Os falsos programas de descontos das drogarias

Quem precisa comprar um medicamento na farmácia sabe que não é raro o atendimento demorar mais do que gostaria. Não basta pedir e se direcionar ao caixa. É necessário escolher entre os remédios de referência, genéricos ou similares e entre os diversos fabricantes. Na hora de pagar, ainda será preciso conferir os vários programas de “descontos”: tem o da drogaria, o do plano de saúde, o do laboratório…

Sem querer alongar ainda mais a visita do leitor à farmácia, na última etapa  a do desconto – vale um olhar mais atento. Quando se pergunta o preço de um remédio na drogaria, a resposta nunca é simplesmente o valor do remédio. O funcionário é treinado para dizer que o medicamento tem um valor alto (o da tabela), mas que ele será vendido a um preço muito inferior com o desconto da farmácia. Tudo parece muito vantajoso, mas não se engane: o valor real sempre foi o do desconto. 

A estratégia ilude o consumidor. Diante de um suposto “bom desconto”, ainda mais em tempos de crise, é natural que o comprador se sinta motivado a levar o produto. Isso sem falar no fato de que as pessoas acabam comprando outros itens enquanto esperam na fila. Esse desconto, porém, é ilusório. E explico o porquê.

Falsas vantagens oferecidas pelas drogarias iludem o consumidor. Foto ilustrativa/Ingimage
Falsas vantagens oferecidas pelas drogarias iludem o consumidor. Foto ilustrativa/Ingimage

No Brasil, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) é o órgão público responsável pela regulação de preços e índices de reajuste dos medicamentos. A tabela de preços máximos dos medicamentos pode ser consultada pelo consumidor no site da Anvisa. Lá, são informados o “Preço Fabricante (PF)”, que é o teto do preço que o laboratório poderá cobrar da drogaria ,e também o “Preço Máximo para venda ao Consumidor (PMC)”, que é o teto que a drogaria poderá cobrar do consumidor pelo medicamento.

Note, leitor, que não se trata de um tabelamento de preços do governo, pois quem define esses preços são os laboratórios e as drogarias. A CMED é mera divulgadora da informação, já que não a questiona ou fiscaliza. Evidentemente que qualquer um que puder estabelecer o preço máximo de venda de seu produto informará um valor muito acima da realidade. Isso dá uma boa margem de manobra do preço sem que autorizações do governo sejam necessárias para aumentos que, porventura, possam ser convenientes ao negócio.

Além de ter uma ampla margem para escolher o preço, laboratórios e drogarias conseguem fazer uso dessa tabela irreal de preços para uma outra finalidade: criar programas de descontos que, na maioria das vezes, não são verdadeiros e ainda podem iludir o consumidor.

Pesquise antes de sair de casa

Mesmo com descontos que à primeira vista parecem excelentes, muitos consumidores acabam descobrindo que o mesmo remédio pode ser comprado por um preço mais barato em outra drogaria, em muitos casos, até no mesmo bairro.

Quando se trata de medicamentos de baixo custo, o prejuízo pode não parecer tão evidente. Mas quando o remédio é caro, essa diferença pode pesar no bolso.

Por exemplo, o medicamento quimioterápico de referência, que adota o nome comercial Xeloda®, do laboratório Roche, na versão de 120 comprimidos com 500mg recebeu na tabela de preços do governo o PMC de R$ 3.289,98 para os Estados em que o ICMS sofre tributação de 18%.

Em pesquisa realizada no site “Consulta Remédios” , em 10 de agosto, esse quimioterápico está sendo vendido nas drogarias de São Paulo por um preço que varia entre R$ 2.360,00 e R$ 2.900,00. É uma diferença de R$ 540,00.

Mas, mesmo na drogaria que vende o remédio pelo maior preço (R$ 2.900,00), o consumidor receberá a informação de que o medicamento custa R$ 3.289,98 (PMC da tabela), mas que, com o desconto, pode ser comprado por R$ 2.900,00 – diferença de R$ 389,98.

