. O socialismo não foi nenhum modelo de liberdade individual nem de democracia coletiva.
Você lamentou que Guillermo Cabrera Infante e outros não puderam viver numa Cuba menos repressora. Como vê a literatura em Cuba hoje? Há mais liberdade, inclusive para os homossexuais?
Não acredito que Guillermo Cabrera Infante tenha saído de Cuba fundamentalmente por problemas políticos. Depois, ele converteu seus problemas em problemas políticos. Ele se foi porque estava em um grupo que lutava pelo poder cultural na Cuba revolucionária. Seu grupo perdeu. Essa foi uma das razões para ele sair de Cuba. Reinaldo Arenas foi reprimido em Cuba, mas boa parte da repressão se deveu a seus problemas de voracidade sexual. Temos de ser justos e sinceros. Não se pode dar somente a imagem de Guillermo Cabrera Infante como um opositor político ou de Reinaldo Arenas como um reprimido cultural. Eles também tinham outras razões pelas quais saíram de Cuba. Em boa medida, para Guillermo Cabrera Infante foi uma tragédia porque, depois de sair de Cuba, escreveu Havana para um Infante Defunto e nada mais que fosse notável. E Reinaldo Arenas escreveu com uma pressa e voracidade tremendas. Sua literatura é muito irregular. Hoje, acredito que a literatura cubana não tem a presença universal que poderia ter, em boa medida por culpa dos próprios escritores. Creio que se está escrevendo uma literatura muito local, do especificamente cubano, e isso sempre tem menos possibilidades de difusão internacional. Por outro lado, há uma grande culpa do aparato cultural cubano, incapaz de promover escritores que se convertam em figuras públicas dentro de Cuba e, logo depois, fora do país. Há então uma combinação de dois elementos. Mas creio que as pessoas estão escrevendo com uma liberdade infinita, em relação ao que ocorreu nos anos 1970. Naquela época, os grandes escritores cubanos ou estavam marginalizados, como José Lezama Lima e Virgilio Piñera, ou começaram a escrever romances do tipo realismo socialista, como foi o caso de Alejo Carpentier.
O que existe de Leonardo Padura em Ivan Cárdenas?
Tem muito, ainda que Ivan Cárdenas seja um personagem totalmente de ficção. Mas tem uma história que é a mesma de minha geração. Há muitos elementos de Ivan Cárdenas que ocorreram comigo ou que poderiam ter acontecido comigo ou com pessoas de minha geração. Ivan Cárdenas é uma síntese de muitos dos sonhos, das frustrações, das esperanças, dos desencantos de minha geração.
Há uma leitura possível do livro como obra de investigação. Pode-se afirmar que sua experiência anterior, com a série do detetive Mario Conde, serviu como um ensaio para escrever O Homem que Amava os Cachorros?
Não um ensaio. Cada livro que escrevi é o livro que eu podia e queria escrever naquele momento. E é o melhor livro que, eu era capaz de escrever. Se não é melhor é porque eu fui incapaz de fazê-lo melhor. Mas teve todo o meu esforço para ser o melhor livro que eu era capaz de escrever. Um escritor é a soma de suas experiências. E vai adquirindo o ofício, o profissionalismo na hora de escrever. Ocorre que, muitas vezes, esse ofício, esse profissionalismo, no momento concreto de escrever um novo romance, não serve de nada. Cada romance tem suas próprias exigências e você tem de aprender a escrevê-lo. Já sabe escrever os anteriores. O novo você aprende a escrever enquanto está escrevendo.
Como sua experiência como jornalista influenciou no seu ofício de escritor?
Muito. Tanto que os seis anos que eu trabalhei como jornalista marcaram a distância entre um escritor aprendiz, que havia escrito um romance e um livro de contos, e um escritor com recursos mais profissionais, que começa a escrever os romances da série de Mario Conde, em 1990. Os seis anos em que fiz jornalismo no diário Juventud Rebelde foram a minha melhor escola de literatura. Fiz um jornalismo muito literário, em que contava histórias, fazia pesquisas, falava de personagens que não tinham perfis definidos, porque eram personagens obscuros da história de Cuba. Isso me permitiu fazer literatura no jornalismo. E creio que o salto do escritor de antes de 1983 para depois de 1989 está marcado pelo jornalismo.
Agora foi lançada inclusive uma coletânea com artigos jornalísticos seus.
Esse livro foi publicado em Cuba nos anos 1990. Eram artigos dos anos 1980. Depois, saiu uma edição em Porto Rico, outra em México e agora está saindo essa na Argentina. Para mim é muito satisfatório que um trabalho jornalístico que fiz há 20 anos ainda continue a ser publicado. Tenho seis, sete livros de jornalismo. Sempre escrevi o meu jornalismo com o sentido de permanência. Por exemplo, em vez de fazer minha tese de graduação universitária, fiz um livro sobre El Inca, Garcilaso de La Vega, o primeiro escritor hispano-americano. Foi um trabalho que me marcou, pela busca das origens, algo que vem me perseguindo no decorrer de todo o meu trabalho. Há muitos trabalhos da minha época de jornalista que lembro com carinho. Por exemplo, a série de entrevistas com jogadores de beisebol, sobre a qual as pessoas em Cuba até hoje me perguntam, quase trinta anos depois. Os trabalhos sobre os músicos cubanos, principalmente uma série de quatro percussionistas que já estavam mortos, como Chano Pozo, que foi quem introduziu a conga no jazz americano. Ele trabalhou com Dizzy Gillespie e teve uma história trágica: morreu assassinado em Nova York, bem jovem (leia quadro).
