Achado de pai da medicina ajuda a descrever mecanismo da metástase

Quando Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, primeiramente descreveu o câncer em 400 A.C., ele se referiu a doença como “Karkinos” – palavra grega para caranguejo. O batismo era uma alusão ao fato do tumor ter uma parte bem dura que lembrava um crustáceo.

Tempos depois, cientistas descreveram outro atributo importante de tumores: eles são hipóxicos (não possuem oxigênio em seu interior). Isso ocorre porque eles se tornam tão grandes e densos que ficam sem vasos sanguíneos (são os vasos que transportam oxigênio).

Imagem conceito simula processo de metástase de tumores. Foto ilustrativa/Ingimage
Imagem conceito simula processo de metástase de tumores. Foto ilustrativa/Ingimage

Apesar de ambas as características dos tumores serem conhecidas da medicina, no entanto, muito pouco se sabe sobre as implicações disso. Mas uma pesquisa da Universidade de Stanford e da Clinica Mayo voltou à Hipócrates e mostrou a importância desse pioneiro achado.

Pesquisadores descreveram que, em tumores de mama, são esses dois fatores (a rigidez e a falta de oxigênio das células cancerígenas) que fazem com que o câncer se espalhe pelo restante do corpo – a chamada metástase. O estudo foi publicado no periódico Cancer Research.

Ilustração feita pela pesquisadora Celeste Nelson mostra dois tipos de tumores. Do lado esquerdo, células do câncer sem processo de metástase (ainda com oxigênio e mais maleáveis). Do lado direito, células rígidas e desprovidas de oxigênio em processo de espalhamento. Imagem cortesia da cientista
Ilustração feita pela pesquisadora Celeste Nelson mostra dois tipos de tumores. Do lado esquerdo, células do câncer sem processo de metástase (ainda com oxigênio e mais maleáveis). Do lado direito, células rígidas e desprovidas de oxigênio em processo de espalhamento. Imagem cortesia da cientista

Células rígidas e desprovidas de oxigênio são conhecidas por células-tronco do câncer. Elas representam em geral uma pequena parcela do tumor, mas pesquisadores acreditam que possuem um papel fundamental para que a doença se espalhe. Como as células-tronco normais ajudam a formar um embrião, essas células são especialistas na formação de estruturas malignas.

“Nosso estudo sugere que, para combater o câncer, tratamentos devem visar regiões rígidas e sem oxigênio de tumores”, disse Celeste Nelson, principal autora do estudo, em nota. “Ficamos surpresos ao ver a importância dessas duas propriedades.”

O estudo e a tentativa de impedir a metástase

Pesquisadores utilizaram culturas de células de câncer de mama humanas e de ratos. Com análise, eles descobriram uma associação entre uma proteína e a criação das células-tronco do câncer. A proteína é a ILK (sigla em inglês para integrin-linked kinase – em português, quinase acoplada à integrina).

Essa proteína geralmente auxilia as células em muitas funções importantes, mas nos tumores rígidos e sem oxigênio, a função dessa proteína da errado e promove o espalhamento do câncer.

É nessa estrutura que pode estar a chave para um novo tratamento. Uma segunda etapa da pesquisa foi desativar a ILK. Quando isso foi feito, pesquisadores perceberam que as células-tronco do câncer pararam de se formar.

Os resultados sugerem uma relação entre a ILK, a rigidez e a privação de oxigênio em tumores que podem formar o tripé para uma nova terapia contra a metástase.

Sobre o estudo: 

“Tissue stiffness and hypoxia modulate the integrin-linked kinase ILK to control breast cancer stem-like cells”, publicado em Cancer Research.


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