Obras de mais de 50 artistas estarão na segunda edição da trienal Frestas

 

A curadora da Trienal de Artes Daniela Labra. Foto: Divulgação
A curadora da Trienal de Artes Daniela Labra. Foto: Divulgação

De agosto a dezembro deste ano, Sorocaba, no interior de São Paulo, vai receber 160 obras de mais de 50 artistas de diferentes nacionalidades e linguagens durante a segunda edição de Frestas – Trienal de Arte, promovida pelo Sesc.

O nome da mostra vem da origem da palavra Sorocaba, que em tupi-guarani significa “lugar de rasgaduras” ou “terra rasgada”. Segundo a curadora da exposição, a crítica de arte Daniela Labra, a ideia de interstício, presente no nome da trienal, também norteou a escolha do artistas. “Quando comecei a pensar essa exposição com a ideia de vãos, de ‘espaços entre’, pensei em artistas que nos levam a refletir sobre a própria indefinição da arte, que trabalham de modo interdisciplinar e que trazem ambiguidades em seus trabalhos”, explica Labra, citando como referência as obras do artista Rafael Alonso, um dos nomes selecionados para a mostra. “Ele trabalha com pintura, mas troca a tinta por outros elementos como plástico e objetos diversos. Apesar disso, o discurso dele como artista ainda é de um pintor, mesmo que não seja explícito”.

Além dos quadros de Alonso, também estarão na Trienal de Artes os trabalhos dos brasileiros André Komatsu, Daniel Senise, Rivane Neuenschwander, Wanda Pimentel e Thiago Honório. Entre os artistas internacionais participam Francesca Woodman, Héctor Zamora e o coletivo feminista Guerrila Girls. A escolha dos artistas, aliás, reflete temas que a equipe curatorial quer destacar, como gênero e sexualidade, ambiguidade de formas e materiais, temporalidade, crítica social e política e artisticidade.

Entre as obras de cunho político e social, a curadora chama atenção para Departamento de Reclamações, instalação do coletivo norte-americano Guerrilla Girls que convida as pessoas a fazerem qualquer tipo de reclamação. Além das artistas de Nova York, Labra destaca também a série de joias da mexicana Teresa Margolles, feitas em 18 quilates e cujas pedras preciosas foram substituídas por estilhaços de bala e vidros, retirados de cadáveres vítimas da guerra contra narcotráfico.

A arte na pós-verdade

As mais de 160 obras apresentadas ao público em agosto, metade delas inéditas, retratam também o título desta edição, Pós-Verdades e Acontecimentos, e a impossibilidade de definir o que é verdade e o que é real nos tempos de hoje. Segundo a curadora, a decisão pelo tema foi feita antes mesmo de o termo se tornar o mais comentado na internet em 2016, ou de ter sido eleito a palavra do ano pelo dicionário Oxford. “O termo pós-verdade, não é novo, é dos anos 1970, e volta a cena a partir da discussão da corrida presidencial dos Estados Unidos”, comenta a curadora, que explica o termo como a verdade vinda de uma opinião ou notícia falsa e que gera novos acontecimentos. “A arte nos leva, como indivíduos, a tentar encontrar uma verdade própria. Diante de uma obra de arte só nos resta desfrutá-la da forma que melhor considerarmos, sem o julgamento se o que vemos é verdade ou não”. 

Fora do eixo

Além de abordar temas atuais e muitas vezes polêmicos, Labra vê como outro grande desafio da Trienal a decisão de sair dos pólos de arte contemporânea mais conhecidos e se estabelecer em uma cidade a 90 km de São Paulo. “Foi interessante entrar em contato com galerias internacionais e artistas mais estabelecidos. Muitas vezes nem recebíamos resposta, outras vezes os artistas eram blindados pelas próprias galerias. Tenho certeza que, para alguns artistas, se fosse uma mostra europeia ou americana o posicionamento seria outro”, observa a curadora.

Os trabalhos selecionados irão ocupar não só os 2.300 metros quadrados reservados pelo Sesc Sorocaba como também prédios históricos, comércios e espaços públicos da cidade, de forma a dialogar diretamente com a localidade. Algumas obras, inclusive, vão falar diretamente com a história de Sorocaba, como o projeto de Maria Thereza Alvez, que reconstitui a memória dos indígenas que habitavam a região. “Em um país tão grande como o nosso é preciso pensar em descentralizar a arte”.


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