Aparentemente, o consumidor estaria economizando R$ 389,98, mas, na prática, pagaria R$ 540,00 mais caro do que se tivesse ido ao local com menor preço. Assim, vale a pena fazer pesquisa antes mesmo de sair de casa. Há diversos sites que realizam comparação de preços de medicamentos na internet.

Ainda, é recomendável que o consumidor, antes de se dirigir a uma drogaria, já saiba qual é o preço máximo permitido (consulta pode ser realizada aqui). Também vale dar uma conferida na internet para saber a média de preço do remédio no mercado. 

Medicamento de referência, similar ou genérico?

 Uma outra maneira de encontrar o melhor preço é pesquisar se vale a pena optar pelo medicamento genérico ou similar. Muitos pacientes questionam a diferença entre essas categorias e o remédio de referência (de marca).

Em resumo, o medicamento de referência é o original. É aquele cuja fórmula foi desenvolvida e testada pelo laboratório fabricante e teve sua eficácia comprovada através de todos os testes exigidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). 

Já o medicamento genérico e o similar são cópias do medicamento de referência e a Anvisa assegura que ambos foram testados e são equivalentes ao medicamento de referência. O conceito de cada tipo de medicamento está disponível no site da Anvisa.


Comments

2 respostas para “Os falsos programas de descontos das drogarias”

  1. Avatar de Farmácia Apotheke
    Farmácia Apotheke

    A melhor economia é sempre a informação!

    Um modo adicional que o paciente pode fazer para economizar é
    verificar se existe um medicamento – Clone – daquele que foi prescrito ou que faz uso.

    Veja o que a ANVISA descreve sobre medicamentos clones:

    “para petições de concessão, renovação e alterações no registro de medicamentos, que possuam o mesmo fabricante, mesmos relatórios técnico e clínico, mesma composição, porém com diferentes detentores de registro, ….”.

    Ou Seja, o Medicamento Clone é o mesmo medicamento registrado inicialmente, contudo comercializado com outra marca ou como Genérico, pela mesma empresa ou por uma terceira.

    Segue alguns exemplos de medicamentos e seu Clones.

    Selozok 50 mg x 30 comp – Fabricado e comercializado pela AstraZeneca – PMC (ICMS 17%) R$ 51,72.

    Metoprolol succinato – Medicamento Genérico, Fabricado pela AstraZeneca e comercializado pela Medley R$ 33,62.

    Sinot Clav 875+125mg x 20 comp; Medicamento Similar fabricado pela
    Eurofarma PMC = R$ 102,95.

    O Mesmo Medicamento na embalagem Genérica R$ 181,20.
    Cialis 20mg x 2 comp – fabricado pela empresa Eli Lilly – PMC R$ 103,71

    Tadalafila 20mg x 2 comp – Medicamento Genérico Fabricado pela Eli Lilly e comercializo pela Sandoz do Brasil PMC R$ 64,47

    E o mais interessante é que segundo a legislação Brasileira, se um Médico prescrever na sua receita que o medicamento não pode ser intercambiado, o Farmacêutico não poderá trocar o medicamento prescrito pelo seu clone, apenas de ser o mesmo medicamento!

    Luis Everton Esmeraldino,

    Doutor em Fármacos e Medicamentos FCFRP/USP – Ex: Consultor técnico ANVISA,
    Assuntos Regulatórios Zodiac e GlaxoSmithKline.

  2. Gostaríamos de agradecer ao Dr. Rodrigo Araújo pela a menção do nosso portal nesta matéria, ficamos honrados. As palavras do Dr. refletem a realidade atual do varejo, e pesquisar os preços antes da compra é o melhor “remédio”. Aproveitamos para nos colocar a disposição deste excelente portal que, assim como nós, preocupa-se qualidade de vida de todos nós, brasileiros.

    Muito obrigado.

    Paulo Vion e equipe CR
    CEO, Consulta Remédios

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