Quadrinhos com a força de Tupã

Conheci o trabalho do Toral nos anos 1980, HQs incríveis sobre a Guerra do Paraguai. Tudo feito a lápis, desenho lindo; como diriam por aí, um moço de fino traço. Nome de peso do quadrinho nacional. Então abro o envelope que chegou pela manhã e tiro esta edição saída do forno de Os Brasileiros, seu último trabalho. Grande oportunidade para dar um shut down em toda a parafernália estúpida da vida e deitar no sofazão por umas duas horas com um quadrinho dos bons – com todas as despesas pagas, diga-se de passagem. São sete histórias. Os brasileiros são os índios que estão aí desde sempre e tudo gira em torno deles, mas os protagonistas são os gringos, que também desde sempre vêm ao Brasil para tirar uma casca. Nos contos inventados pelo Toral, eles invariavelmente quebram a cara, isso quando não são servidos de almoço para a rapaziada das malocas (Hans Staden que o diga). Mas é bom lembrar que quando falo em “contos inventados pelo Toral”, estou me referindo a invenções de um historiador e antropólogo que resolveu se meter com algo ainda maior, os quadrinhos. André Toral é antropólogo e sua base é de muita pesquisa e conhecimento de história do Brasil. Obviamente, tudo desemboca diretamente na mistura de índios canibais com europeus salafrários. Mas note que é levado a sério, tanto que em um álbum de 88 páginas sobre índios, rolam, no máximo, uma meia dúzia de peitinhos e uma única curra. A meu ver, o único ponto baixo do belo livro do André Toral.

UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA
O paulistano André Toral, 50 anos, é historiador, antropólogo e entrou para o universo dos quadrinhos em 1986, com Pesadelos Paraguaios, história publicada na extinta revista Animal. Colaborou com as principais revistas do gênero no Brasil e em 1992 lançou sua primeira graphic novel, O Negócio do Sertão, publicada novamente em seu mais recente livro Os Brasileiros(Conrad Editora do Brasil, 88 páginas, R$ 38,). Com ele, ganhou o Troféu HQ Mixde melhor roteirista nacional. Seu segundo trabalho, Adeus, Chamigo Brasileiro – Uma História da Guerra do Paraguai, de 1999, também lhe rendeu o prêmio. Toral ainda encontra tempo para produzir livros e artigos sobre temas relacionados à antropologia e à história da arte e para dar aulas em uma universidade de São Paulo.


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