Saúde mental protesta contra risco de perder unidade em SP

Fachada da unidade de atendimento em saúde mental, que recebe cerca de 10 mil pessoas por mês. Foto: Acervo do Museu da Santa Casa
Fachada do CAISM Vila Mariana, que recebe cerca de 10 mil pessoas por mês. Foto: Acervo do Museu da Santa Casa

O Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), no bairro de Vila Mariana, zona oeste da cidade de São Paulo, está sob a ameaça de interromper o atendimento. A instituição atende cerca de 10 mil pessoas com problemas mentais por mês. Na manhã da sexta-feira (14), os profissionais da saúde do CAISM foram informados sobre a possível desativação do centro. A justificativa é de que a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que administra o atendimento e os recursos do Sistema Único de Saúde direcionados ao CAISM, não teria mais condições de manter o serviço em funcionamento. O prédio pertence à Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.

Logo após o anúncio, começou a circular nas redes sociais uma petição pública endereçada ao governo estadual na qual pacientes, familiares e funcionários explicam o serviço prestado e sua importância na rede pública de serviços de saúde, defendendo a sua manutenção. 

Por meio de sua assessoria de imprensa, o governo estadual negou qualquer intenção de encerrar as atividades do CAISM Vila Mariana. Diz a nota: “A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informa que não procede, de maneira nenhuma, que o Centro de Atenção à Saúde Mental (Caism) de Vila Mariana será fechado. Os pacientes da unidade permanecem com o atendimento normalizado.”

Procurada pela reportagem, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que opera o serviço, afirmou, também por meio de nota, que: “não são verídicas quaisquer informações referentes ao fechamento do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM).  A unidade  segue operando normalmente conforme contrato firmado com a Secretaria  Estadual de Saúde.” 

Não é novidade que o CAISM enfrenta problemas por falta de verbas, assim como as outras unidades da Santa Casa de São Paulo, que atravessa grave crise financeira. Reportagem feita pelo telejornal Bom Dia São Paulo (Globo), em 1º de outubro, mostrou que há falta de medicamentos, de leitos (com pacientes dormindo em colchões no chão) e de combustível para as ambulâncias, entre outros sintomas da carência de recursos. Para muitos pacientes, o CAISM funciona como um centro de resinserção social. Há diversos casos em que depois de tratar indivíduos com quadros psiquiátricos graves, as equipes ajudaram a obter aposentadoria e moradia. 


Leia, abaixo, a petição pública divulgada pela comunidade do CAISM Vila Mariana

UNIDOS PELO CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRADA A SAÚDE MENTAL – CAISM Vila Mariana

Para: Governo do Estado de São Paulo

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO
 

Tivemos conhecimento da definição por parte da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, de interromper os serviços prestados junto ao Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) da Vila Mariana, nós, funcionários, pacientes e familiares do CAISM, apresentamos os seguintes esclarecimentos:

O CAISM foi inaugurado em 30 de outubro de 1998, fruto da parceria entre a Irmandade e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, cabendo a Irmandade a administração e o funcionamento do hospital.
O serviço do CAISM se caracteriza pelo atendimento aos usuários em quatro níveis de atenção:
• Ambulatório
• Hospital-dia
• Internação
• Emergência Psiquiátrica

As especialidades cobertas estão assim distribuídas:

• Psiquiatria Geral e Emergências,Infantil e Forense
• Unidade de Idosos, de Álcool e Drogas
• Psicoterapia
• Autismo

O trabalho do CAISM objetiva a Reabilitação Psicossocial do usuário, favorecendo o estabelecimento de habilidades sociais perdidas ou então não desenvolvidas devido o transtorno mental.
Atualmente o CAISM conta com 43 leitos de internação, 60 leitos de Hospital- Dia. Além das atividades assistenciais a que se propõe, com um volume de aproximadamente 10.000 consultas ambulatoriais mensais e um atendimento superior a 11.000 pacientes por ano no Pronto Socorro, também é reconhecidamente um equipamento de saúde voltado à formação e aprimoramento de profissionais na área da saúde mental.

Dentro do CAISM está inserida a Unidade de Referência em Autismo, única no Estado de São Paulo, que é um serviço de excelência, sendo não só assistencial como multiplicador de conhecimentos.
O Pronto Socorro Psiquiátrico é referência no atendimento de emergência, de todas as regiões de São Paulo, embora seja responsável pelos atendimentos da região central da Capital, sendo que os dois únicos Prontos Socorros Psiquiátricos da cidade de São Paulo de portas abertas são o CAISM e Mandaqui. Somos ainda retaguarda de emergência para outros serviços como:
-Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) Adulto, AD Sé, Itapeva, AD Vila Mariana, Jabaquara, Ceci, Complexo Prates, Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (CRATOD), Amparo Maternal, Unidades Básicas de Saúde, Caps da Região Sudeste da Prefeitura e Centro de Referência e Tratamento/AIDS Vila Mariana.

Para as diversas áreas de pós graduação e graduação em medicina, fonoaudiologia, enfermagem e psicologia, servindo como campo de estágio na área de saúde mental. Somos destaque em Residência Médica em Psiquiatria, e nos seus quase 20 anos de existência, formamos mais de uma geração de excelentes profissionais, alguns destes com sólidas carreiras acadêmicas, bem como a formação de pesquisadores.

O CAISM é a principal sede do programa de residência médica, atualmente com 61 residentes, o que permite classificá-lo como o maior do Estado de São Paulo, sendo a sede do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. Recentemente foi inaugurado o Ambulatório de Psiquiatria Forense para atendimento psiquiátrico à população carcerária do Estado de São Paulo, e firmado convênio com o Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (IMESC), como um dos únicos estágios em psiquiatria forense. Também foi inaugurada a Enfermaria para pacientes autistas, e o ambulatório de Generalidades (AGE) com atendimento à população à população LGBTQIA.

Outros aspectos de extrema relevância são as pesquisas na área de neuromodulação, autismo, transtornos alimentares, primeiro episódio psicótico e obesidade, entre outras e que tem apoio e patrocínio de agências de fomento como FAPESP, CAPES/CNPQ, com cerca de oitenta artigos científicos publicados em revistas renomadas nos últimos dois anos.
O CAISM também é sede do Centro de Estudo e Pesquisa do Departamento de Saúde Mental da Santa de São Paulo (CEPESAM), referência na organização de cursos, seminários e atividades cientifica-acadêmicas em psiquiatria. Além de todas as atividades citadas somos referência para a Associação Brasileira de Psiquiatria e neste ano mais de 60 psiquiatras realizaram a prova prática de título.

Tais motivos fazem do CAISM uma instituição de vanguarda que muito contribuiu para o desenvolvimento da Psiquiatria paulista e brasileira.

Pelas razões expostas, é fundamental o apoio da população em geral e dos órgãos de comunicação, para que não se permita o fechamento do CAISM Vila Mariana.


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