O engajamento político tem por gatilho fortes convicções morais e utopias – seja o indivíduo de esquerda, seja ele de direita – demonstram estudos da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Pesquisadores realizaram dois levantamentos diferentes, com 2.069 indivíduos, para estabelecer a relação. Outro ponto é que as pessoas são mais intensamente inclinadas a ações políticas se ela visa a “obter o bem”. Já a “prevenção do mal” não leva ao mesmo engajamento.
A pesquisa foi publicada online no Personality and Social Psychology Bulletin e sugere que esquerda e direita são motivadas pela ideia de um futuro melhor – e não para a prevenção de dias piores. Os estudos envolveram testes sobre dois temas que costumam dividir as duas correntes – as políticas sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo e a posse de armas no campus universitário.
Linda Skitka, professora de psicologia da Universidade de Chicago, e uma das autoras do estudo diz que, com base nos testes, os pesquisadores perceberam que aqueles que trataram os temas como questões morais estavam mais inclinados a se engajarem politicamente.
“O que explica essa conexão entre as convicções morais e o envolvimento político é a ideia de que benefícios podem ser alcançados se a causa apoiada se concretizar – e não os danos percebidos se ela não for aprovada”, diz Linda, em material de divulgação sobre a pesquisa.
No artigo, os pesquisadores discutem algumas concepções do que seria “a moral”. Ela pode dizer respeito à “intersecção de valores, práticas e mecanismos psicológicos que trabalham juntos para suprimir o egoísmo”.
Ou, na definição de outros autores, a moral tem por base atos de “repulsa” ou “evitação” e teria se originado de atos generalizados de “aversão”. Ainda, a moral pode estar ligada a um sentimento de “dever”.
Segundo os autores, essas teorias trabalham com a concepção de moral mais do ponto de vista “reacionário”, com atos voltados para evitar que algo aconteça, do que prescritivo, no sentido de a moral ser a base para a luta direcionada para algo venha a acontecer.
Mais recentemente, no entanto, outras evidências indicam que a moral pode ter, na sua base, tanto uma tendência a evitar que algo aconteça como o engajamento para que algo aconteça. É o modelo defendido por autores como Janoff-Bulman e Cannes, numa concepção que ficou conhecida como “theory of moral motives”.
Com essas definições, os cientistas, então, testaram se a moral política tende a ser mais reativa ou prescritiva – e estabeleceram que, no sentido do engajamento político, a moral tende a ser mais prescritiva. Ou seja, pessoas que se engajam politicamente tendem a ser influenciadas por uma ideia de mudança.
O achado de Linda contradiz o que outros estudos já relataram. Ela explica que outras pesquisas estabeleceram que as pessoas são mais inclinadas pela “aversão à perda” do que pela “busca de ganhos”. Esses estudos, no entanto, tinham por enfocavam mais as perdas materiais e econômicas.
O estudo poderá ser utilizado como um guia para políticas públicas e partidos, diz a psicóloga. “As pessoas estarão mais inclinadas a se voluntariar ou a votar se perceberem que aquela ação, de fato, vai levar a algo que elas acreditam ser bom”, diz.
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