Servimos bem para servir sempre!

O preço do vinho em nosso País está cada vez menos animador. Recheado e coberto por impostos, o vinho é classificado por aqui como bebida e não como alimento, como acontece em muitos países da Europa. Além de chegar bem mais caro já nos portos – cerca de 30% do valor de custo dos produtos importados são impostos -, o processo agrava ainda mais quando passa pelas mãos dos vários intermediários antes de efetivamente descer goela abaixo. Importadoras, lojas, revendas, restaurantes, todos querem ter lucro sobre o produto e, mais do que isso, todos têm gasto em impostos com o produto.

Em relação aos vinhos nacionais, o cenário também não é dos melhores. Os gordos impostos já começam na produção do vinho e se estendem até mesmo para mover as nossas doces garrafinhas de um Estado para outro. Cerca de 50% do valor de um vinho nacional são impostos e, uma vez que ainda contamos com o preconceito dos próprios brasileiros em relação a seus produtos, as barreiras fiscais ficam mais difíceis de serem ultrapassadas, pois sem um consumo aquecido de vinhos nacionais temos menor poder de barganha. A cobrança da taxa-rolha (artifício que permite a entrada e o serviço da sua garrafa em restaurantes) é uma prática recorrente em nosso País, uma vez que em muitos outros os comensais são proibidos de levar seus vinhos aos restaurantes.

Serei parcial em meu pensamento, afinal de contas trabalho em restaurantes e, sendo assim, não poderia deixar de sê-lo.

Em muitos estabelecimentos, os vinhos são parte considerável da receita bruta do negócio, cerca de 30%, então para suprir e fazer deslanchar essa receita, fica claro o investimento. Taças, adegas, treinamento da brigada, material para limpeza de copos, carta de vinhos, pagamento dos funcionários do setor de vinhos, tudo isso é custo.

Quando falamos de um restaurante onde as taças são de cristal, a brigada é especializada e os materiais são de primeira qualidade, o preço da rolha é condizente a esse investimento.
Além dos fatores acima citados, uma coisa é certa: na maioria das vezes, é muito mais trabalhoso servir um vinho trazido por um cliente que um do próprio restaurante, pois este pode estar fora das condições adequadas de serviço, tendo de ser corrigido.

Aprendi muito com os vinhos levados por clientes, grandes vinhos, que provavelmente não teria a chance de provar e conhecer. Porém, o que coloco aqui não é o fato de levar seu próprio vinho e sim pagar por esse serviço, pois a você caro leitor e também a mim, que compreende a real relação de um restaurante com um cliente, a de prestação de um serviço, fica explícita a necessidade de pagar por ele. A relação gentil, cordial e verdadeiramente próxima de um restaurante com seu cliente não deve se basear em regalias, mas sim em uma real satisfação em servir e atender, até porque oferecendo regalias a uns, estamos passando para trás muitos outros e isso não é ético.

A máxima de que o cliente sempre tem razão está caindo por terra, não por questões de arrogância e prepotência das pessoas que o serve, mas sim por uma visão muito mais profissional e íntegra dos trabalhadores da área de restaurantes, que começam a compreender que para gerar satisfação precisam, em primeiro lugar, estar satisfeitos.

Só existe uma máxima que nunca cairá por terra: “Servimos bem para servir sempre!”.


*Graduada em Gastronomia, com especialização em Enogastronomia e maître-sommelier dos restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, em São Paulo.


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