Uma rosa no asfalto

Quando em 1928, o arquiteto Ramos de Azevedo projetou a casa que seria residência de sua filha, Lúcia, então recém-casada com o engenheiro Ernesto Dias de Castro, ele não imaginava que, 81 anos depois, o imóvel seria conhecido como um dos espaços culturais mais importantes do País, promovendo eventos das mais diversas vertentes, exposições, palestras e oficinas – como a do mestre Patativa do Assaré -, cursos e saraus. E, ainda por cima, que a Casa das Rosas, como ficou conhecida a residência graças à paixão e esmero com que Lúcia cuidava de suas roseiras, continuaria com esse carinhoso apelido. Localizada em plena Avenida Paulista, a Casa das Rosas, no entanto, passou por alguns percalços até chegar a esse desfecho.

Durante 51 anos, a casa, com seus 30 cômodos, serviu como lar da família tradicional paulistana. Em meados dos anos 1980, a Avenida Paulista deixou de ser uma área residencial tranquila para abrigar enormes arranha-céus comerciais. Com o progresso, muitas das mansões da região foram demolidas ou tombadas pelo Patrimônio Histórico, assim como a Casa das Rosas. Depois de passar por uma intensa restauração, em 1991 foi inaugurada a Galeria de Artes Casa das Rosas, um espaço de eventos e exposições ligado às artes plásticas. Por determinação da então secretária estadual da Cultura, Claudia Costin, em 2003 o local foi fechado, passou por reformas e rebatizado em 2004 como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura (Casa das Rosas). Uma homenagem a um dos mais importantes poetas concretistas paulistano, falecido em 2003, que teve toda a sua biblioteca particular, com cerca de 20.000 títulos, sendo 11 mil livros e nove mil periódicos do século XX, doada ao Estado.
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A Casa das Rosas passou a ser então um importante espaço voltado à literatura e poesia brasileiras, não somente a concretista, mas qualquer forma de expressão poética. Atualmente, abriga a biblioteca de Haroldo de Campos em seu subsolo, disponibilizando todos os seus livros para consulta. Tornou-se um importante polo de pesquisa sobre poesia e literatura, além de oferecer cursos de produção e aperfeiçoamento de técnicas literárias. Os cursos têm um valor simbólico de R$ 10, como taxa de matrícula. “É uma garantia de que as pessoas não irão se inscrever e depois desistir”, diz o diretor-geral da Casa das Rosas, Frederico Barbosa. O Espaço também possui a primeira biblioteca circulante do País, com exemplares diversos da literatura mundial para consulta local e também para locação por períodos de 15 dias. E ainda uma livraria da Imprensa Oficial, focada em poesia. “É comum acontecer eventos que associem a literatura e poesia à música, teatro, dança. Essas relações intersemióticas são importantes para a assimilação da poesia hoje”, afirma Barbosa, que também é poeta, professor e diretor da Organização Social Poiesis, que administra, além do Espaço Haroldo de Campos, o Museu da Língua Portuguesa, na Luz, e a Casa Guilherme de Almeida, em Perdizes, todos em São Paulo. Ele enxerga hoje um importante momento para a poesia em São Paulo. “Todos os dias da semana há pelo menos um sarau acontecendo em algum canto desta cidade”, diz. O Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura faz a sua parte e alimenta o diálogo entre a poesia acadêmica e a poesia do dia-a-dia.


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