Perda de emprego faz Lula cair 5 pontos

Atenção leitores:

post atualizado às 18h30 com nova pesquisa CNI/Ibope e a morte de Victor Siaulys.

E aí? Não vai escrever agora sobre a queda da aprovação a Lula na nova pesquisa Datafolha? Calma, pessoal, o dia mal começou e, antes de escrever, preciso primeiro me informar direito sobre o que dizem os números da pesquisa.

O índice de ótimo e bom do governo Lula, que vinha crescendo mesmo após o início da crise, para espanto da mídia e da oposição, caiu agora de 70 para 65%. Ainda não dá para cravar a manchete “Aprovação a Lula despenca” como muitos já sonhavam.

Uma hora era certo que a queda na aprovação iria acontecer, na medida em que caem a atividade econômica e o nível de emprego, na esteira da maior crise econômica mundial desde 1929.

Desde que a crise começou em setembro, com a quebra de bancos nos Estados Unidos, o PIB vem caindo e Brasil já perdeu quase 800 mil empregos com carteira assinada.

Diante desta realidade, seria irracional imaginar que os índices de aprovação pudessem subir novamente ou mesmo que se mantivessem no mesmo patamar.

Lula volta agora ao mesmo nível de aprovação que tinha antes do início da crise (eram 64% no Datafolha do início de setembro).

Ou seja, continua com a melhor avaliação de um presidente da República desde a redemocratização do país. O segundo colocado, segundo o mesmo Datafolha, Fernando Henrique Cardoso, alcançou um máximo de 47% no primeiro mandato e de 31 no segundo.

O que diz a Folha:

“Ainda predomina, porém, a opinião de que o país será pouco prejudicado pela crise, embora essa taxa tenha se reduzido de 58% para 55%”.

“Apesar disso, a queda na aprovação a Lula não é proporcional á gravidade da crise. Esse descolamento parcial entre a piora no cenário econômico e a avaliação do governo federal já tinha ficado evidente na pesquisa de novembro _ quando a redução da atividade econômica já provocava um recuo de 7,2% na produção industrial somente naquele mes”.

“Isso acontece porque a avaliação do presidente Lula diante da crise continua positiva, ainda que em um grau menor do que antes”.

Apesar da avalanche de noticiário negativo que dominou a imprensa nos últimos seis meses, o brasileiro ainda não entrou em desespero.

Ao contrário, dois em cada três trabalhadores (65%) acham que não correm o risco de ser demitidos, embora 59% dos pesquisados acreditem que o desemprego vai aumentar.

Para 71% dos brasileiros, a situação econômica do país vai melhorar ou ficar como está e só 24% acreditam que vai piorar (4% não sabem).

Diante do quadro mundial, os números da pesquisa Datafolha são para mim bastante animadores, tanto na percepção da crise por parte da população como na aprovação do governo.

Se esta mesma pesquisa fosse aplicada em qualquer outro grande país, acho muito difícil apresentar hoje números tão favoráveis quanto ao futuro imediato. Ainda não chegou a vez dos urubulogistas poderem bater no peito: “Eu não disse?!”

Senado afunda mais

As últimas notícias que chegam de Brasília sobre o Senado Federal, de outro lado, são cada vez mais desanimadoras. Mais do que isso, são revoltantes, como se pode sentir nos comentários enviados pelos leitores ao Balaio.

Inconformado com os R$ 7 bilhões destinados este ano “para administrar a atuação política de 81 senadores”, o leitor Everaldo, das 7h40, enviou seu desabafo em forma de versos (ver no post que escrevi sobre a homenagem a Reali Jr.), resumindo toda a ira dos eleitores que já estão perdendo a paciência.

Enquanto isso, as “medidas moralizadoras” anunciadas pela direção da Casa, após a enxurrada de denúncias desta semana, são um verdadeiro deboche.

Após o país ficar sabendo que o Senado tem 181 diretores na sua administração, o primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) veio a público para anunciar que serão cortados 50 destes cargos.

Por que exatamente e só 50? Fortes, que está há séculos no Senado e ficou assustado com o número de diretorias, explicou candidamente que o número foi escolhido de forma aleatória por ser “expressivo”.

Que maravilha! Quer dizer que vamos continuar pagando os altos salários (R$ 16 mil, mais gratificações) aos 131 diretores que restaram para cuidar de 81 senadores?

Na mesma página, o jornal nos informa que “senado inclui em reforma cela para quem cometer crimes dentro da Casa”.

Pode estar aí uma esperança, mas acho que a área destinada à obra é muito pequena: apenas 8,97 metros quadrados. O diretor da polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo, justificou assim os R$ 8 mil destinados à construção da cela:

“Aqui nós temos que funcionar efetivamente como uma delegacia”.

Em tempo 1

Passei a tarde fora de casa (ver nota abaixo) e, ao voltar, encontrei na capa do iG nova pesquisa de avaliação do governo Lula. Desta vez, foi o CNI/Ibope, que registrou uma queda de 9 pontos _ de 73 para 64 _ entre setembro, quando a crise começou, e março.

Não muda o que escrevi acima, já que apenas um ponto de ótimo e bom separa uma pesquisa da outra: 65% no Datafolha e agora 64% no CNI/Ibope.

Em tempo 2

Cheguei agora do velório do amigo Victor Siaulys, que partiu nesta madrugada, aos 73 anos, depois de enfrentar uma longa e sofrida batalha pela vida.

Os leitores mais antigos deste Balaio puderam acompanhar o drama do empresário Siaulys, que os amigos chamavam de Vitão, em posts publicados no ano passado relatando como ele vinha derrotando a leucemia com muita garra e coragem.

Fundador do Aché, o maior laboratório farmaceutico brasileiro, Vitão dedicou boa parte da sua vida e dos seus recursos a projetos sociais _ o maior deles, o Laramara, cuidava de deficientes visuais.

Muitos deles estavam hoje no velório no Hospital Albert Einstein onde o amigo passou os últimos dias da sua vida.

Cada um que chegava encontrava sobre uma pequena mesa mudas de árvores para levar de lembrança junto com um poema em que Victor Siaulys deixou suas últimas palavras escritas:

EPITÁFIO

Neste Santuário não vou morrer

Vou adormecer como minha labrador, a Vanila

Acordarei neste Jardim do Éden coberto de flores

Com a algazarra matinal das araras

Com os louros pedindo atenção e uma palavra amiga

Sendo acariciado pelo vento do lago e

Beijado pelas borboletas das capuchinhas

Rodeado de amigos fiéis de quatro patas

Avisar ao Chico Prego que continuo aqui

Continuar a soltar todos os pássaros

Ser embalado pelo corrupião Pavarotti

Pedir notícias aos cisnes sobre seus filhotes

Cavalgar a Blinis, minha Vênus platina

Por isso não vou morrer

Na natureza nada morre,

Tudo apenas se transforma

Nossa vida nunca acaba, ela apenas se transforma

Quero continuar ajudando o grande jardineiro

Que um dia plantou tudo isto aqui neste Santuário

Quero ajudá-lo a cuidar de seus animais

Preservar cada uma das árvores que ele plantou

Serei uma folha, caída no chão

Que morre para adubar novas plantas

Ou uma semente

Quanta promessa de vida dentro dela!

Por isso não posso morrer

Seria injusto abandonar tantos amigos.


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