Para escrever uma nova história

Mais de 500 mil crianças brasileiras estão fora das escolas, de acordo com dados do IBGE. No mundo todo, esse número chega a 69 milhões em idade para a educação primária (de 6 a 11 anos), segundo a UNESCO. Mas uma caneta com o desenho de dois ramos de oliva e uma safira azul incrustada pode contribuir para mudar essas estatísticas.Desenvolvida pela mais tradicional fabricante de canetas do mundo – a Montblanc – em parceria com um das instituições de maior credibilidade – o UNICEF -, as canetas, assim como outros produtos de luxo da centenária marca alemã, fazem parte de uma linha especial criada para arrecadar fundos com a missão de combater o analfabetismo. Trata-se do programa Signature for Good (Assinatura para o Bem, em tradução livre), criado em 2009. Todos os produtos dessa linha, vendidos nas 300 lojas da grife, que está presente em 70 países, apresentavam pequenas referências ao UNICEF – os ramos de oliva e a safira das canetas foram inspirados no logo e no azul da entidade. Com edição limitada, as canetas elaboradas a partir da versão Meisterstück, modelo criado em 1924 e que até hoje mantém o mesmo design, se tornaram verdadeiros objetos de desejo para colecionadores (com o encerramento do programa, em dezembro de 2010, os produtos não estarão mais no mercado).Paralelamente a isso, o Signature for Good também promoveu leilão de retratos de estrelas do cinema encarnando grandes personagens da literatura. Doze celebridades de Hollywood aceitaram posar para as lentes do fotógrafo norte-americano Roger Moenks, na pele de heroínas como Julieta, de Shakespeare; Dulcineia, de Miguel de Cervantes; e Marguerite Gautier, de Alexandre Dumas. Entre elas, Andie MacDowell, Sienna Miller, Milla Jovovich, Susan Sarandon, Mira Sorvino, Jessica Lange e Christina Ricci. Depois de a exposição rodar o planeta, passando por capitais como Londres, Pequim e Nova York, as fotos foram leiloadas.No Brasil, a ação para divulgar o programa contou com a participação de Lázaro Ramos, capa desta edição da Brasileiros e embaixador do UNICEF, e Mauricio de Sousa, “pai” da personagem Mônica, também embaixadora do órgão. Além do escritor Ignácio de Loyola Brandão, da artista plástica Sônia Menna Barreto, da empresária Cristiana Arcangeli e de Luiz Carlos Delben Leite, um dos maiores doadores de recursos ao UNICEF do País. Eles escreveram um texto à mão sobre a importância da alfabetização na vida de cada um deles. Os manuscritos foram expostos em outubro de 2009 no shopping Cidade Jardim, em São Paulo.A arrecadação do Signature for Good – que inclui o valor total da venda das imagens das celebridades internacionais e o valor parcial da linha de produtos Montblanc – resultou em um cheque de US$ 4 milhões para projetos do UNICEF destinados ao combate do analfabetismo, doado recentemente em Miami (EUA). “A parceria da Montblanc com a entidade acontece desde 2004. Os programas já chegaram a arrecadar US$ 1,5 milhão, mas o saldo do Signature for Good foi um recorde”, comemora Adriana Tombolatto, diretora de marketing da marca no Brasil.Flávio Franco, oficial da área de Parceiras e Mobilização de Recursos do UNICEF no Brasil, afirma que a entidade atua para garantir que crianças e adolescentes tenham o direito de aprender e de serem alfabetizados na idade certa. “Para que esse objetivo seja alcançado, o UNICEF acredita que é necessário atuar em parceria com diversos atores sociais, como empresas, ONGs, sociedade civil e governos”, explica.Adriana diz que o objetivo da pareceria da Montblanc com o UNICEF, além de ajudar as crianças, é contribuir com a propagação da educação e cultura. “A filosofia da marca sempre esteve ligada a esses temas, mais que simplesmente promover a escrita”, afirma.

CANETA DO BEM Modelo da Montblanc com folhas de olivia e safira que remetem ao símbolo do UNICEF

Foi com a temática da importância da escrita – totalmente ligada às origens da empresa, que nasceu em 1906, em Hamburgo, como fabricante exclusiva de canetas -, que a Montblanc inaugurou a parceria com a agência da ONU, há sete anos. O programa de estreia foi o Sign up for the Right to Write, no Brasil chamado “Pelo Direito de Escrever”. Nele, um artista plástico, o norte-americano Tom Sachs (que naquele ano havia participado da Bienal Internacional de São Paulo), a designer francesa Andrée Putman e o arquiteto alemão-americano Helmut Jahn foram convidados para criar embalagens originais para a legendária caneta Meisterstück 149, modelo tradicional da marca. O interessante é que foram produzidas 4.810 unidades dessas canetas – a mesma altura do monte localizado na fronteira entre França e Itália, o mais alto da Europa, que batiza a marca, o Mont Blanc. Além disso, o programa lançou uma campanha mundial com 149 personalidades, entre elas o ator Ethan Hawke, a estilista Vivienne Westwood e o piloto brasileiro Emerson Fittipaldi, para discorrerem sobre direito de escrever. “Amo escrever pela simples razão que amo as palavras, os símbolos, a linguagem e o poder do discurso…”, dizia um trecho do texto escrito por Catherine Deneuve, que se engajou na causa. Os textos foram leiloados no e-Bay.Em 2007, outro programa, o The Power to Write, também convidou 149 personalidades, mas com outra missão: se passarem por vendedores da loja por um dia. A campanha foi lançada em uma data emblemática, 8 de setembro, Dia Mundial da Alfabetização. O escritor brasileiro Ignácio de Loyola Brandão participou da iniciativa na loja da rua Oscar Freire, em São Paulo. “Os recursos obtidos são destinados a programas de educação do UNICEF em países da África, Ásia e América Latina. A proposta é destinar os fundos para países que mais precisam. Por exemplo, na África, a parceria contribuirá com a iniciativa Escolas da África, que tem como objetivo ampliar o acesso à educação básica para crianças, com foco naquelas mais vulneráveis, incluindo crianças órfãs e aquelas que vivem em extrema pobreza”, afirma Franco.Neste momento, uma Wish Tree, a “Árvore dos Desejos”, circula ao redor do mundo. A árvore passa pelas lojas da Montblanc, onde pessoas comuns e celebridades são convidadas a expressar seus sonhos em termos de alfabetização em papeizinhos que ficarão pendurados nos galhos. Ao final do percurso, a Wish Tree deverá ser leiloada. E a luta pela alfabetização infantil mundial terá avançado mais um passo.

Festa consciente

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