Palavras na Serra

Quem estiver acostumado com o frio, nada melhor do que visitar a bucólica São Francisco Xavier (a 138 km de São Paulo), que fica mais especial com o Festival da Mantiqueira, evento literário promovido pela Secretaria do Estado de Cultura de São Paulo. O evento já está na terceira edição e tenta se consolidar. “A gente espera que ele se consolide. Lembro que quando estávamos procurando uma cidadezinha para fazer esse evento literário, o primeiro lugar que visitamos foi São Francisco Xavier e já de imediato decidimos que seria aqui que iríamos realizar esse evento”, disse André Sturm, coordenador geral do Festival da Mantiqueira, logo após a abertura oficial do festival.
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A abertura teve show do Grupo Formigueiro, que entoou o chorinho pelo local, agradando em cheio ao público presente. São Francisco Xavier, por ser um lugar pequeno, com pouca infraestrutura, não comporta muita gente, por isso o festival não tem condições de crescer mais do que já é atualmente. “Assim que pensamos nesse local, a gente sabia que não teríamos condições de crescer indefinidamente. Mas isso nunca foi nossa pretensão. Tivemos nas duas primeiras edições do festival um público estimado de 10 mil pessoas, e esse ano esperamos em torno de 12 mil, que é o limite que a cidade e o festival comportam. Não queremos ser uma nova Flip, e sim, um lugarzinho que cultiva anualmente a literatura e seus escritores”, revela Sturm.

Convidados e show

Como toda cidade do interior, São Francisco Xavier tem pracinha, igreja e coreto. E é nesse lugar que foi armada a Tenda Principal e onde irá acontecer os debates com os convidados. Nesse primeiro dia de atividades, podemos destacar as seguintes mesas: A História contada de uma maneira diferente, com Ivan Sant’Anna e Leandro Narloch (15h), Literatura e Poderes, com os escritores Lira Neto, Fernando Gabeira e Arnaldo Bloch (17h30). De alguma forma, o Prêmio de Literatura de São Paulo, instituído também pelo Governo do Estado, ficou atrelado ao Festival da Mantiqueira e, por isso, os finalistas nas categorias de escritor estreante e não estreante, serão anunciados neste sábado (29), às 19h, dentro do evento. As atividades desse primeiro dia do festival se encerram com um show especialíssimo de Arnaldo Antunes, no palco principal, às 22h30.

Entrevista Ferreira Gullar

Como acontece desde a primeira edição do Festival da Mantiqueira, o convidado principal do evento será o poeta Ferreira Gullar, que no domingo (30), às 14h, fala sobre o conjunto de sua obra. Ele conversou com exclusividade para o site da Brasileiros, por telefone de sua residência em Copacabana, no Rio de Janeiro. Veja os principais trechos da entrevista.

Brasileiros – Esse ano você completará 80 anos (nasceu em 10 de setembro de 1930, em São Luís do Maranhão). Ainda tem ânimo para participar de eventos literários?
Ferreira Gullar –
Por que não teria? Estou velho demais, já não presto mais (risos). Estou brincando, mas não vejo por que não participar. Sei que existe muita gente curiosa em me ver pessoalmente, conversando sobre o que escrevo, o que penso. Por isso, procuro não recusar convites assim, para não decepcionar essas pessoas. Mas sei também, e lhe confesso que estou me sentido um pouco cansado e vou evitar convites que me tirem muito tempo de casa. Portanto, aproveitem bastante de mim nesse festival (risos).

Brasileiros – De onde nasce sua poesia?
F.G. –
Ela nasce do chão, das entranhas. Por isso, ao mesmo tempo em que ela é visceral, também é transcendental. A poesia serve para transcender, para nos tirar do concreto, do real, no bom sentido. O poema primeiro tem que me comover para depois comover o leitor.

Brasileiros – Esse ano você vai lançar um livro inédito de poesias. Há quanto tempo você vem se dedicando a esse projeto?
F.G. –
Ele foi gerado nesses últimos 11 anos. Vou lançá-lo no segundo semestre.

Brasileiros – Você concorda quando os críticos elegem o livro Poema Sujo, de 1975, como seu melhor livro de poesia?
F.G. –
Não saberia dizer se é o melhor, porque nunca parei para pensar a esse respeito, mas sei que é o livro em que trago o maior número de interrogações e descobertas. Agora se é o meu melhor livro, não saberia dizer.

Brasileiros – O que a velhice traz?
F.G. –
Além de doenças, de perdas (Ferreira Gullar teve três filhos e perdeu Marcos, com 33 anos, que morreu de cirrose hepática. O filho mais velho, Paulo, tem esquizofrenia e vive em Recife, Pernambuco), das dores do viver? Acho que uma coisa que sempre me pergunto: “E agora?”.

Brasileiros – Você acompanha os novos escritores brasileiros?
F.G. –
Tento ler algumas coisas que jovens escritores, poetas, me mandam. Mas devo confessar que sou leitor de releituras de livros que me marcaram, me tiraram do chão.

Brasileiros – Além de poeta, você escreve sobre artes, especialmente, sobre artes plásticas, e escreve crônicas para jornais e revistas. Suas crônicas servem para você dialogar seus pensamentos com os outros?
F.G. –
Sou um privilegiado por ter uma tribuna, digamos assim, para falar o que penso, o que acho das coisas, o que me comove, o que me revolta, como, por exemplo, essa política nefasta e seus politiqueiros de alcova.


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