Uma biópsia da cidade de São Paulo, por quem a ama

Como médico patologista, costumo analisar a cidade de São Paulo como um ser vivo que ao longo dos seus 461 anos de vida acumulou algumas doenças e disfunções. 

Ao considerarmos cada bairro como um órgão e nós, seus habitantes, como as células que constituem os órgãos-bairro, coloco-me na zona de conforto que me permite analisar o tecido urbano sob a ótica de um microscópio urbano.

Os diagnósticos são variados. Obesidade é um deles. A cidade cresceu mais do que o seu esqueleto e articulações não conseguem suportar, vergando-se ao excesso de peso e de prédios.

Alopécia, representada pela expressiva destruição da sua cobertura vegetal, é outro achado importante.

Importantes também o são a bronquite crônica, resultado de anos de inalação de um ar poluído, como também a insuficiência renal, definida pela incapacidade de excretar os resíduos de seu metabolismo de forma adequada e eficiente.

Ressalta-se também nesta área episódios de diarreia a contaminar os rios que banham o corpo do paciente.

Ao utilizar de forma pouco eficiente a energia, confirmamos o diagnóstico de diabetes provocado pelo desperdício de glicose, petróleo e eletricidade.

Episódios de hemorragia fazem sangrar os vasos internos, fazendo perder muito da água vital para o funcionamento do seu corpo, caracterizando anemia.


A lentificação do fluxo de suas artérias viárias, entupidas por trombos congestionados definem o quadro de trombose e insuficiência cárdio-circulatória. Por vezes, o paciente apresenta episódios de edema e inundações quando exposto à chuva.


De forma mais íntima, pode-se acrescentar o diagnóstico de impotência para fazer as políticas certas.


Finalmente, acrescenta-se o diagnóstico de mal de Alzheimer político, dado que os neurônios dirigentes esquecem rapidamente os compromissos assumidos na certeza de que o quadro clínico acima exposto não irá se deteriorar substancialmente até as próximas eleições.


Este é o relatório patológico de uma cidade.
Para variar, os patologistas fazem o diagnóstico mas não sabem tratar o paciente. Apenas informam e esperam que uma terapêutica eficiente seja rapidamente administrada para a cidade que tanto amamos.


Comentários

Uma resposta para “Uma biópsia da cidade de São Paulo, por quem a ama”

  1. Isaías 32:17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre.

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