Peter Ludwig, o homem que sabia demais de… ARTE

as décadas de 1960-70, Colônia e Düsseldorf eram a esteira por onde escoava a produção alemã de arte, e Joseph Beuys, o maior artista do Pós-guerra, reinava absoluto. Nesse clima efervescente, Peter Ludwig, dono da fábrica Monheim, de chocolate, em Colônia, já era o maior colecionador europeu de pop art. Sua coleção não parava por aí. Tinha, entre outros, Matisse, Braque, Léger. Depois, abriu o leque para o neoexpressionismo alemão, a arte russa, a alemã oriental, a chinesa. Enfim, tudo muito equilibrado e garimpado entre o que havia de melhor no mercado de arte.

Em 1968, Ludwig cedeu seu acervo, ainda inicial, ao Museu Municipal de Colônia, o Wallraf-Richartz. Onze anos depois, ele decidiu doar tudo à mesma instituição, desde que criassem um museu de arte moderna dentro do mesmo prédio e colocassem seu nome. Não dava para resistir. Afinal, ele era o mais importante colecionador do país. Além de reunir obras de Andy Warhol, Jasper Johns, Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg – nomes-chave do movimento pop que explodiu nos anos 1960 –, ainda tinha obras de estrelas, como Max Ernst, Chagall, e contemporâneos, como Basquiat e o alemão Gerhard Richter. Negócio fechado, o Museu Ludwig ajudou a dar mais brilho à cidade de Colônia que, na época, era passagem obrigatória para quem ia à Documenta de Kassel.

Nos anos 1960, enquanto os norte-americanos ainda hesitavam diante das experimentações da pop art, Peter Ludwig comprava todas as melhores peças que caíam em suas mãos. São 74 obras de sua preciosa coleção expostas agora no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, sob o título Visões na Coleção Ludwig.

A curadoria é de Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, representantes do Museu Ludwig no Museu Russo de São Petersburgo, e Ania Rodríguez. A mostra é abrangente e dá uma ideia do deslocamento do colecionador pelo mundo à procura de exemplares que pudessem traduzir suas épocas dentro da história da arte. Ele arrematou a tela pintada a quatro mãos por Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat, um grafite com inquietações que já apontavam para um neoexpressionismo carregado de cores fortes e gestos nervosos. No mesmo andar onde essa obra está, outras ligadas às correntes norte-americanas New Image Painting e Pattern and Decoration, a exemplo de Rosas de Samarcanda, 1977, de Robert Kushner, são resultados de suas viagens a Nova York.

Um dos conjuntos mais densos é representado pelo hiper-realismo de Ralph Goings com a obra Lanchonete de Unadilla, de 1977; a pintura em encáustica, A Sombra, de 1959, de Jasper Johns; e uma pintura de Cy Twombly, Sem Título, de 1968. Tudo somado a um núcleo forte do neoexpressionismo alemão, movimento que resgatou a pintura na década de 1980, com obras de seus maiores expoentes: Georg Baselitz, Immendorff, Markus Lüpertz e Anselm Kiefer.

Essas descobertas são mais conhecidas, mas no subsolo do Centro Cultural Banco do Brasil há peças reveladoras de um colecionador atento à produção socialista adquirida mesmo antes da queda do muro. São ao todo 20 trabalhos, garimpados entre artistas contemporâneos de vários países, como os russos Boris Zaborov, Cabeça de Mulher Velha, 1990, e Vladimir Yankilevsky, Tríptico nº 14 Autorretrato, 1987; e o grego Pavlos, Guarda-roupa IV, 1968.

Nesse “bunker” também estão 48 retratos de mulheres cujos nomes compõem a história dos séculos 19 e 20, feitos por Gottfried Helnwein. Ele também assina o retrato de 6 m de altura de uma menina que abre a exposição, logo na entrada do Centro Cultural. Do pintor mais caro da atualidade, Gerhard Richter, está uma das obras mais poderosas da mostra, um painel de 48 retratos dos maiores pensadores da história do século 20. Ludwig foi a Veneza em 1972, onde a obra estava exposta, tinha sido feita especialmente para a edição daquele ano e a arrematou.

Como ocorre cada vez mais, não basta colecionar. Hoje, os colecionadores querem também possuir seus museus. Ludwig foi de longe o mais ambicioso nesse quesito.  Hoje há Museu Ludwig associado a outros museus em 12 países, como Cuba, China, Áustria e Rússia. Em 1996, pouco antes de morrer, ele fez nova proposta ao museu de Colônia. Doaria seus 774 Picasso, desde que o Wallraf-Richartz Museum se mudasse para outro prédio, deixando os mais de cinco mil metros quadrados de área apenas para o Museu Ludwig, desejo que foi concretizado por Irene, sua viúva, em novembro de 2001. Uma das características do museu é a enorme escadaria, ladeada de vidro e iluminada por luz natural. Ao mesmo tempo, observa-se as obras e se vê o público fora do prédio. O projeto é assinado por dois arquitetos de Colônia, Peter Busmann e Gottfrid Haberer.


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