Você é um pouco obsessivo?
Sou “muito” obsessivo. A essência para que um romance convença a um escritor é que seja verossímil. E a verossimilhança às vezes está nos detalhes. Em meu romance mais recente, Herejes, Rembrandt, o pintor holandês, aparece como personagem. Algo que me ajudou muito a entender como era Rembrandt foi saber que ele tinha problemas de cáries. Sofria muita dor de dente. Teve de arrancar dentes, porque se viciou em comer caramelos. Nessa época, em Amsterdã, na Holanda, se montam as primeiras refinarias. Com o mel que chegava da América, faziam uma espécie de melado, com o qual adoçavam as coisas. Não era ainda açúcar refinado. Também faziam uma espécie de bastões de caramelo, duros. Rembrandt ficou viciado em mascar esses bastões e acabou com seus dentes. Esse fato me aproximou da pessoa de Rembrandt muito mais do que outros elementos.
Qual é a história contada em Herejes?
É muito difícil resumir, porque são várias histórias que se entrelaçam em torno de um quadro de Rembrandt. O romance abarca um período que vai de 1642, em Amsterdã, até 2008, em Havana, mas não segue necessariamente essa ordem. Entre os personagens há Rembrandt, há um judeu sefardita que quer ser pintor, depois aparece um menino judeu que chega bem pequeno em Cuba e quando cresce vai para Miami, e há uma jovem cubana da tribo urbana dos emos. E à margem dessas histórias, aparece em primeiro plano ou subliminarmente esse quadro de Rembrandt, que é O Retrato de um Jovem Judeu ou A Cabeça de Cristo.
Emos? Como no Brasil e na Inglaterra?
O mundo está globalizado (risos).
E nesse mundo globalizado, você continua morando em Mantilla?
Sim, tenho uma relação familiar, cultural e sentimental muito profunda com o bairro. Minha família do lado paterno vive em Mantilla há quase 200 anos e eu moro na mesma casa em que nasci. Meu pai morreu nessa casa faz seis meses e minha mãe continua morando ali. A morte de meu pai foi repentina, um ataque de coração. Faltavam 15 dias para ele completar 87 anos. Antes, ele teve um problema de câncer que superou. Nessa época, pediu que seu cortejo fúnebre passasse pelos cinco pontos mais importantes de sua vida: a casa que ele construiu, e onde nasceram seus filhos; a casa de seu pai, onde nasceu; o lugar onde montou um empório, que funcionou até 1959; a estação de ônibus, onde depois foi motorista; e a loja maçônica, que fundou com outros maçons em 1952, e da qual foi mestre venerável por muitos anos. A distância máxima entre esses pontos era de 200 metros. Isso dá uma boa ideia de como é nossa relação com esse lugar específico de Havana.
Como vê o fenômeno da internet e o futuro dos livros?
Me preocupa a possibilidade de autoedição na rede, que é algo muito anárquico. Também me preocupa o acesso reduzido dos cubanos à internet. Lá, existem pessoas que poderiam ir muito mais longe se tivessem o conhecimento e a informação que passam todos os dias pela rede. O governo diz que isso vai melhorar, mas há ceticismo. Eu tenho acesso muito lento, praticamente não uso, só quando preciso de uma informação muito específica. E aí preciso de paciência.
Você declarou sua admiração por Raymond Chandler, que o inspirou a escrever a série do Mario Conde. Quais são seus heróis literários?
Tenho muitos modelos literários e nunca neguei isso. Os escritores americanos do século 20 são uma fonte importantíssima para mim, pois creio que são os que melhor sabiam contar histórias: Hemingway, Faulkner, Dos Passos, Chandler. E os escritores hispano-americanos, porque escrevem na minha língua. Leio muito Vargas Llosa, García Márquez, Cabrera Infante, Juan Rulfo, Cortázar, Fernando Del Paso e Alejo Carpentier, que são os mestres do idioma. Hemingway foi um dos primeiros a me deslumbrar, mas depois percebi que havia muito de artificial em sua escrita e passei a adotar uma relação de amor e ódio com ele. Isso aparece claramente no meu livro Adeus Hemingway.
Qual seria o papel da literatura para você?
Sempre que vou escrever um romance me pergunto para quê e não por quê. Acho que se escreve um romance para cumprir um objetivo determinado, que seja político, social ou até para ganhar dinheiro. No meu caso, não me interessa fazer política com meus livros, ainda que eles possam ter uma leitura política. Mas me interessa que tenham um papel social. Porque sou um cidadão e escrevo de minha sociedade ou de outras sociedades para que se entenda minha sociedade. E, por isso, acho que a literatura pode, sim, ter um papel ativo dentro de uma sociedade.
Está escrevendo algum livro novo?
Não. Esse ano tenho muito trabalho de promoção dos livros. Além disso, existe a possibilidade de fazermos uma série de televisão com o personagem Mario Conde, e eu teria de escrever os roteiros. Então, não vou começar nenhum romance por enquanto. Não gosto muito de terminar um romance e começar outro imediatamente. Hemingway dizia que escrever é como tirar água de um poço: se você tira água todos os dias, o poço vai secar. É preciso dar um tempo para o manancial refluir.
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