Abuso de drogas e álcool pode ser reação à dor crônica, diz pesquisa

Muitas drogas, como a maconha e a heroína, possuem propriedades analgésicas e podem estar sendo usadas como uma espécie de “medicação” para aliviar dores crônicas, mostra pesquisa da Universidade de Boston publicada na edição de maio do Journal of General Internal Medicine. Após análise com mais de 500 usuários, o estudo sugere que parte da resistência de muitos para saírem da dependência pode ser explicada pelo alívio a dor que essas substâncias promovem.

“Embora a associação entre dor crônica e dependência de drogas tem sido observada em estudos anteriores, essa pesquisa vai além e quantifica quanto desses pacientes estão usando essas substâncias especificamente para tratar a dor”, explica o professor Daniel Alford, autor do estudo.

Os resultados deste estudo sugerem que terapias para dependência focadas apenas em informar os pacientes sobre as consequências negativas do uso de drogas e álcool não pode perder de vista um aspecto importante: que é o motivo pelo qual essas pessoas estão usando essas substâncias. Nesse caso específico, para o alívio da dor.

Em estudo, 87% dos dependentes utilizam drogas como "analgésicos" para tratar dor crônica.  Foto: Ingimage
Em estudo, 87% dos dependentes utilizam drogas como “analgésicos” para tratar dor crônica. Foto: Ingimage

Para chegar ao resultado do estudo, pesquisadores selecionaram aproximadamente 589 pacientes em tratamento para dependência química. Em entrevistas e questionários, os cientistas observaram que 87% dos recrutados sofriam de dor crônica e utilizavam o álcool e outras drogas para se automedicarem. Ainda, metade desses pacientes sofriam de dor severa.

Os cientistas também conseguiram estabelecer a prevalência da dor crônica de acordo com o tipo de substância utilizada. No subgrupo de drogas ilegais (tirando o álcool e medicamento), 51% disseram fazer uso dessas substâncias para aliviar especificamente algum tipo de dor física. Já as pessoas que utilizaram medicamentos de forma indevida, o registro de dor era de 81%. No grupo dos que abusavam do álcool, 79% disseram que o fazem para controlar a dor.

O estudo abre caminho para uma compreensão mais profunda sobre a dependência química e explica, em parte, a razão pela qual o tratamento muitas vezes é tão difícil -com altas taxas de recidiva. 

“A dor deve ser tratada como parte da estratégia de longo prazo para a recuperação. Se as drogas estão sendo usados ​​para automedicação, pacientes podem estar relutantes à abstinência porque os sintomas da dor podem voltar. Por isso, ela deve ser gerida adequadamente, inclusive com tratamentos não baseados em medicamentos”, explica Alford.


Fonte:
Primary Care Patients with Drug Use Report Chronic Pain and Self-Medicate with Alcohol and Other Drugs. Disponível em: http://link.springer.com/article/10.1007/s11606-016-3586-5


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