Ação na Cracolândia gera crise na gestão Doria; secretária se demite e ativistas ocupam prédio

A operação realizada na Cracolândia no domingo (21) deflagrou uma crise no governo Doria. Além da demolição de imóvel com gente dentro na terça-feira (23), a secretária de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, pediu demissão do cargo na quarta (24). Entidades também afirmaram que gestão quebrou compromisso firmado e Ministério Público abriu inquérito. Ainda, nesta quinta-feira (25), há uma ocupação no prédio da Secretária Municipal de Direitos Humanos localizada na rua Libero Badaró, 119, centro de São Paulo. A prefeitura ainda não se pronunciou. 

A ocupação ocorreu após o pedido de demissão de Patrícia Bezerra. Em conversa com movimentos sociais, Patrícia classificou a ação na Cracolândia de desastrosa. Sem a presença de Patrícia, movimentos pedem audiência pública com Felipe Sabará, secretário de Assistência Social para sexta-feira (26).  Eles reivindicam uma explicação sobre ação na Luz e pedem o fim da repressão. A ocupação foi organizada pelo Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais (Catso). 

Foto panorâmica de prédio da Secretária de Direitos Humanos na Rua Dr. Falcão, que fica ao lado da prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, centro. Imagem: Monique Oliveira
Foto panorâmica de prédio da Secretária de Direitos Humanos na Rua Dr. Falcão, que fica ao lado da prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, centro. Imagem: Monique Oliveira

Segundo movimentos,  “a ocupação acontece em decorrência das seguidas ações policiais de repressão e da indisponibilidade da gestão pública de dialogar com a população”, disseram manifestantes. “Além disso, existe a iminente ameaça de internação compulsória de usuários/as de drogas sem os critérios de cuidado estabelecidos SUS, de acordo com a lei federal 10.216”. 

Brasileiros esteve na ocupação na tarde desta quinta-feira (25). A prefeitura estava cercada e manifestantes não permitiram a entrada de jornalistas no prédio da Secretária de Direitos Humanos, localizado ao lado. Uma das ativistas, que não quis se identificar, falou que a ocupação foi tranquila e não teve ação da polícia. Segundo ela, uma série de reuniões está sendo feita para decidir sobre a permanência da ocupação.  

Detalhe de faixa exposta em prédio após ocupação da Secretária de Direitos Humanos. Foto: Monique Oliveira/Brasileiros
Detalhe de faixa exposta em prédio após ocupação da Secretária de Direitos Humanos. Foto: Monique Oliveira/Brasileiros

Em nota lida na frente do prédio, representante do movimento “Craco Resiste” disse que manifestantes exigem acesso ao projeto “Redenção”, programa da gestão Dória voltado à recuperação de usuários da Cracolândia que vai substituir o programa “Braços Abertos”, da gestão anterior.

“É lamentável que tenhamos que ocupar o prédio da Secretaria para ter acesso a um programa que deveria ser público.”

“Não estamos aqui só contra a truculência policial, mas também contra a internação compulsória, já que a literatura científica mostra que essas medidas são insuficientes”, disse.

O movimento afirmou ainda que dias antes da ação da Cracolândia o lixo deixou de ser recolhido na Luz para criar uma imagem de que a região precisava de ação imediata. “Foi com uma jogada de marketing que se justificou o encarceramento de dezenas de pessoas”, disse o representante do movimento, por meio de nota.

Ativistas questionam ainda o valor pago por internação pela prefeitura, que dizem ser de cerca de R$ 1.300. A reportagem procurou a prefeitura para comentar as denúncias e aguarda retorno. 

Imagem divulgada nas mídias sociais  por movimentos que ocuparam prédio de Direitos Humanos da prefeitura. Reprodução Facebook Catso
Imagem divulgada nas mídias sociais por movimentos que ocuparam prédio de Direitos Humanos da prefeitura. Reprodução Facebook Catso

Cracolândia também era abrigo

Uma psicóloga do Programa Braços Abertos, ação da gestão anterior na Cracolândia, afirma que a região funcionava também como um centro de acolhida. Ela diz que ali também se concentravam pessoas em situação de rua que procuravam por refeições.  “Quando eles estavam no fluxo, eles tinham comida”, diz. “Muitas instituições faziam ações na região e nunca faltou comida lá. Eles sabiam até o horário de distribuição”, comenta.

“Com essa violência toda, eles estão sem comer. Ouvi de uma pastora que é líder no território que ela foi proibida de trazer comida para os usuários”, diz.  

“A jogada é essa. É deixar as pessoas no desespero para que troquem internação por comida.”


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