Redução da maioridade e autoestima não combinam

O impacto da redução da maioridade penal na autoestima dos jovens pobres será, sem dúvida,
arrasador. Por que a autoestima importa? Porque está diretamente relacionada com os valores,  as crenças e as escolhas de vida desses jovens.

Hoje, 15% dos brasileiros com idade entre 10 a 19 anos vivem em favelas e estão expostos aos efeitos da miséria, da falta de escolas e de oportunidades de futuro e à violência policial contra o pobre. As consequências dessa soma de desamparos são conhecidas e estudadas: saúde precária, desenvolvimento físico comprometido, progressos cognitivos baixos, resultados escolares medíocres, transtornos de conduta, alto risco de delinquência e de uso de drogas.   

As marcas emocionais deixadas por toda essa situação são profundas. A maioria dos jovens que crescem sob essas condições se tornam reféns da crença de que as coisas boas da vida não são para eles, não estão e nem estarão ao seu alcance. Essa sensação é perpetuada pela falta de acesso a produtos e serviços que identificam socialmente o seu portador como um vencedor. Do tênis da moda aos carros e celulares etc. Quem não possui tais bens é um perdedor. No mesmo pacote, vem o sentimento de vergonha de si próprio. 

 Mesmo que seja vivida na intimidade e nunca exposta, a vergonha é sempre social. Ela é o laço que existe unindo todas as outras coisas que a pessoa é, mas não gostaria de ser: diferente, negro, gordo, feio, baixo, sem iPhone, sem carro novo, sem tênis de marca, pobre. Cada uma dessas nomeações preenche o lugar de um nome próprio e lembra ao jovem, cotidianamente, a sua condição de excluído. 

Do ponto de vista social, a vergonha é engendrada por uma condição de violência real ou simbólica ao psiquismo do jovem, que se sente impotente para reagir. Isso está relacionado ao fato de que os critérios para o nascimento dessa vergonha, como vimos, estão instalados no seu mundo mental. Internamente, ele acredita que são os seus valores. Os meios de comunicação participam dessa violência quando se colocam a serviço dos interesses de consumo do mercado. 

A redução da maioridade penal irá intensificar ainda mais a situação de vulnerabilidade desses jovens que, já frustrados nas suas perspectivas de futuro e com a autoestima  aos pedaços, serão colocados, ainda que em ala separada, em contato direto com as escolas do crime. O que se pode esperar dessa aproximação?

A sociedade brasileira, em vez de se omitir frente à redução da maioridade penal, deveria assumir a sua responsabilidade frente a esses jovens. Essa é uma condição primordial para diminuir a incapacidade de lidar com o problema. O que o jovem precisa, ao contrário da iniciativa de reduzir a maioridade penal e aumentar a exclusão social, é a inclusão social.

 


Comentários

4 respostas para “Redução da maioridade e autoestima não combinam”

  1. Avatar de Virnney Domingues
    Virnney Domingues

    Acredito piamente e, até quero corroborar com algumas idéias expostas acima, que
    seja rico ou pobre, quem teme a redução é quem tem má intenções na cabeça, quem tem inclinação a pratica do mal. A redução da maior idade penal para 16 anos, vai ser sim, uma maneira de refrear a violenta onda de crimes cometidos por alguns menores que cometem esses atos violentos em nenhum escrúpulo. Att. Virnney

  2. Avatar de Virnney Domingues
    Virnney Domingues

    Acredito piamente e, até quero corroborar com algumas idéias expostas acima, que
    seja rico ou pobre, quem teme a redução é quem tem má intenções na cabeça, quem tem inclinação a pratica do mal. A redução da maior idade para 16 anos, vai ser sim, uma maneira de refrear a violenta onda de crimes cometidos por alguns menores que cometem esses atos violentos em nenhum escrúpulo. Att. Virnney

  3. Avatar de Rafael José Caruccio
    Rafael José Caruccio

    Ana Olmos esqueceu que não necessariamente o jovem pobre se identificará na redução da maioridade penal. Talvez seja o jovem rico que se identifique. Não é questão de renda, e sim de índole. Seja rico ou pobre, quem teme a redução é quem tem má intenções na cabeça. No quadro exposto por Ana Olmos, o jovem pobre pensa: “ih, já que sou pobre, também sou um potencial criminoso”. Duvido que seja assim. Até o contrário, talvez a favela se livre de uma “praga” que enche o saco dos vizinhos e que todo mundo quer ver preso. Senhora Olmos, pobres não se vêem como criminosos!

  4. Avatar de Sidney Almeida Júnior
    Sidney Almeida Júnior

    Senhora Ana Olmos,
    E as vítimas? A senhora tem o mesmo pensamento dos parlamentares que defendem a maioridade penal como está, mesmo em caso de assassinato cruel, por motivo fútil sem defesa da vítima com um mero “Sinto muito”? Fica por isto mesmo? E a família da vítima? Quer dizer que o sujeito morre e tudo bem? Já era?
    O curioso é que a constituição do Brasil faz tudo para proteger a VIDA. Tem até aqueles que defendem a proibição do aborto mesmo se a mulher for estuprada, pois a defesa da VIDA está em primeiro lugar. Agora, na hora que uma pessoa é assassinada por um bandidinho de 16, 17 ou até 14 anos, dana-se? Já morreu mesmo não tem o que fazer?
    A senhora expôs uma série de elementos que explicam porque existem menores de 17 anos e 364 dias são violentos, revoltados sem autoestima, mas não justificam os assassinatos, os estupros, as torturas que os cidadãos de bem sofrem, e que não são os causadores da miséria deles.
    Sinceramente, eu me sinto no século da barbárie aqui nesse país. Att. Sidney

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.